Cadeira feita de botões e 'cacarecos' da avó é quem recepciona em ateliê de foto
O charme da parede de tijolinho à vista divide os olhares com uma cadeira colorida e cheia de "cacarecos". Logo na entrada, do lado esquerdo do ateliê, quem recepciona os clientes e amigos é ela. Coberta de lã e dos pertences da avó paterna, no mobiliário está a homenagem de uma neta à uma avó. De Ana Carolina para Petrona, dona Chinita.
A porta de ferro, daquelas de armazém, te leva a um passado. Pelos cantos do espaço, além do nostálgico piso vermelho, vasinhos de plantas dão vida à decoração. No teto, luminárias soltas em pendentes ainda sem lâmpada demonstram que o lugar, talvez assim como a dona, nunca esteja pronto. Sempre tem algo a acrescentar, a mexer, a criar.
"Eu e uma amiga que me ajudou a colocar a lã. Nós que fizemos a cadeira", conta a neta e dona do Atelliê Photography, Ana Carolina da Fonseca, de 29 anos. Dona Chinita morreu tem um mês e meio, de velhice, e 15 dias depois lá estavam suas memórias na cadeira.
"Ela guardava todos esses cacarecos em caixas. Fiz como uma homenagem, e claro, coloquei fotos deles. Dela e do meu avô. O que sobra, se transforma", descreve a fotógrafa Ana Carolina.
Numa outra ocasião em que estive no ateliê, a primeira coisa a ser apresentada foi a cadeira da avó. Ali estava a tamanha importância dela para a neta. Petrônia Ferreira da Fonseca morreu faltando pouquinhos dias para completar 88. Ana Carolina e a prima Mariana, moravam com ela.
"Eu sempre fiquei de olho na caixinha, mas nunca peguei nada porque ela não gostava. Quando ela se foi, a primeira coisa que eu fiz foi pegar. O que eu sinto? Aí estão as lembranças de tudo, né?" diz Ana.
A prima e sócia no ateliê nos ajuda a enumerar os cacarecos: botão, pedaço de terço, de pulseira de relógio, broche, brinco, chave. "Ela não gostava de jogar nada fora", completa Mariana da Fonseca, de 32 anos.
A cadeira está erguida por um deck de pallets, para realmente ser o destaque do ateliê. "E eu acho que ficou uma graça, a gente eterniza o momento, a lembrança..." Assim como na fotografia, concordo com Ana.
Aberto há seis meses, o lugar leva o nome de ateliê ao invés de estúdio por uma questão de criação. "Ateliê é lugar de criar, de montar, de fazer o que eu quiser. É tudo pela fotografia, é uma arte", explica a fotógrafa.
O lugar, que antes funcionava como um espaço de beleza, no bairro Monte Líbano, só ganhou pintura. Por dentro, de branco, por fora, azul turquesa.
"Queria abrir um espaço para eu trabalhar o meu olhar, receber amigos, clientes, para eu ver na pessoa o que ela ainda não enxerga nela. Aqui eu brinco, ouço músicas, busco referências..." As palavras se misturam a voz suava de Thiago Iorc, trilha sonora de toda entrevista.
As poltronas que acomodam quem chega também era de dona Petrona. Só ganharam estofado de patchwork e uma reforma para deixá-la mais quadrada. Pergunto se dona Chinita, como era conhecida, foi criativa assim em vida. Costureira foi a resposta da neta. Então, imagino que sim.
Mais que uma decoração, a cadeira trouxe para o espaço referências. "Você traz o que tem de melhor na sua vida, que é a sua família. E eu falo isso, olha não sou uma pessoa fofa, eu só demonstro minha fofurice pelas coisas que eu faço".