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Esportes

Ídolos dos tempos de glória do futebol em MS são demitidos pela Prefeitura

Ídolos de times como Palmeiras e Vasco perderam salário, plano de saúde e sobrevivem com dificuldade

Gabriel de Matos | 10/02/2023 06:35
Paulo de Rezende, Copeu e Gonçalves participavam do projeto desde 2017 (Foto: Divulgação)
Paulo de Rezende, Copeu e Gonçalves participavam do projeto desde 2017 (Foto: Divulgação)

Mestre Gonçalves, Copeu, Pastoril e Paulinho Rezende fazem parte da história do futebol sul-mato-grossense e se destacaram jogando em vários times dentro e fora do Estado. São ídolos de um tempo que há muito não se vê pelos campos locais.

Tamanha experiência um dia foi valorizada pelo Executivo Municipal, que convocou o timaço de ex-craques para voltar à ativa, repassando o que sabiam aos meninos do projeto Escola Pública de Futebol, onde estavam, até a demissão no mês passado. Perderam o salário de cerca de R$ 1,3 mil, plano de saúde e orgulho que só o reconhecimento assegura na aposentaria.

A escolinha de futebol criada pela Funesp (Fundação Municipal de Esporte e Lazer) trabalha com crianças de 11 a 13 anos. O principal objetivo é recreação dos jovens em bairros periféricos de Campo Grande.

Mas não adiantou fazer história no futebol de MS. Os ex-atletas das antigas foram exonerados pela atual gestão de Adriane Lopes (Patri) e substituídos por "gente nova".

Mestre Gonçalves foi jogador de futebol e destaque no futebol sul-mato-grossense. (Foto: Kísie Ainoã)
Mestre Gonçalves foi jogador de futebol e destaque no futebol sul-mato-grossense. (Foto: Kísie Ainoã)

Mestre Gonça - Com 82 anos, o ex-jogador Gonçalves chegou a jogar com o Rei do Futebol, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, na Seleção Brasileira Militar. Ele vive na Vila Bandeirantes e tinha a função de treinador no projeto da prefeitura, responsável pela região da Vila Taveirópolis.

"O projeto é muito bacana, que tira a criançada da internet. Molecada hoje é diferente. A gente fica triste de ter saído, porque gostava muito de trabalhar com a gurizada", relata Gonçalves.

O ex-voltante conta que a Funesp informou sobre a demissão neste mês de janeiro. "Eles falaram para nós, ex-jogadores, que a gente pode voltar em outro momento. Porém, os caras começaram a colocar os deles. Quando a prefeita assumiu, a maioria dos antigos que tinha vínculo foram tirados".

Gonçalves consulta fotos e documentos que guarda desde quando era atleta. (Foto: Kísie Ainoã)
Gonçalves consulta fotos e documentos que guarda desde quando era atleta. (Foto: Kísie Ainoã)

Enquanto lamenta a perda do emprego no projeto que, como ele disse, gostava muito de trabalhar, Mestre Gonça lembra dos tempos de jogador profissional. O ex-volante esteve com Pelé em algumas oportunidades e chegou a vencer o maior jogador da história do Brasil. No ano de 1973, pelo Campeonato Brasileiro, o Comercial, de Campo Grande, saiu vitorioso em cima do Santos do Rei.

Gonçalves no time militar, agachado em frente a Pelé.
Gonçalves no time militar, agachado em frente a Pelé.

Em outra oportunidade, os dois jogaram juntos na Seleção Brasileira Militar. “Pelé já era campeão mundial.

"O Exército estava atrás de jogadores com idade igual a nossa e então nos convocou. Ganhamos da Argentina por 1 a 0”, lembra Mestre Gonça.

Nascido em São Caetano do Sul, em São Paulo, ele iniciou a carreira no futebol paulista. Jogou no Nacional, Corinthians, São Bento e Juventus. Também jogou na Argentina pelo San Lorenzo, de Buenos Aires. Em 1973, veio para o Comercial e jogou por cinco anos.

"Negócio é o seguinte, quando eu vim para cá, eu já era um jogador de cancha, com bastante anos de profissão, no auge do futebol daqui. Hoje, a gente fica triste quando se reúne com ex-atletas para falar do cenário daqui", explica Gonçalves.

Gonçalves mostra registro em revista da sua história junto a Pelé. (Foto: Kisie Ainoã)
Gonçalves mostra registro em revista da sua história junto a Pelé. (Foto: Kisie Ainoã)

Paulinho Rezende - O ex-zagueiro de 53 anos também relata que a demissão do projeto da prefeitura aconteceu inesperadamente. "Praticamente 90% dos ex-atletas já saíram. A minha função era como professor na Escola Pública de Futebol no Belmar Fidalgo, há seis anos".

