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Artes

Artistas garantem que Cultura não recebe investimento desde 2021

Prefeitura se defende e alega que estão previstos R$ 9,727 milhões para setor em 2024

Por Natália Olliver e Idaicy Solano | 14/12/2023 10:18
Classe artística de Campo Grande protesta contra falta de investimensto pelo 3º dia (Foto: Idaicy Solano)
Classe artística de Campo Grande protesta contra falta de investimensto pelo 3º dia (Foto: Idaicy Solano)

Terceiro dia de protesto dos trabalhadores do setor cultural de Campo Grande evidenciou a falta de incentivo às artes na Capital. O município não recebe investimentos desde 2021. Pressionada, a prefeitura se defendeu e alegou que R$ 9,727 milhões serão destinados ao setor em 2024. O protesto pacífico acontece em frente ao Paço Municipal.

Artistas e produtores cobram o pagamento do FMIC (Fundo Municipal de Investimentos Culturais) e o lançamento do edital do Prêmio Ypê, ambos referentes ao ano de 2023. Conforme o grupo, a mobilização começou no final da manhã desta segunda-feira (11) e reivindica, também, o repasse de R$ 6 milhões voltados para o setor da cultura, mas transferidos para outras secretarias no final de novembro.

Romilda Pizani, de 46 anos, é coordenadora do Fórum Municipal de Cultura. À reportagem ela destaca que o setor não está sendo amparado pelo município. "Nós fomos atendidos, mas a proposta que nos foi feita não atende à classe artística e nós estamos aqui para reivindicar o apoio da Câmara municipal de vereadores, sendo que esse apoio ele já é dado. Nós precisamos que esse apoio permaneça, porque não dá para atender a classe com R$ 4 milhões, sendo que os editais de 2022 e 2023 não foram publicados”.

De acordo com ela, o comunicado de que há mais de R$ 10 milhões sendo investidos na cultura, feito pela prefeitura, é referente ao montante federal, não municipal. “Em 2022 e 2023, não teve nenhum investimento do município. Esse dinheiro é verba federal, não municipal, o município não investiu nada”.

Romilda Pizani, coordenadora do Fórum Municipal de Cultura (Foto: Idaicy Solano)
Romilda Pizani, coordenadora do Fórum Municipal de Cultura (Foto: Idaicy Solano)

Sobre o cenário sem investimento, a coordenadora ressalta que a classe está apenas sobrevivendo. “O que nós precisamos fazer é contribuir com que as pessoas ou os gestores, que eles entendam que entretenimento não é cultura. O entretenimento é pontual. Nós precisamos de uma cultura, de uma política cultural contínua".

Romilda também explica a diferença entre entretenimento e cultura. Para ela a primeira palavra diz respeito a algo que é pontual, já a cultura é feita e fomentada de maneira contínua. Para ilustrar os exemplos, ela usa o entretenimento como algo que acontece e acaba, que não necessariamente precisa envolver preceitos e formas de “despertar o sujeito para o mundo”.

"Entretenimento é um show pontual, é uma ação pontual, cultura é tudo aquilo que nós damos continuidade a partir da nossa ancestralidade, a partir dos saberes populares ou acadêmicos, mas que se tenha uma continuidade no processo. É aquilo que ajuda a formar a sociedade e a despertar no sujeito o seu pertencimento, enquanto sujeito na sociedade, a partir de algo que não é físico, que é sentimento, a cultura, ela é algo que se trabalha o sentimento em especial".

A atriz e produtora Fernanda Kunzler, de 40 anos, também está no local. Ela acrescenta que o protesto é pacífico, político e poético. “Nós já fizemos atos como esses outras vezes, infelizmente, devido aos descasos da gestão pública, com o investimento cultural que deve ser aplicado anualmente à cultura. A prefeitura está fazendo eventos que não estão previstos no plano municipal de cultura, que não fazem parte da lei do Femic, que foi instituída justamente para regular o investimento no setor cultural da cidade”.

Atriz e produtora Fernanda Kunzler (Foto: Idaicy Solano)
Atriz e produtora Fernanda Kunzler (Foto: Idaicy Solano)

Conforme a atriz, que também faz parte do Fórum, a prefeitura admitiu que houve falhas na gestão. “Nós estamos esperando há 3 anos e aí eles esperam a gente chegar nesse ponto de fazer uma manifestação para poder ser ouvido, porque a gente tentou várias formas".

O grupo teve dois diálogos com a gestão municipal, mas que acabaram sem acordo. "Não houve avanços no sentido de reconhecimento da importância da cultura para a sociedade, desenvolvimento do cidadão, de mudanças que a cultura provoca numa sociedade, sendo ela o tripé de formação de uma sociedade”.

Perdas - Para Fernanda, não fomentar a cultura é perder como sociedade, pois os trabalhos estimulam a formação do cidadão nos bairros periféricos da cidade, por exemplo. Lugares onde, muitas vezes, a cultura não tem vez. "As perspectivas de sensibilização do ser humano enquanto pessoa ativa na sociedade, então a cultura ela promove tudo isso. A gestão pública não consegue enxergar para além dos eventos”.

Classe artística protesta contra falta de incentivo à cultura na Capital (Foto: Idaicy Solano)
Classe artística protesta contra falta de incentivo à cultura na Capital (Foto: Idaicy Solano)

Posição Municipal - A prefeita, Adriane Lopes, recebeu na manhã desta quarta-feira (13) integrantes do Fórum Municipal da Cultura: Romilda Pizani, Fernanda Keunzler e Waber Noleto. Na reunião foram apresentados aos participantes o balanço de 2023 no setor.

Conforme a secretária de Cultura, Mara Bethânia Gurgel, em 2023 a Prefeitura já pagou o débito no valor de R$ 2,045 do tesouro municipal e lançou o edital de R$ 6,8 milhões referentes à Lei Paulo Gustavo. Isso totaliza o valor de R$ 8,8 milhões investidos na cultura.

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