De família libanesa, Jean Pierre entrou no Carnaval escondido, aos 14 anos
Ele assistiu a um desfile e bateu à porta de carnavalesco para perguntar como desfilar. Já são 40 anos no Carnaval
A história de Jean Pierre Michel com a folia começou aos 14 anos, em Campo Grande. De família libanesa, ele só tinha contato com o samba e o Carnaval pela televisão. Hoje aos 53 anos, não perde um Carnaval e desfila todos os anos pela G.R.E.S (Grêmio Recreativo Escola de Samba) Unidos da Vila Carvalho.
Jean Pierre conta que ainda adolescente, logo que assistiu a um desfile das escolas de samba, na rua 14 de Julho, decidiu que participaria do próximo Carnaval. No dia seguinte ao desfile, bateu à porta do carnavalesco Félix Rodrigues para perguntar o que deveria fazer para sair em uma escola de samba.
“A primeira vez que eu desfilei, foi escondido da família. Vi o desfile na rua 14 [de Julho] e fui atrás de um carnavalesco chamado Felix. Eu sabia onde morava e eu fui lá um dia perguntar para ele o que eu tinha que fazer para desfilar. Ele falou: você tem que começar fazer a sua roupa no início do ano. Na outra semana ele me chamou e disse: vamos começar a bordar. Na época, era lantejoula, paetê e agulha”.
Nos primeiros carnavais, ainda adolescente, desfilou escondido da família. Era necessário fazer “malabarismos” para não chamar a atenção, já que a casa dos pais também era na rua 14 de Julho. Entretanto, usar de estratégia nem sempre funcionava.
“Tive a oportunidade de desfilar. Nas primeiras vezes, foi escondido, mas, nas outras, não teve jeito. O samba já estava no sangue. Nas primeiras vezes, depois do desfile, eu apanhava. Meu pai é libanês, de descendência árabe e a cabeça era outra. Teve época que o desfile era na 14 e passava na frente de casa. Eu, para me esconder, passava atrás do cordão de pessoas para ele não me ver, mas não tinha jeito, alguém sempre falava.
Depois, o pai acabou aceitando e até assistia aos desfiles de Jean Pierre. “Foi mágico. Até meu pai falava: deu kibe no samba. Ele viu que não tinha jeito, que eu gostava mesmo e foi aceitando”.
Desfilar no chão, onde pode mostrar o samba no pé, sempre foi a preferência de Jean Pierre. No começo, a fantasia era igual a do carnavalesco Felix e desfilava ia pela Igrejinha e pela Vila Carvalho. Depois, ficou somente na Carvalho, mas já desfilou em escolas do Rio de Janeiro também.
“A minha primeira fantasia, que eu lembro até hoje, era de bandeirante. A escola vinha falando dos desbravadores em Mato Grosso do Sul, toda verde e rosa. Já fui para o Rio e voltei para cá, porque é a escola do coração, que a gente se sente em casa. As pessoas recebem bem, a bateria, a escola e conhece todo mundo”.
Apesar de tanto tempo no Carnaval, Jean Pierre diz que sempre há novidades. “Eu desfilei vários anos de passista na escola. Esse é o meu forte, samba no pé. Hoje, eu saio de destaque de chão e na frente da bateria, junto com a ala dos passistas, que é a minha ala favorita. Eu quero levantar a arquibancada, levantar o povão. Gosto desse contato com eles, mais próximo. Meu nome de guerra é Faísca, Turquinho. Tem muita gente bacana que passou na minha vida nesse tempo de samba. A gente gosta de ganhar, mas o importante é competir e mostrar para Campo Grande que aqui também tem Carnaval.
50 anos de Vila Carvalho - Nesse ano, a Vila Carvalho vai para a avenida comemorando os 50 anos de escola. O enredo é Jubileu de Ouro. A Vila Carvalho conta, canta e encanta nos seus 50 anos. O presidente, José Carlos de Carvalho, no posto há 46 anos, conta que a escola nasceu em 1969, pelas mãos do carnavalesco Felipe Duque, o Felipão.
O presidente destaca que, embora a escola tenha nascido no bairro, há integrantes de diversas regiões da cidade que são “Unidos da Vila Carvalho”. Nesse ano, a escola vai levar para a avenida 17 alas e três carros alegóricos. “Vamos em busca do vigésimo título, se Deus quiser”.