Da zona norte, grupo de rap La Firma é resistência em meio ao esquecimento
Além de rimar, grupo lançou clipe que fala de 27 assassinatos em apenas 1 anos no Nova Lima
Cantar e mostrar a realidade difícil da Zona Norte campo-grandense é a intenção de Abraão Barreto, Luan Fiorante, Rodrigo Camargo, Lucas Alves e Junin Ornellas. Por isso, criaram o grupo de rap La Firma 067, em 2011 e tem feito barulho na região do Bairro Nova Lima. Em 2017, lançaram o clipe "Nova Lima, Mil Pecados", para impactar a comunidade sobre os 27 assassinatos motivados, em maioria, por brigas de jovens e adolescentes moradores das redondezas.
Ivair Dantas foi quem assumiu a direção do clipe, convidado por Rodrigo Camargo, rapper e o roteirista. "Só no Nova Lima, 27 jovens morreram em 2016 e a gente sentiu essa necessidade, como escritor, de escrever sobre isso porque estamos vendo o que está acontecendo", diz o roteirista.
Ele narra uma história que parece coisa de morro carioca, mas que está bem perto, mas sem o mesmo impacto na mídia. "Naquela época, todo dia tinha troca de tiros na região, entre crianças e adolescentes, de 12 a 17 anos. São os meninos que mais agem desse jeito, os adultos e as pessoas que são de fato criminosas, perante a lei, tem outra maneira de resolver suas desavenças", explica.
Fato é que passados mais de um ano do lançamento, o material rendeu bons frutos ao La Firma e à comunidade da Zona Norte. O grupo já participou de debates em salas de aula de faculdades e colégios pela cidade e no dia 10 de abril, o clipe com ares de curta-metragem será exibido no Campo Grande na Tela, na escola Hercules Maymone do Nova Lima. "Superou as nossas expectativas o resultado desse clipe, tanto visual, quanto os espaços que ele atingiu".
Além desses resultados práticos, o La Firma diz que no ano do lançamento, os números de violência e morte caíram para menos da metade. "Não sei se é uma consequência do material audiovisual, mas acho que só pelo enredo mostrar uma opção diferente para o moleque que não o assassinato, já faz a molecada da nossa região parar pra pensar", comenta Rodrigo.
O curta-metragem foi a primeira experiência de Rodrigo como roteirista e também foi um desafio a Ivair. "Foi também meu primeiro trabalho com essa magnitude e com essa intenção. Lembro de chegar no bairro e a galera toda me olhar, sentia aquele clima de violência pairando, de desconfiança. Mas quando eles passaram a entender o que eu fazia ali, fui recebido com outros olhos."
Os atores em cena são os próprios moradores do bairro, entre amigos do grupo, familiares e até gente que passava na rua na hora da gravação. "Meus filhos participaram da gravação, minha irmã também", completa o roteirista.
Para eles, estar no bairro até hoje significa querer mudar um pouco o quadro de violência, mas ao mesmo tempo, é díficil conseguir sair de lá. "Nenhum de nós do grupo tem condições de falar que vamos nos mudar assim, de repente, somos pobres. Desde cedo eu acompanhei tudo e nunca foi diferente, acontece que hoje tem menos mortes e as pessoas vão crescendo e tentando conscientizar as outras porque é foda toda vez você enterrar um primo, um amigo, um irmão, um parente, mas não mudou efetivamente o que era há 25 anos".
Para ele, o que ainda coloca em risco a garotada que cresce no lugar é a falta de atividade. "Nossa região aqui é um exemplo de mistura de gente de todo o canto do Brasil, vemos cultura em cada esquina, porém estamos esquecidos, sem nenhuma praça para brincar com os moleques, sem um show de música, nada".
Os próximos passos é a produção de um novo curta-metragem com personagens e locações da Zona Norte, assim como o "Nova Lima, Mil Pecados". Porém, dessa vez, serão quatro clipes no meio desse curta. "Vamos usar os artistas e atores também da região. Ainda está em fase de criação, mas acho que a partir da semana que vem já começamos a gravar. Apenas um clipe desses será do La Firma, teremos também de a música de um cantor gospel, um funk e um rock", finalizam.
Confira o clipe abaixo:
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