Falta de água e isotônico em corrida pode levar à morte, diz especialista
A morte de um homem de 30 anos durante a 6ª Meia-Maratona Volta das Nações neste domingo (12), levantou a discussão de como participar de uma prova como essa sem oferecer riscos a saúde. Pouca água e falta de hidratação adequada podem levar a parada cardiorrespiratória em competições esportivas, como ocorreu com o corredor mato-grossense Juliano Batista, que largou as 7h25 na prova de 21 quilômetros.
Segundo o clínico cardiologista, especialista em medicina esportiva, Luiz Ovando, a morte do competidor pode ter sido provocada pela falta de cuidados necessários que levam ao estresse do organismo e desencadeiam infarto ou parada cardiorrespiratória. A situação é agravada quando a temperatura que o atleta enfrenta é muito alta, como a registrada hoje em Campo Grande, máxima de 37ºC.
O especialista explica que muitas pessoas têm a tendência de acreditar que podem suportar esse estresse durante uma competição e esse pode ser o erro fatal que leva a morte. “As pessoas dizem eu estou extremamente bem e continuam, mas é preciso saber que quando se está correndo, o estresse é muito maior quando está muito calor. Com isso, ocorre a perda de água e elementos importantes como sódio, potássio e magnésio e se a pessoa não parar de correr, isso eleva a descarga de adrenalina que pode fazer vasoconstrição, o que significa a redução do calibre da artéria, que reduz o fluxo e pode desencadear infarto e parada e se o socorro chegar tarde a pessoa morre”, explica.
Não é somente a água o elemento essencial durante práticas esportivas, segundo Ovando. A hidratação deve incluir um soro caseiro com água e sal para garantir os níveis de sódio no sangue. “Sem água e sódio, o sangue fica diluído e vai inchando e você pode entrar em estado de desidratação. Em um treino, o esportista tem que se hidratar a cada 10 quilômetros e tomar água a cada três quilômetros ou a cada 15 ou 20 minutos”, orienta. Os isotônicos comprados em supermercados e lojas especializadas têm a mesma função, mas para quem preferir preparar a bebida a receita é duas colheres (de chá) de sal e uma colher (de sopa) de açúcar para um litro de água.
Erro grave – Com a empolgação durante um evento que reúne amigos e familiares como as corridas de rua, os participantes cometem ainda pequenos erros que podem se tornar grandes problemas para a saúde. Durante a Volta das Nações nesta manhã, a reportagem do Campo Grande News percebeu alguns competidores tomando tereré ao correr.
O médico adverte o excesso da substância que é, praticamente, um vício de muitos campo-grandenses e alerta para danos graves ao organismo se o consumo for frequente ou aliado ao desgaste físico, comum em competições. “O tereré tem cafeína, que tem efeito exitante para o coração e cérebro e altera a diluição no rim. Ou seja, se você toma muito tereré, aumenta a quantidade de água livre no organismo, o que leva a diminuição do sódio, que é o que segura a água no organismo para que não inche o cérebro”, detalha Ovando.
Fazendo um alerta quanto ao excesso da bebida tradicional em todo o Estado e qualquer prática com ingestão inadequada de líquidos, o médico lembra o caso de uma jovem de apenas 21 anos que morreu em decorrência de um AVC (Acidente Vascular Cerebral), durante um concurso de consumo de tereré em maio de 2013, em Campo Grande. “Quando você ingere grandes quantidades, como na competição em que morreu aquela moça, você está tomando água, mas com substâncias que reduzem o sódio e o sangue fica hipotônico e as células incham, provocando mal funcionamento do cérebro e coração”, esclarece.
Ovando aconselha os fanáticos pelo tereré a não utilizar a bebida antes ou durante os esportes e a reduzir as quantidades no cotidiano. “Você pode tomar cerca de três cuias ou até meio litro, mas nessas corridas o que se deve usar é água e soro caseiro, que é o hidratante que segura a água dentro dos vasos, artérias e veias e mantém o sangue fluído”.