Trabalhador ganha quase cinco vezes menos que o necessário para sobreviver
Inflação já acumula 3,98% em 12 meses; fator que também corrói o poder de compra
Quem consegue viver com um salário mínimo, de R$ 1.320, e ainda atender todas as necessidades do dia a dia? Essa tarefa é praticamente impossível, se considerar o custo de vida. O valor é quase cinco vezes menor do que o ideal para sobreviver, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
Em agosto, o salário necessário divulgado pelo Dieese foi de R$ 6.389,72 para uma família de quatro pessoas conseguir suprir os gastos com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, por exemplo.
A cada mês, o departamento reajusta o mínimo necessário. Em janeiro, era de R$ 6.641,58; fevereiro, R$ 6.547,58; março, R$ 6.571,52; abril, R$ 6.676,11; maio, R$ 6.652,09; junho, R$ 6.578,41; julho, R$ 6.528,93; e em agosto passou para R$ 6.389,72.
Na visão do economista Lucas Mikael, na prática, não dá para viver com R$ 1.320, ainda mais se tiver que sustentar uma família. “Temos um economia bastante fragilizada, que tem se recuperado esse ano, mas encontra grandes desafios. É impossível falar que na prática dá pra viver com o salário mínimo. É importante demonstrar a dificuldade e os desafios que uma família enfrenta para viver com os R$ 1.320 do salário mínimo atual”, pontua.
O profissional também avalia sobre a renda ideal para suprir as necessidades básicas. “O cálculo do salário mínimo necessário é uma análise que demonstra os preços médios e os compara com a jornada do trabalhador para adquirir os itens básicos, mas ele não é um fator determinante para o reajuste do salário mínimo. No caso, o salário calculado seria a renda mínima para uma família com dois adultos e duas crianças viverem em condição minimamente aceitáveis de alimentação, vestimenta e lazer”, destaca.
Conforme o Projeto da Lei Orçamentária de 2024, está previsto que o salário mínimo seja de R$ 1.421. O novo valor é apenas R$ 101 ou 7,64% a mais que o que está vigente.
A autônoma Luciene Oliveira, de 35 anos, é a prova viva de que não dá para viver com R$ 1.320, mesmo não precisando pagar aluguel, nem água e luz. De segunda a sexta, ela sai da Aldeia Cachoeirinha, em Miranda, e vai vender legumes e frutas no Centro de Campo Grande.
Para isso, precisa pagar R$ 80 para usar o ônibus de ida e volta. Em contrapartida, por dia, ela vende cerca de R$ 100 a R$ 150, ou seja, só consegue lucrar entre R$ 20 e R$ 70 diariamente. Por mês, dependendo das vendas, sobra R$ 1.400 para sustentar os sete filhos.
“É bem difícil, complicado. Eu só gasto com compra, gás e remédio quando precisa, e não dá para sobreviver no mês. Só de compra é quase mil reais, porque tenho sete filhos para sustentar”, disse.
A auxiliar de limpeza Deiva da Silva, de 40 anos, também sente dificuldade. Ela ganha um salário mínimo na carteira, mas o que salva no mês são os incentivos da empresa para quem tem pontualidade.
“Não dá para viver. Tenho gasto com aluguel, água, luz, compra. Melhora um pouco porque o serviço dá um incentivo financeiro, mas mesmo assim é complicado”, comenta.
Inflação – A inflação também é a grande vilã do poder de compra do consumidor. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de Campo Grande foi de 0,27% em agosto. O acumulado de 12 meses é de 3,98%.
“A palavra inflação é usada para explicar o aumento no preço de produtos, de aluguel, de salários e também é o motivo pelo qual o poder de compra diminui em alguns momentos. Resumidamente, a inflação indica o aumento generalizado ou contínuo dos preços de uma série de categorias de bens e serviços importantes no dia a dia dos consumidores”, explica o economista.
Dos nove itens pesquisados, oito tiveram aumento. Habitação, 1,06%; artigos de residência, 0,99%; vestuário, 0,31%; transportes, 0,84%; saúde e cuidados pessoais, 0,97%; despesas pessoais, 0,34%; educação, 0,78%; e comunicação, 0,11%. Único grupo que teve queda no mês passado foi o de alimentação e bebida, 1,50%.
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