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JULHO, QUINTA  18    CAMPO GRANDE 30º

Artes

Joaninha e Fuinha eram os brinquedos favoritos de Hanny

Marília Adrien de Castro, Dulce Martins e Lúcia Carolina* | 07/02/2021 07:15
Ilustração feita por Guto Naveira.
Ilustração feita por Guto Naveira.

Hanny tinha muitos brinquedos e predileção por Joaninha e Fuinha, que a acompanharam por toda sua vida, Joaninha chegou a ficar tomada de furinhos em seu tecido, Dulce os costurava, mas nunca dava conta de cerzir todas as marcas dos dentinhos de Hanny. Fuinha era um rinoceronte de borracha amarela. Dulce cuidava de mantê-lo limpo, tanto que, a certa altura, a borracha foi perdendo o tônus e tocar Fuinha era como sentir o pé sujo dentro do sapato!

Nas viagens, Dulce carregava os brinquedinhos preferidos de Hanny, menos em uma, ao Rio Grande do Norte. Por alguma razão, Fuinha e Joaninha não foram convidadas, digamos assim, o que não passou despercebido... Hanny ficou inquieta, olhava para os lados, procurava algo que ela estava habituada a ter ao alcance de sua diversão, mas não encontrava. Passou a custar para dormir e o que era um passeio não teve nada de descontração.

Ao voltarem para casa, mal abriu-se a porta, Hanny lançou-se, como criança que vive em apartamento chegando a um parque, para Joaninha, mas era tanta a felicidade! Hanny balançava a cabeça de um lado para outro, sem conter-se de saudades! Embora estivesse celebrando seu brinquedo preferido, a pequena quase acabou com a pobre Joaninha, que perdia o enchimento pelos furos das festivas mordidas de Hanny. Dulce preferiu não interromper aquele reencontro emocionado e esperou o dia seguinte para costurar Joaninha, evitando o farrapo definitivo do objeto de tanta estima. Naquela noite, Hannynha dormiu grudada em seus brinquedos, pegava no sono suspirando de alegria e roncou muito, certamente em sonhos profundos.

No dia seguinte, Hanny encontrou Joaninha e Fuinha lavados e pendurados no varal, pois ela não arredou as patinhas, manteve-se olhando para o alto, farejando e fazendo grunhidos de desejo não atendido, ela queria era ficar com seus amiguinhos. Não se tratava de falta de amizades, porque Hanny tecia laços com todos os animais após observá-los,houve apenas uma exceção: galinhas e seus pintinhos.

Julho foi especialmente frio no Mato Grosso do Sul no ano 2000, quando a cidade de Bonito recebeu a primeira edição do hoje tradicional (e imperdível) Festival de Inverno. Em Bonito, há abundância de beleza e água, o Sol ilumina o lugar como um diretor de fotografia produzindo as luzes que trarão uma obra de arte visual à vida, são muitas as cachoeiras e grutas, a mata é preservada, farta, vigorosa, deixando em todos uma sensação muito boa de um local onde a vida se dá sem empecilhos, exultante, feliz. As aves atravessam os espaços naturais e urbanos, um espetáculo, há também outros animais correndo ruas, praças, calçadas, extensões de seu ambiente original.

A luminosidade de Bonito deixou Hanny especialmente sensível e atenta a tudo o que acontecia, no quarto da pousada, ela aproximava-se da porta, cuidando do cacarejar de uma galinha e da movimentação de seus cinco pintinhos. Ao atrever-se a vê-los, para além de ouvi-los, Hanny emudeceu e petrificou-se. Após alguns minutos sem reação, ela ajeitou-se a fim de que ficasse o mais imperceptível misturada aos vãos da porta entreaberta, nos cantinhos dos olhos, analisou aqueles espevitados e inquietos animaizinhos. Não havia chegado a nenhuma conclusão simpática e definitiva, quando Dulce, distraída, fechou completamente a porta. Pois Hanny saltou para seu colo, escalando seus tornozelos, olhava Dulce em pedido de socorro; que seres estranhos para a pequena Hanny, que sensação esquisita eram suas presenças tão próximas. Dulce e Hanny encaravam-se, procurando respostas para as inquietações uma no olhar da outra. Quanto à galinha? Não ficou nem sem-graça, não arredou um dedo de suas estranhas e desengonçadas patinhas, continuou seu trabalho de riscar o chão, selecionando grãos a fim de alimentar os filhotes. Pudera, e um bichinho tão estrambólico daquele vai lá se assustar com alguma coisa? Ainda mais com um animalzinho felpudo feito algodão como Hanny?

Bonito fica a 236 quilômetros de Campo Grande, todo o trajeto da viagem marcou Hanny com campos fabulosos, silhuetas de arbustos as mais variadas e movimentos de água incomuns. Hanny fazia umsilêncio religioso, de quem adentra um templo, ao tomar contato com o que há entre o céu, oSol e a terra acolhendo tanto o bioma do Cerrado quanto o do Pantanal.

A diversidade de pessoas é envolvente na mesma medida da natureza, porque são muitos os turistas, porém, nossa querida poodle despertou mais interesse do que a pluralidade de idiomas, Hanny era o atrativo de todas as atenções ao chegar aos passeios adequadamente paramentada, como as pessoas, para as aventuras de barco, nas trilhas e grutas. Certo tucano teve até receio de que seu garboso bico cor de laranja fosse ignorado pelos olhares enternecidos diante da fofura do cachorrinho de pelos de algodão trajando colete salva-vidas... Mas quando se está feliz o que mais se tem é carinho no olhar, havia atenção para todas as criaturas que se faziam presentes.

Nós, humanos, quando próximos da natureza, entre matas e animais, nos sentimos melhores, porque nos permitimos a sensibilidade e assim ficamos mais solidários e generosos para com tantas vidas alheias às nossas. A prática da convivência com estes seres que nos comovem estimulará em nós o mesmo interesse e a mesma atenção para com outros seres humanos; a convivência com plantas, água, vento fresco, terra e com os animais nos faz melhores, guardemos este fato para nunca nos esquecermos do que nos torna amáveis.

* Marília Adrien de Castro, Dulce Martins e Lúcia Carolina escreveram juntas a obra literária "Hanny, Amor Eterno". São contos de uma cachorrinha que vive entre humanos e sonha com os humanos. A proposta, segundo elas, é que os homens se conscientizem mais sobre as questões animais e principalmente como os cães ocupam um espaço muito especial de amor e muitas vezes como um membro da família. As histórias de Hanny são embasadas na vida real ela existiu e até hoje vive no coração da Dulce e dos amigos.

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