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Arquitetura

‘Destrói nosso passado e do Estado’, lamenta filha sobre casa demolida

Casa construída pelo ex-governador Pedro Pedrossian na Avenida Afonso Pena virou escombros

Por Aletheya Alves | 28/02/2024 15:23
Raiz de árvore se tornou parte de parede e divide espaço com os escombros. (Foto: Thailla Torres)
Raiz de árvore se tornou parte de parede e divide espaço com os escombros. (Foto: Thailla Torres)

“Para nós, é muito triste porque destrói o nosso passado e do Estado também”, resume Rosa Maria Pedrossian sobre a demolição da casa histórica construída pelo ex-governador Pedro Pedrossian. Nesta quarta-feira (28), os mais de 50 anos de história guardados pela estrutura se tornaram escombros.

Aos 16 anos, a filha mais velha do casamento entre Pedrossian e Maria Aparecida iniciou sua relação com a casa. Ali, morou até os 25 anos, mas continuou retornando para dividir os pedaços de bolo de chocolate e compartilhando o momento do café com a família até 1986.

Estrutura interna da casa possuia características rusticas. (Foto: Fernando Antunes)
Estrutura interna da casa possuia características rusticas. (Foto: Fernando Antunes)

Assim como quem passa pela Avenida Afonso Pena com a Rua Espírito Santo, Rosa também está no processo de estranhar a perda. Mas, para ela, a dor se liga à falta de reconhecimento histórico que poderia ter garantido a conservação do espaço.

“Campo Grande é uma cidade relativamente nova e a casa integrava a história política. Ela foi palco de inúmeros debates e reuniões, por exemplo. Deveria ter sido tombada e ficou tanto tempo parada, mas essa não poderia ser uma iniciativa nossa porque pareceria algo de interesse privado”, explica a filha.

Lar sediou o casamento de três dos filhos de Pedrossian. (Foto: Arquivo pessoal)
Lar sediou o casamento de três dos filhos de Pedrossian. (Foto: Arquivo pessoal)

Após perder a disputa ao Senado em 1986, Pedrossian precisou vender a casa e outros bens para pagar os custos da campanha, como Rosa detalha. E, por ter passado por outros donos, a família sentiu que o pedido de tombamento deveria partir do Poder Público.

Agora, com as paredes no chão, a reflexão é sobre como a cidade continua perdendo construções que integram sua identidade. “O brasileiro, normalmente, não é atento com a própria história. Essa é uma casa bem localizada, tinha paredes grossas com três tijolos e muita aroeira, de uma época em que era permitido retirar. Grande parte da madeira foi esculpida por um tio, inclusive”.

Definida como um lar cheio de vida, a Casa do Pedrossian, como era conhecida, permeava entre a vida privada e pública da família. Rosa narra que as visitas eram tão frequentes que a casa sempre estava aberta, nem mesmo o cadeado conseguia exercer sua função.

Fotografia da união entre Rosana e João Omar foi no jardim da casa. (Foto: Arquivo pessoal)
Fotografia da união entre Rosana e João Omar foi no jardim da casa. (Foto: Arquivo pessoal)

“Era uma casa única, gostosa de viver. Nós tínhamos uma varanda interna e ninguém saía dali de dentro, a família gostava de estar na casa. O casamento de três dos filhos foi ali, a minha festa mesmo é uma das lembranças”, destaca.

Além dos casamentos, o batismo e o cotidiano dos sete primeiros netos também tiveram como cenário a casa. “Meus pais, os netos e nós curtimos muito a casa. Papai e mamãe sempre gostaram de receber as pessoas e fazer festas”.

Sobre a vida política, Rosa conta que as portas de madeira viram um pouco de tudo. “São vários fatos políticos que aconteceram na casa, incluindo discussões sobre a divisão do Estado”, diz.

E até a delimitação da cidade se vinculava à estrutura, já que o asfalto ainda não havia chegado no endereço quando foi construída. “A Avenida Afonso Pena ia até a Bahia, não tinha asfalto. Essa foi uma casa que, inclusive, levou muitos anos sendo construída. São muitas histórias”.

Aos poucos, a estrutura está desaparecendo. (Foto: Thailla Torres)
Aos poucos, a estrutura está desaparecendo. (Foto: Thailla Torres)

História deixada para trás

Projetada nos anos 70 pelo arquiteto campo-grandense Avedis Balabanian, a casa foi erguida com detalhes pensados para agradar a esposa do então governador Pedro Pedrossian, Maria Aparecida. Com seus 2 mil metros quadrados, a residência foi palco de importantes eventos, desde recepções políticas até casamentos dos filhos do ex-governador.

Sobre o presente e futuro,  a informação é de que as madeiras serão realocadas para uma propriedade rural. A reportagem tentou contato com os atuais proprietários, mas até o momento não houve sucesso.

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