Mesmo com saques do FGTS, índice de inadimplência continua subindo
Com perda da capacidade de pagamento, famílias ficam mais endividadas
A propagada redução dos índices da inadimplência decorrente dos saques das contas inativas do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) não se confirmou. Pelo contrário: os números de endividamento estão aumentando mesmo com o dinheiro extra do FGTS. De acordo com a ACICG (Associação Comercial e Industrial de Campo Grande), a quantidade de dívidas acrescidas apenas em março e abril, no comércio da Capital, é de 4,9 mil títulos.
Os saques das contas inativas do FGTS tiveram início em março e já foram liberados três lotes. Até abril, 167 mil trabalhadores já tinham sacado R$ 213,6 milhões. Quanto ao terceiro lote, a Caixa Econômica Federal ainda não tem balanço, mas a estimativa é de R$ 146,15 milhões destinados a 138.445 pessoas. No total, os valores das contas inativas somam, conforme projeta o governo federal, R$ 564 milhões em Mato Grosso do Sul. São 537.247 trabalhadores com direito a sacar o dinheiro.
De acordo com a expectativa do governo, esse rendimento adicional seria usado pelos brasileiros para regularizar as dívidas e reduzir os índices de inadimplência. Entretanto, em Campo Grande, houve aumento, apenas no mês passado, de 2,7 mil títulos, o maior crescimento desde janeiro de 2016, conforme a ACICG.
O INC (Índice de Negativação do Comércio), calculado pela ACICG, marcou 32 pontos em abril, acima do indicador de igual mês de 2015 (30 pontos). Já o IRC (Índice de Recuperação do Comércio) – indicador que mede o pagamento de contas em atraso – caiu para 35. A redução é de 37 pontos desde dezembro de 2016.
Isso significa que as pessoas estão ficando mais endividadas e não estão conseguindo pagar as dívidas antigas. “Está claro o esgotamento da capacidade das famílias para honrar suas dívidas”, afirma o relatório da ACICG.
Sem atacar o problema – Na avaliação do presidente do Corecon/MS (Conselho Regional de Economia de Mato Grosso do Sul), Thales de Souza Campos, medidas, como a da liberação de recursos das contas inativas do FGTS, são paliativas e não atingem as causas do problema da inadimplência.“O endividamento e o desemprego são muito altos. Medidas como essas não resolvem. É uma ilusão muito grande”, comenta o economista.
De acordo com ele, o problema se centra no no chamado “Custo Brasil”. “O Custo Brasil é muito alto. O poderes Executivo, Judicário e Legislativo gastam muito e não há produção que aguente para pagar essa conta”, disse.
Ele acrescenta que essa situação é agravada pelos custos representados pelos desvios de dinheiro. “A corrupção representa outro custo grande”, completa. “Se isso não for resolvido, não adianta nenhuma medida. Nenhum projeto vai resolver os problemas da economia, como a inadimplência das famílias se não atacarem a causa”, conclui.