Personagem do Mercadão, artista não dá entrevista por "ser pobre e morar na rua"
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De cabelos curtos e dedos ágeis, um senhor ensaia algumas notas de Bossa Nova no violão. Para acompanhar, galões de plástico compõe o cenário e ajudam em uma bateria improvisada.
A primeira vez que vi Antony foi em uma publicação na internet. O vídeo compartilhado em um perfil pessoal chamou a atenção da equipe do Lado B. O reflexo do cotidiano e o talento do artista me fizeram voltar vários dias até o local em busca daquela história.
Ontem, domingo de manhã, o encontrei no Mercadão, mas a recepção não foi de longe a esperada. Antony não queria conversa, não via sentido na minha abordagem. "Pra que falar com pobre, com mendigo? Para espantar barata lá no barraco, o meu é barraco, o seu é chatô. Tem muita gente mais impecável e mais brilhante que eu", diz.
Tentei explicar, em vão, que a proposta do Lado B é fugir do comum, contar histórias. Ele como artista há anos e conhecido por todos no Mercadão nos chamou a atenção. Mas, nada o persuadiu. Para ele, por ser morador de rua, não havia sentido em contar a sua história. "Não adiantaria nada".
O pouco que consegui é que Antony era trabalhador da construção civil, mas um problema nos tendões o afastaram do emprego. Nasceu em Campo Grande, nos Jardins dos Estados, mas no mesmo dia se mudou para a Vila Carvalho. "Toco samba, bolero, polca paraguaia, o que vier", diz, orgulhoso.
Peço para ele tocar um pouco, ele concorda, mas pede ao fotógrafo que não registre. "Não faz filmagem não". Depois de um tempo, conto a Antony que vídeos com ele já estão rodando na internet, o que ele acha engraçado. "Como pode?", questiona. Depois engata uma conversa sobre a necessidade de uma certidão de nascimento para tentar a aposentadoria. "Vou ver se consigo o dinheiro".
Nem com toda a minha insistência ele deixou que fizéssemos fotos, disse que o "não de um homem é só uma vez". Respeitamos e fomos embora.