ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SEXTA  22    CAMPO GRANDE 32º

Economia

Preço de alimentos deve subir com guerra na Ucrânia, diz ministra da Agricultura

A Rússia é um dos principais fornecedores de fertilizantes no mundo e os preços do insumo também devem subir

Adriano Fernandes | 02/03/2022 20:41
Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, durante evento na Capital. (Foto: Kísie Ainoã)
Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, durante evento na Capital. (Foto: Kísie Ainoã)

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou nesta quarta-feira (2) que o preço dos alimentos deve sofrer uma alta, por conta da guerra na Ucrânia. "Isso tudo [essa alta dos alimentos] depende. Se a guerra acabar hoje ou amanhã, é um impacto [aumento de preço menor]. Se continuar por mais tempo, é outro", disse a ministra.

A Rússia é um dos principais fornecedores de fertilizantes no mundo e os preços do insumo devem subir por conta das dificuldades logísticas causadas pelo conflito e das sanções aplicadas por Estados Unidos e aliados. Segundo a ministra, a estratégia do governo para evitar reajustes elevados será a diversificação de fornecedores de adubos e fertilizantes.

"A gente tem que diminuir esses impactos, achar alternativas para ter o fornecimento. O preço [quem faz] é o mercado. O trigo subiu nas alturas porque a a Ucrânia é um grande produtor. Hoje o mundo é globalizado. O preço [dos alimentos] a gente acha que terá uma alta. A soja subiu, caiu um pouco depois. O milho subiu e caiu depois. Isso é uma commodity. Temos de acompanhar e diminuir os impactos", complementou.

Ainda conforme publicação do site Folha de São Paulo, para a safrinha, como é conhecido o plantio do milho no meio do ano, a ministra afirmou que os produtores possuem fertilizantes em estoque. Ainda segundo a chefe da pasta, os importadores têm nos armazéns os chamados estoques de passagem (as sobras da última safra e os insumos que ainda precisam ser desembarcados). Especialistas estimam que esse estoque seja da ordem de 7 milhões de toneladas.Procurada nesta quarta, a Anda (Associação Nacional para a Difusão de Adubos) não se manifestou.

Nos últimos anos, diversos fatores passaram a sinalizar uma escassez no fornecimento de fertilizantes —com impacto sobre os preços—, como a retomada das economias de Estados Unidos e China após a retração da pandemia; uma crise energética chinesa e a falta de contêineres no mercado de transporte marítimo.

Também impactou o pacote de sanções aplicado contra Belarus —outro importante fornecedor— pela União Europeia desde o final de 2020. O bloco acusa o líder do país, Aleksandr Lukashenko, de ter fraudado as últimas eleições presidenciais.

No ano passado, os fertilizantes russos representaram cerca de 22% do total importado pelo Brasil. No caso dos insumos potássicos, a Rússia é o segundo produtor mundial.Com a deflagração da guerra na Ucrânia, a tendência é que a situação se agrave e que seja mais difícil acessar fertilizantes no mercado internacional.

A principal preocupação é com os insumos feitos com base no potássio, uma vez que a produção internacional é concentrada em Rússia, Belarus e Canadá. Com a imposição de sanções contra Rússia e Belarus pelos Estados Unidos e aliados, a busca do produto nesses países fica prejudicada e mais cara.

Algumas transportadoras internacionais já anunciaram a suspensão de encomendas de cargas russas. Além do mais, as punições contra o sistema bancário do país podem dificultar as transações de compra e venda dos produtos —bem como a celebração de contratos de seguros.

De acordo com interlocutores, é improvável que a Rússia fique totalmente impossibilitada de vender seus fertilizantes. O país conta com um frota própria de cargueiros que, em tese, podem continuar realizando transporte marítimo.

Mas especialistas temem que, mesmo nesse cenário, as sanções americanas possam criar obstáculos para o reabastecimento desses navios no destino —como ocorreu com embarcações iranianas que ficaram paradas no Brasil em 2019.

Sob condição de anonimato, um diplomata afirma que sanções não impedem o comércio internacional, mas fatalmente deixam esse intercâmbio mais caro. Diante do cenário, o Ministério da Agricultura vem adotando medidas para tentar diversificar os fornecedores de fertilizantes ao país, ainda conforme a reportagem da Folha de São Paulo.

Na viagem de Tereza ao Irã, a ministra recebeu a avaliação de que era possível aumentar as vendas para o Brasil apenas de fertilizantes nitrogenados (ureia). Por outro lado, especialistas afirmam que a principal dificuldade do Brasil será garantir o acesso a fertilizantes feitos com base no potássio, um mercado muito mais concentrado.

Além do mais, mesmo ampliação das vendas iranianas depende de logística. O estabelecimento de linhas regulares de transporte, por exemplo, ainda espera garantias do governo Bolsonaro de que navios do país persa não ficarão sem apoio e combustível nos portos brasileiros, também por conta de sanções dos EUA.

Outra ação preparada pelo Planalto é o lançamento de um plano nacional de fertilizantes.

O projeto tem dois pilares: reduzir a dependência do mercado internacional e criar mecanismos para que não haja excessiva variação de preços para o consumidor nacional.

A elaboração de uma estratégia de longo prazo está sendo coordenada pela SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos) desde o início de 2021, a partir da leitura de que eventos como as sanções contra Belarus poderiam afetar a cadeia de fornecimento ao país.

"Tínhamos que fazer uma política nacional para mudar essa dependência das importações. Não vamos ter autossuficiência, mas [vamos] mudar essa matriz", declarou Tereza Cristina.

As sanções contra Belarus são anteriores à eclosão da guerra e culminaram, no início de fevereiro, na suspensão das vendas de fertilizantes do país europeu ao Brasil.

"Em 1º de fevereiro de 2022, devido a jogos políticos, o governo do pequeno país da Lituânia, nosso vizinho com 2,7 milhões de habitantes, proibiu o trânsito de fertilizantes potássicos belarussos por razões espúrias através do porto marítimo de Klaipeda", disse o embaixador de Belarus no Brasil, Sergey Lukashevich

"As restrições dos EUA ao potássio belarusso não têm nada a ver com a situação atual na Ucrânia, é uma longa história: é o resultado da pressão sobre a Belarus após a eleição em nosso país em agosto de 2020."

De acordo com interlocutores, não há expectativas da retomada do fornecimento de potássio belarusso pelos próximos 12 meses, pelo menos.

Nos siga no Google Notícias