Atualmente, ele tem outro projeto que também trabalha com crianças e jovens de 10 a 17 anos em dois núcleos, no Taquaral Bosque e na Mata do Jacinto. "Eu tenho um projeto meu, é uma criação minha. É um projeto social que dou treino para meninos de 10 a 17 anos", conta.

O ex-zagueiro ficou triste com a saída do projeto da prefeitura por deixar de trabalhar com os meninos: "A gente via a evolução deles no dia a dia. Praticamente 90% deles conheciam a minha história e eu explicava para quem não sabia. Foi muito legal falar com eles".

Paulinho é nascido em Campo Grande e teve o começo de carreira no futebol sul-mato-grossense. O primeiro clube profissional foi o Comercial no ano de 1982. Ainda no Estado, ele jogou no Operário e Cene.

O atleta jogou em outros Estados também. Em Pernambuco, jogou pelo Náutico e foi campeão com o treinador Muricy Ramalho. No Amazonas, foi jogador do São Raimundo. Outras equipes que estão no currículo são o Ceará, Sampaio Corrêa, do Maranhão, e Francana, de São Paulo.

Copeu estreou no futebol em 1964, com fama pelo Palmeiras. (Foto: Arquivo)
Copeu estreou no futebol em 1964, com fama pelo Palmeiras. (Foto: Arquivo)

Copeu - Aos 80 anos, Carlos Cidreira foi outro jogador que fez nome no Esporte Clube Comercial, nos anos entre 1973 e 1975. Baiano, veio para Campo Grande passar três meses e se aposentou por aqui, agora à espera da exoneração oficial. "Demitiram a gente, mas eu não tô entendendo nada. Falaram que isso nunca ia acontecer. Ninguém falou nada, mas a gente tá fora do projeto. É uma injustiça", reclama.

É notório que fez fama no Palmeiras de Dudu e Ademir da Guia, por 122 jogos e com 69 vitórias. Reverenciado pela técnica, também ficou 1 ano no Santos ao lado de Pelé. Mesmo assim, foi mais um a perder o emprego este ano no projeto da prefeitura.

O ex-ponta, que estreou em 1964 no futebol, revela que no ano passado chegou a pedir um aumento, já que ele e os colegas recebiam menos de um salário mínimo. Mas os cerca de R$ 1.300 não são a única perda irreparável nessa altura do campeonato. "Bloquearam até o plano de saúde. Fui fazer exames e não autorizaram nenhum".

Copeu também reclama da saída de Paulinho, "porque nunca ninguém vai conseguir fazer o que ele fazia pela criançada. Ele levava colete pra lavar em casa, fez os meninos gostarem de jogar bola. Quando ele não vai, a gurizada fica até preocupada, sente falta. Não tem como substituir".

Time de juniores do Vasco da Gama em 1971. Agachados: Nenen, Paulinho Jaú, Pastoril, Roberto Dinamite e Colatino (Foto: Arquivo/Site do Vasco da Gama) 
Time de juniores do Vasco da Gama em 1971. Agachados: Nenen, Paulinho Jaú, Pastoril, Roberto Dinamite e Colatino (Foto: Arquivo/Site do Vasco da Gama)

Pastoril - Em 1969, a categoria de base do Vasco ganhou Pastoril, mineiro de Governador Valadares, depois foi para o time principal, junto de Roberto Dinamite, maior ídolo da história vascaína.

Conquistou reconhecimento como meia canhoto habilidoso, de alta técnica, com lançamentos precisos e herói na cobrança de faltas.

A história lembra que, em 1971, Pastoril foi disputado por Flamengo e Botafogo. Do Fla, o Vasco teve a proposta de trocá-lo pelo estreante Zico, o que não aconteceu, e o "Galinho de Quintino" acabou como maior nome do Rubro-Negro.

Alberto José dos Santos, hoje com 69 anos, defendeu também o Operário e Comercial, se aposentou por aqui, trabalhando como gerente de tapeçaria e depois no projeto de futebol com os antigos colegas. Infelizmente não atendeu as nossas ligações.

Resposta da Funesp - Em nota, a fundação informou que o projeto atende mais de 1,5 mil crianças de 8 a 15 anos com 15 escolinhas e 12 professores. Em relação às demissões, a Funesp apenas informa que o projeto está em plena continuidade com novo quadro profissional de professores.

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