Queijo "mete a faca" em consumidor, sob justificativa da seca
O preço do quilo do queijo está nas alturas e quem usa para lanches ou pizzas está sentindo doer no bolso
Quem compra em mercado ou loja de frios está, no mínimo, assustado com o aumento crescente do valor do queijo, em especial o muçarela, de maior saída. Usado do café da manhã a pratos do almoço ou jantar, o campo-grandense tem sentido doer o bolso quando vai às compras.
Proprietária de uma casa de laticínios no Tiradentes, Elaine Corrêa explica que já é previsto um aumento na época de estiagem, mas que até quem está acostumado, fica surpreso. Desde fevereiro, ela sentiu o aumento gradativo. "Era 29,90 o quilo da muçarela aqui, agora 42,90. O preço subiu e acho que a pandemia também influenciou e, infelizmente, temos que repassar aos clientes", justifica.
Se de um lado o preço subiu, houve produto que até sumiu da loja. O queijo fresco, foi um deles. "Tínhamos um fornecedor que sempre trazia e ele sumiu, disse que não tinha como e nós ficamos sem o produto mesmo", conta.
Com a volta das chuvas, inclusive a de hoje, o mercado espera que os preços melhores. "Agora com a chuva, estamos crentes que vai baixar o valor", espera Elaine.
Esperança que também é compartilhada pelo sócio-proprietário da Hamburgueria dos Amigos, Bruno Medeiros. Quatro meses atrás, eles pagavam 28 reais no quilo do queijo. "E foi aumentando. Cada semana que eu ia fazer o pedido, o fornecedor me avisava: 'olha, teve aumento de novo'. De 28 reais foi para 29, que foi para 30 e hoje a gente paga 34 reais", descreve.
Os seis reais faz muita diferença. "A gente tem pegar duas vezes por semana, é uma diferença considerável e, infelizmente, não conseguimos segurar o preço que tínhamos no começo", resume.
Pesado também está para as pizzarias, que têm a muçarela como ingrediente principal. "Eu assustei", responde o sócio-proprietário da Pizza Tour, Carlos Eduardo Hora. Quando ele abriu o negócio, dois anos atrás, o quilo da mussarela custava R$ 13,90 . "Hoje o mesmo quilo passa de 40 reais", compara.
Geralmente, a partir de julho, os proprietários da pizzaria já preveem um aumento por conta da falta de chuva. "É normal ter este aumento, mas era coisa que oscilava 3 reais e depois voltava a cair, neste ano, não sei se a seca foi pior, mas aumentou absurdamente", acredita Carlos.
"De um dia para o outro" - Foi assim que a pizzaria de Carlos Eduardo se vê surpreendida com o aumento. "A gente vinha pagando R$ 23,90 num dia e no outro foi para R$ 38". Isso aconteceu três meses atrás, quando ele e o sócio viu subir todas as marcas. Na tentativa de não repassar ao cliente, eles veem cair a margem de lucro.
"A muçarela é o que vai mais na pizza e como usamos uma quantidade boa, se aumentar R$ 15,00 como aumentou, vai dar uma diferença de R$ 5,00 na pizza, que a gente tenta não repassar", fala.
Em outra loja de frios, a atendente informa que bastou a chuva não dar às caras que os laticínios sobem e que este ano, também tem o reflexo da pandemia. A explicação que também é dada quando os clientes questionam o valor.
Explicação - Segundo o analista técnico do Sistema Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária Mato Grosso do Sul), Juliano Bastos, o período de seca é marcado também pela escassez de alguns alimentos que são base para bovinocultura de leite no Estado, como as forrageiras tropicais, situação que acaba impactando no sistema de produção a pasto, levando à diminuição do volume de leite.
"Dessa forma, os produtores de leite precisam aumentar as despesas para suprir as necessidades nutricionais dos animais, ofertando fontes alternativas de volumosos juntamente com a ração. Esse cenário eleva os preços dos produtos lácteos, em razão da combinação de oferta restrita pelo baixo volume de produção e demanda aquecida devido à retomada das atividades econômicas, o que engloba as atividades de lanchonetes e restaurantes, onde é significativo o consumo de lácteos como queijos", explica.
A pandemia também tem sua contribuição no aumento do preço, por ter influenciado o comportamento de praticamente todos os empreendimentos relacionados a produção de alimentos. De forma geral, os produtores rurais se preparam para amenizar os impactos do período de estiagem, entretanto, em 2020, a seca está ainda mais intensa. "Além disso, temos os diversos desafios registrados durante a pandemia em praticamente todos os setores produtivos", analisa.
Com a regularidade das chuvas a partir deste mês de outubro, já é esperado um aumento da produção das forragens tropicais e com isso uma possível baixa já pode ser prevista. "Com as condições climáticas favoráveis, os pastos voltam a brotar com mais vigor, melhorando a quantidade desse alimento volumoso e da qualidade da produção de leite. Com isso, a tendência para os produtores é que haja redução com os custos de produção e, consequentemente, nos preços dos produtos lácteos", finaliza Juliano.