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Artes

Feita em meia hora, numa cabine, a música símbolo de MS: Trem do Pantanal

Paula Maciulevicius | 11/10/2012 07:18
“Ele agora sabe que o medo viaja também. Sobre todos os trilhos da terra”. À frente, Paulinho Simões compositor, junto de Geraldo Roca, da canção hino de Mato Grosso do Sul e vocalista do Bando do Velho Jack, Rodrigo Tozzette,
“Ele agora sabe que o medo viaja também. Sobre todos os trilhos da terra”. À frente, Paulinho Simões compositor, junto de Geraldo Roca, da canção hino de Mato Grosso do Sul e vocalista do Bando do Velho Jack, Rodrigo Tozzette,

Rumo a Santa Cruz de La Sierra, enquanto um velho trem atravessava o Pantanal a canção que virou hino de Mato Grosso do Sul era feita dentro de uma das cabines. Ao ver de um dos compositores, Geraldo Roca, tudo parecia óbvio demais.

“Dentro de trem, pegamos o violão enquanto o trem atravessa o Pantanal e a música saiu em meia hora. Eu disse é óbvio demais os primeiros versos”.

Roca tenta dizer com humildade, da melhor composição já feita junto de Paulinho Simões, na década de 70.

Com três estrofes Trem do Pantanal conta a história em versos de alguém que viajava enquanto as estrelas do cruzeiro faziam sinal, indicando o melhor caminho para um fugitivo da guerra.

A melodia e a letra levam até quem nunca andou em uma locomotiva, viajar pelos trilhos da terra rumo a Santa Cruz de La Sierra. Tanto no caminho, quanto na música, no trajeto o coração está batendo desigual, como quem soube naquele momento, que o medo viaja também.

“Todos os trilhos da terra” já era, na época, quase como um jargão de Geraldo Roca. “Eu tinha a ideia de que ainda seria o nome de uma música”.

A primeira apresentação da música foi feita no teatro Tablado, no Rio de Janeiro, onde capital onde os dois, Roca e Simões, moravam. “Sabe um show que sai tudo errado? Então, foi num desses”.

“Me surpreendi completamente. Eu nunca entendi a razão da popularidade”, diz o compositor Geraldo Roca. (Foto: Simão Nogueira)
“Me surpreendi completamente. Eu nunca entendi a razão da popularidade”, diz o compositor Geraldo Roca. (Foto: Simão Nogueira)

Se a música não começou com o pé direito, tratou de se acertar sob os trilhos da terra e se tornou a canção cara de Mato Grosso do Sul, apenas com a primeira parte.

“A segunda parte nunca fizemos. No começo a gente não gostou tanto. Ficou pensando será? A gente fez isso em meia hora e só a primeira estrofe”. Pelo menos é esta a história que Geraldo Roca conta da composição da música, na flor da idade de um fugitivo de guerra, lá pelos seus 18 anos.

Enquanto o povo lá de casa esperava um postal, Simões e Roca apresentaram Trem do Pantanal pela primeira vez no Estado, em um festival e foram desclassificados. “O motivo eu vim saber há uns quatro anos. Que os jurados acharam a letra subversiva. Mas não tem nada de manifestação, é um cara caindo fora dali, não pode tirar muito mais que isso”, comenta.

A história de quem viaja com medo guiado por um sinal que mostrava o caminho pelos trilhos do Pantanal é sem dúvida, um dos contos regionais mais cantados e regravados. Em uma batida rápida, que parece acompanhar o ritmo do trem, Geraldo Roca diz que a escolha em representar Mato Grosso do Sul partiu do próprio Estado e não da canção.

“A música não escolheu essa repercussão, a repercussão que escolheu a música”. Seja o caminho que for, Trem do Pantanal passou as matas e os campos, levando o esplendor pantaneiro em rios tão ricos que não há nada igual e se tornou, talvez para sempre, o hino oficial de um Estado novo-velho, nascido há 35 anos.

Em uma das mais de 100 regravações que Geraldo Roca calcula ter sido feita de Trem do Pantanal, está a versão rock’n roll sul-mato-grossense, com o Bando do Velho Jack.

“A música não escolheu essa repercussão, a repercussão que escolheu a música”. Palavras de Roca e na foto, Simões e Rodrigo Tozzette, do Bando do Velho Jack, que gravou a versão rock'n roll do Trem do Pantanal. (Foto: Elverson Cardozo)
“A música não escolheu essa repercussão, a repercussão que escolheu a música”. Palavras de Roca e na foto, Simões e Rodrigo Tozzette, do Bando do Velho Jack, que gravou a versão rock'n roll do Trem do Pantanal. (Foto: Elverson Cardozo)

O vocalista Rodrigo Tozzette, conta que a versão quem teve a ideia de fazer foi Alex Batata, vocalista da formação original. “Eu lembro de ter comentado que ela era corrida, puxava para um rock’n roll e ficou essa versão”.

A partir do momento da gravação, Trem do Pantanal do Bando do Velho Jack se tornou o carro-chefe dos shows. “Pegou legal porque realmente o que simboliza Mato Grosso do Sul é o trem do Pantanal”.

Ainda que tenha estranhado o início, já que como Rodrigo mesmo diz, era forte na cabeça a imagem de ‘Enquanto este velho trem atravessa o Pantanal’ na versão de Almir Sater, a música bandeira do Estado teve e ainda mantém uma ótima receptividade.

“Sempre foi uma das músicas para botar o público pra cantar. Muito bem recebida, principalmente lá fora”, acrescenta Rodrigo. Entre as mais de mil vezes em que a música foi tocada, oficialmente, pela banda, a apresentação inesquecível foi junto dos dois compositores.

“Tocar com Simões e Geraldo Roca. Inusitado como você se espantou, todo mundo diz ‘caramba juntar os dois no mesmo palco’ quando tocamos estava o Geraldo e o Paulinho, então botamos os dois no palco. Juntar e cantar no meio dos caras que inventaram a música que é a cara de Mato Grosso do Sul, caramba...”, relata Rodrigo.

Para um dos compositores, a surpresa de ver Trem do Pantanal como hino do Estado. “Me surpreendi completamente. Eu nunca entendi a razão da popularidade, a não ser por ter sido pela primeira vez mencionado Pantanal numa canção brasileira. E a consequência é que a música acabou ficando”. Até que o velho trem chegue ao Pantanal.

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