Sob risco de novos fechamentos em MS, Justiça negocia despejos das Americanas
Varejista já pediu redução de aluguel em shoppings, fechou a primeira unidade e deve a 49 credores do Estado
A situação das Lojas Americanas em Mato Grosso do Sul não está muito diferente da crise financeira ocorrida nacionalmente. Além de pedido para baixar o valor de aluguéis no Estado e dívidas com fornecedores, o Sindicato dos Empregados do Comércio de Campo Grande teme o fechamento de mais duas lojas na Capital. A unidade, localizada na Rua 14 de Julho, região central de Campo Grande, é a primeira que teve as atividades encerradas no Estado.
“Em meio a vários fatores, tudo indica que há esse risco. O pessoal está apreensivo, com medo de perder o emprego, mas a empresa garantiu que nenhum funcionário será demitido, até o momento foi cumprido. A empresa está pagando certinho, está tudo correto, tudo em dia”, disse o sindicato, em nota.
Diante disso, conforme informado pelo jornal O Globo, para tentar amenizar a situação, o juiz Paulo Assed Estefan, titular da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, nomeou três mediadores para buscar por uma solução para 16 ações de despejo contra o Grupo Americanas.
A equipe de reportagem entrou em contato com a Americanas para saber sobre o cenário da empresa em Mato Grosso do Sul e a possibilidade de mais fechamentos.
“A Americanas S.A. informa que o encerramento das atividades da loja localizada na Rua 14 de Julho, no Centro, em Campo Grande (MS) faz parte do plano de transformação da companhia, que prevê ajustes imediatos e de curto e médio prazos com foco na rentabilidade e otimização do negócio”, disse em nota.
Além disso, informou também que conta com cerca de 1.800 lojas e que a reavaliação de mix de produtos, gestão, espaço e lucro das unidades, entre outros fatores, é uma dinâmica comum a todo o varejo e pode levar à readequação ou, em último caso, ao fechamento de loja.
“Os clientes poderão continuar adquirindo produtos e serviços disponíveis em diversas unidades próximas e também no site e app da marca. A companhia também ressalta que continua comprometida com os seus credores para a construção de um consenso sobre o Plano de Recuperação Judicial, ainda sujeito a revisões e ajustes, e que busca um plano que reflita visões compartilhadas e atenda seus stakeholder”, completou.
Situação precária – Na loja localizada no Bosque dos Ipês, a situação não é das melhores. Prateleiras vazias, poucos funcionários e itens desorganizados já dão sinais de decadência.
No fim da manhã desta terça-feira (20), nenhum cliente estava na loja. No caixa, apenas um funcionário atende.
Na sessão dos doces, é possível escolher os chocolates à dedo, já que tem poucas opções. Na parte da papelaria, os itens que restam estão bagunçados, mostrando que não tem quem possa organizar.
Em nota, o shopping nega o fechamento da unidade. "Comunicamos que a informação de fechamento da unidade das Lojas Americanas no Shopping Bosque dos Ipês não procede", disse.
Redução de aluguéis – Em fevereiro, a Americanas pediu na Justiça redução no valor do aluguel de dois shoppings de Campo Grande.
No Bosque dos Ipês, o pedido era que o valor saísse de R$ 23,5 mil para R$ 15 mil. No entanto, em abril, a empresa desistiu da ação que pedia a redução. A manifestação foi apresentada no último dia 10 de abril à 10ª Vara Cível, onde o processo tramitava.
“Americanas S.A. – em recuperação judicial, (…) vem, por seu advogado abaixo assinado, informar que não possui mais interesse em seguir com a presente ação judicial, motivo pelo qual requer a desistência da demanda, com a extinção do feito sem resolução do mérito”, diz o pedido. O motivo da renúncia não foi explicado.
Já no Shopping Campo Grande, diante do pedido da baixa no valor do aluguel, foi realizada perícia em março, identificando defasagem de R$ 10 mil no valor.
Os dois shoppings informaram que não vão comentar sobre esta situação específica.
Outras dívidas – A Americanas também deve, pelo menos, R$ 253 mil em ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para Mato Grosso do Sul, desde 2014. O montante é referente a uma loja instalada no shopping de Dourados.
Em Campo Grande, a loja localizada na Rua Marechal Rondon, no centro da cidade, tem débito de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) com a prefeitura, desde 2020.
Além disso, a varejista também tem lista de dívidas com dezenas de empresas de Mato Grosso do Sul, que aguardam o pagamento. A informação é que seriam pelo menos 49 fornecedores, com o valor de R$ 30 milhões.
Entenda – No dia 11 de janeiro, a empresa divulgou identificação de “inconsistências contábeis” que inicialmente somavam R$ 20 bilhões. Logo depois, o valor mais que dobrou, chegando a R$ 43 bilhões. No dia 19, a Justiça carioca aceitou pedido de recuperação judicial da rede.