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Artes

Aparecida do Taboado, a cidade que deixou o mundo "60 Dias Apaixonado"

Paula Vitorino | 11/10/2012 07:33
Monumento dá boas-vindas à cidade dos 60 Dias Apaixonado. (Foto: Jornal do Bolsão)
Monumento dá boas-vindas à cidade dos 60 Dias Apaixonado. (Foto: Jornal do Bolsão)

Uma viagem inesquecível à uma cidade na fronteira de Mato Grosso do Sul com São Paulo, a morena dos sonhos, uma paixão daquelas de perder o rumo e ficar “60 Dias Apaixonado”. A história que faz sucesso há mais de 30 anos também é símbolo do Estado e se tornou o segundo hino da pequena e inesquecível Aparecida do Taboado. Isso oficialmente, porque na prática, ninguém desbanca a cançāo.

O ritmo incomparável do chamamé tomou conta do Brasil e do mundo, levando junto a paixão e a curiosidade pela antes desconhecida Aparecida do Taboado. Afinal, quem nunca se entregou e cantou largado o refrão de “60 Dias Apaixonado”?

“Na América do Sul, neste momento, alguém está cantando ou ouvindo essa música”, aposta o compositor da cidade, Vicente Dias, de 68 anos.

A canção, escrita pelos paulistas Constantino Mendes e Darcy Rossi, resiste há gerações, desde quando Aparecida do Taboado pertencia ao Mato Grosso. A composição é da década de 70, antes da criação de Mato Grosso do Sul, que completa 35 anos em 2012.

“É uma homenagem à cidade do Mato Grosso do Sul. Então é uma homenagem ao Estado. Só que na música fala Mato Grosso porque até então não existia a divisão”, explica o cantor Tostão, da dupla Tostão e Guarani.

Na cidade, para os moradores, isso é detalhe. Motivo de orgulho é morar no cenário escolhido para o refrão do chamamé. A letra está gravada até em um monumento, que recepciona os visitantes com a figura do boiadeiro e os dizeres: “Seja bem-vindo à cidade dos 60 dias apaixonado”.

É com o mesmo título que a cidade é apresentada ao mundo pelo Wikipédia quando se pergunta quem é Aparecida do Taboado.

“Dizem que é o hino da cidade. Muita gente que passa comenta ‘é a cidade dos 60 dias apaixonado’. Só conhecem aqui por causa da música”, conta o funcionário de um posto de combustível da cidade, Euler Freitas, 28 anos.

Mas a identidade também teve uma pitada de marketing, conta o compositor Vicente. Ele garante que foi durante uma campanha política que surgiu o slogan. “A administração achou por bem adotar e os peões da festa de boiadeiro também, aí ficou”, diz.

Sendo assim, quem procura pela cidade pode chamar pelo nome oficial ou simplesmente pelo apelido apaixonado.

Há também quem procure a cidade para tentar encontrar uma morena de perder o rumo.

“O povo é curioso, quer vir conhecer as morenas daqui. Desperta a curiosidade das pessoas em conhecer a cidade. Vem gente procurando a morena bonita, mas o que apaixona mesmo aqui é a simplicidade do povo”, avisa Vicente.

Tostão e Guarani adotaram a música nos shows já na década de 80. (Foto: Divulgação)
Tostão e Guarani adotaram a música nos shows já na década de 80. (Foto: Divulgação)

Além dos anos - Sem perder o ritmo, a canção continua como repertório obrigatório nos shows sertanejos e nas rádios. “Durante a programação sertaneja da rádio ela sempre toca”, diz o locutor de Aparecida, Édinho.

Desde a primeira gravação, em 1979, por Chitãozinho e Xororó, a música incrementou o repertório de duplas como Milionário e José Rico, além de presença nos shows dos novos talentos daqui: Michel Teló, Luan Santana e Munhoz e Mariano.

Uma das primeiras duplas do Estado a cantar a música, a dupla Tostão e Guarani, afirma que até hoje o refrão é garantia de sucesso nos shows e faz parte de pelo menos 99% das apresentações. Já no início da década de 80 os cantores adotaram a música nos shows, mas nunca chegaram a gravar.

“Geralmente a gente abre o show com ela. É uma música com ritmo alegre, contagia todo mundo, bem a cara do sul-mato-grossense”, diz Tostão.

Recentemente os versos ganharam até uma nova versão com a dupla Victor e Léo, mas para Tostão a música original é imbatível.

“A original é sempre melhor. Mas a deles não ficou ruim não. Adaptaram para o jeito deles de cantar, continuou um chamamé, mas mudaram a divisão da música”, explica.

Nosso ritmo - Mas apesar da nossa cara e ritmo, os versos da música nasceram em São Paulo. Chitãozinho conta no documentário “Nesses Versos” que a música foi encomendada a Constantino, que trabalhava em um circo no interior de São Paulo, quando a dupla fazia muitos shows nas redondezas.

A dupla queria uma música com o bordão “60 dias apaixonado”, famoso nas rodas dos peões da região. O refrão foi feito e a música depois repassada ao compositor amigo da família, Darcy Rossi, que finalizou a canção.

E de jeito simples e cheio de sabedoria, Tostão explica o motivo de “60 Dias Apaixonado” ter se transformado em símbolo de MS.“O sul-mato-grossense adotou de coração, porque foi feita para nós”, conclui.

Para confirmar a identidade, basta escutar os versos e deixar o chamamé tomar conta dos passos:

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