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Arquitetura

Fachadas "novas" contrastam com estrutura em ruínas na Vila dos Ferroviários

Elverson Cardozo | 18/05/2012 14:39
56 casas da Vila Ferroviária, em Campo Grande, receberam fachada "nova". (Foto: Minamar Júnior)
56 casas da Vila Ferroviária, em Campo Grande, receberam fachada "nova". (Foto: Minamar Júnior)

A matéria bem que poderia começar diferente, falando, talvez, dos tons pastéis e da felicidade na Vila dos Ferroviários, em Campo Grande, com o fim do projeto de revitalização das fachadas das casas, tombadas como patrimônio histórico da cidade. Mas entre os moradores, a proposta não atingiu nem a metade das pretensões de quem vive no lugar.

“Só maquiagem”. É com essas palavras que Benedita Inocente Macedo, de 52 anos, resume, sem pestanejar, a “arte final” do trabalho realizado na rua onde mora. Mesmo sabendo que o projeto “Tudo de Cor”, da Coral Tinta, em parceria com a prefeitura de Campo Grande, era apenas para pintar a fachada dos imóveis, a dona de casa não esconde a decepção e cobra mais.

Benedita argumenta que o trabalho foi suficiente para “enganar” visitantes. Mas o verdadeiro problema continua e fica do lado de dentro. A casa onde mora há 2 anos está com a estrutura comprometida.

A janela de madeira que guarda a história da antiga vila de ferroviários, está caindo aos pedaços. “E a gente não pode trocar”, conta a moradora. O muro é da época em que o trilho ainda cortava a região. O forro, de madeira, falta pouco para despencar.

Apesar da isenção de IPTU para quem vive no local, justamente como incentivo para que os proprietários invistam na recuperação da estrutura, os moradores querem o apoio da prefeitura.

Moradora diz que não pode retirar janela que está caindo aos pedaços. (Foto: Minamar Júnior)
Moradora diz que não pode retirar janela que está caindo aos pedaços. (Foto: Minamar Júnior)
Moradora mostra placa que identificada imóvel como patrimônio histórico da cidade. (Foto: Minamar Júnior)
Moradora mostra placa que identificada imóvel como patrimônio histórico da cidade. (Foto: Minamar Júnior)

Goteiras, rachaduras e pontos de infiltração é o que não falta. “Quando chove molha mais lá dentro do que fora”, diz. Nos fundos, há um muro que, de tão velho, deixa a moradora com medo.

“Já que é patrimônio histórico deveriam passar uma verba para as pessoas fazer reforma. Eles querem que fique do mesmo jeito”, afirma. “Como vou preservar uma coisa se desaba em cima de mim?”, questiona.

Quem também não estava nem um pouco satisfeito era Antonio de Andrade. O motorista que mora na vila há 16 anos, trabalhou na ferrovia por duas décadas. Hoje, horas depois da inauguração, questionava a finalização dos trabalhos.

Diz que o trabalho foi “incompleto” e que o portão da casa onde mora não recebeu pintura. Além disso, reclama que a prefeitura deveria revitalizar a rua de paralelepípedos. Por esse e outros motivos, nem fez questão de acompanhar a inauguração. “Eles nunca passaram por aqui”, disse, se referindo à presença de políticos.

Aposentado José Ferreira disse que o trabalho foi satisfatório. (Foto: Minamar Júnior)
Aposentado José Ferreira disse que o trabalho foi satisfatório. (Foto: Minamar Júnior)

Já o aposentado José Ferreira da Silva, de 59 anos, acredita que o trabalho, pela proposta, foi satisfatório, mas gostaria que a rua onde mora fosse arrumada. Seu José não deixaria a Vila dos Ferroviários, porque o local “representa uma vida”. De dentro de casa lembra o tempo em que trabalhava como agente de estação.

Manutenção - A assessoria de imprensa da prefeitura de Campo Grande informou que a manutenção interna das casas é de responsabilidade dos proprietários. A obrigação do órgão é apenas em manter a fachada original dos imóveis.

Por esse motivo, não é permitido a retirada das janelas originais. Por meio da assessoria, o prefeito Nelson Trad Filho (PMDB) informou que a rua deverá ser recuperada, assim como as calçadas, ainda este ano, mas não foi definido um prazo.

Inauguração - Tombadas como patrimônio histórico na rua Doutor Ferreira, as obras de revitalização de 56 casas da Vila Ferroviária, em Campo Grande, foram entregues nesta sexta-feira (18), às 9h.

Os imóveis foram construídos em meados dos anos 30, período em que a via férrea era o principal meio de transporte. No local residiam funcionários da NOB (Noroeste do Brasil).

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