Pix e cartão "reinam" e para conseguir troco vale até amizade com o chipeiro
Com 70% pagando com cartão ou pix, comerciantes correm atrás de troco quando alguém paga em dinheiro
Ainda tem gente com medo do pix, mas, mesmo assim, ele reina ao lado do cartão de débito e crédito no comércio da Capital. Tem comerciante que precisou fazer amizade com vendedores do Peg Fácil e com o chipeiro da rua para conseguir cédulas e moedas para dar de troco quando alguém paga no dinheiro. Isso porque 70% dos clientes pagam com cartão ou pix e até o comerciante da cidade famoso por não aceitar cartão, o Thomaz Lanches, se rendeu ao débito.
“É um caminho sem volta”, resume o gerente Eduardo Thomaz, de 25 anos. Ele conta que só resolveu aceitar cartão de débito por causa da pandemia, mas já se acostumou porque apenas cerca de 30% paga no dinheiro hoje em dia.
“De manhã, pagam mais em dinheiro porque são compras de menor valor, geralmente. A gente não aceita cartão de crédito porque não vê necessidade mesmo. As pessoas que compram aqui já estão acostumadas a pagar no dinheiro, débito ou pix. Aderimos ao cartão porque durante a pandemia os bancos fechavam e trabalhar só com dinheiro ficou difícil”, lembra o gerente.
Em uma loja de tecidos ali pertinho a história é outra. Tem gente que paga R$ 2 no cartão ou pix.
A maioria não quer saber de dinheiro, mas vira e mexe chega um cliente, quase sempre idoso, com uma nota de R$ 50 ou R$ 100. Aí, a caixa “usa um truque”, nas palavras dela.
“Já fiz amizade com as vendedoras do Peg Fácil para conseguir dinheiro e com o chipeiro para conseguir moedas para fazer o troco para o cliente”, conta a caixa bem-humorada, Kelcilene de Souza, de 32 anos, sobre a saga pelo troco.
Proprietária de uma ótica há 18 anos, Márcia de Oliveira, de 43 anos, também fala em cerca de 70% dos clientes preferindo pagar com cartão ou pix.
“Demorou a aderirem ao pix, tem gente que ainda tem medo a gente também confere para se precaver de golpe, mas é o futuro. Vai chegar o dia que ninguém vai ter mais dinheiro no bolso. Aqui mesmo, quase não temos troco. Temos que correr nas lojas vizinhas quando precisamos trocar", conta.
Na carteira dos clientes, de fato, dinheiro virou coisa rara. Clientes do Thomaz há anos, a confeiteira Kathiussy Sarmento, de 36 anos, e o bombeiro militar Renato Santos, de 41, adoraram que a loja passou a aceitar cartão.
“Agora, a gente só vem aqui para comer lanche, pela qualidade e também porque passa cartão, pelos dois”, comenta, sem nenhum tostão no bolso.
Renato leva uns trocados, mas só porque recebe dinheiro de amigos do grupo de vôlei. “Temos um grupo e aí pego dinheiro, mas não saco para usar no dia a dia. É só cartão”, diz.
Após mais de um ano em funcionamento, os comerciantes confirmam que o pix virou hábito. Em Mato Grosso do Sul, 94% dos pequenos negócios aceitam pagamento por pix, segundo pesquisa realizada pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) em parceria com a FGV (Fundação Getúlio Vargas).