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Educação e Tecnologia

Para não perder língua materna, indígenas terão material de apoio para ensino

Cartilha com identidade dos povos originários de Mato Grosso do Sul será produzida para ensino fundamental

Por Gabriela Couto | 18/12/2023 17:57
Professora indígena alfabetizando criança na língua portuguesa na Escola Municipal Indígena Araporã, na Reserva Indígena de Dourados (Foto: Paula Maciulevicius)
Professora indígena alfabetizando criança na língua portuguesa na Escola Municipal Indígena Araporã, na Reserva Indígena de Dourados (Foto: Paula Maciulevicius)

A dificuldade de encontrar material didático para ensinar as novas gerações dos povos originários fez com que o professor Joaquim Paulo de Lima Kaxinawá,  o Joaquim Maná, do Território Indígena Praia do Carapanã, localizado em Tarauacá, no Acre tem fomentando a criação de cartilhas e livros com a língua materna das etnias do país.

Mestre e doutor em linguística, PhD em linguagem e identidade, ele é autor de livros e cartilhas, dedicando-se à produção de materiais didáticos para alfabetização e letramento indígena. Nos últimos anos, tem se dedicado na expansão da ideia para outros territórios.

Em Mato Grosso do Sul, por meio do Projeto MS Alfabetiza Indígena, já foi iniciado uma parceria para produção de material de apoio para alfabetização em língua materna, em reconhecimento à organização social, costumes, línguas, crenças e tradições dos indígenas, por meio de adaptação linguística de livros correspondentes ao primeiro e segundo ano do ensino fundamental, para línguas indígenas: Terena, Kadiwéu, Guarani e Kaiowá.

Para nós, a escola é todo o espaço da aldeia, e as práticas culturais têm seus tempos e os locais para acontecerem. Um sábio na sala de aula convencional não poderá mostrar nada”, diz Joaquim Maná (Foto: Leilane Marinho/CPI-Acre)
Para nós, a escola é todo o espaço da aldeia, e as práticas culturais têm seus tempos e os locais para acontecerem. Um sábio na sala de aula convencional não poderá mostrar nada”, diz Joaquim Maná (Foto: Leilane Marinho/CPI-Acre)

O termo de cooperação conta com ajuda de instituições nacionais que vão auxiliar a colocar a ideia em prática. São elas Associação Bem Comum, Instituto Lemann e Instituto Natura. No entanto, não foi divulgado um cronograma de quando o material didático será entregue para as escolas indígenas.

Joaquim destaca a importância da ajuda para assegurar a identidade de um povo. “Nosso conhecimento precisa ficar documentado por meio de escrita e oralidade. Não podemos perder o conhecimento dos nossos ancestrais. Essa é uma forma de manter nossa cultura viva”, destacou.

Aos poucos ele tem enfrentado o problema da dificuldade de publicação das cartilhas que já criou para outras línguas. “Estamos tendo resultados interessantes e já estou em segunda edição de algumas publicações. Vejo que na hora de escrever, os parentes têm bastante dificuldade, tem medo e não conseguem fazer a frase completo. Tem que ser formado como formam na língua portuguesa”, considerou.

Livros e cartilhas criadas pelo professor Joaquim Maná que foram distribuídos no Acre para manter a língua materna viva (Foto: Arquivo Pessoal)
Livros e cartilhas criadas pelo professor Joaquim Maná que foram distribuídos no Acre para manter a língua materna viva (Foto: Arquivo Pessoal)

Ele ressaltou que os povos originários precisam se organizar e criar programas de formação não perder o conhecimento ancestral. “Sabemos que tem vários povos com os últimos falantes, não tem como recuperar isso”. Este é o caso dos guatós, povos das águas do Pantanal. Canoeiros que acabaram perdendo a língua com seus anciãos que faleceram.

Revitalizar uma língua é um processo complexo, mas com modelos a ser seguidos. Pesquisadores têm se debruçado para garantir a manutenção das 1.175 línguas que existiam em 1500, quando os europeus invadiram o Brasil. De lá para cá, os povos sofreram aculturação e perderam o reconhecimento da língua como identidade cultural oficial do país.

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