Piloto e ator: Lilique criou em casa "museu" da novela Pantanal
Luiz Henrique, famoso como Lilique, é o piloto que conquistou todo elenco e direção da novela em 1990, e guarda muitas recordações
Nesta quarta-feira (21), dia do seu aniversário, Luiz Henrique Rondon Santagostino apareceu impecável na varanda da casa, no Bairro Vilas Boas, com sorriso animado. De cara reconhecemos os discos e as fotografias antigas da novela Pantanal que ainda mexe com o coração de muito brasileiro. Mas as recordações não são apenas coisas de fã enlouquecido pela dramaturgia.
Aos 78 anos, com mais de 25 mil horas de voo, Luiz, mais conhecido como Lilique, é o piloto sul-mato-grossense que testemunhou tudo da novela Pantanal. Além de dar todo suporte para as filmagens e o vai e vem de artistas durante os 11 meses de gravação em 1990, ele atuou, ajudou na produção e fotografou os bastidores como ninguém.
O acervo revelado na varanda de casa fala muito da novela, de suas curiosidades e, principalmente, o amor que Lilique ainda mantém por cada momento vivido no Pantanal para as gravações.
Essa relação iniciou pela sua experiência com a aviação e a intimidade com o Pantanal. “Cresci e nasci naquela região, então sempre que alguém precisava ir para o Pantanal, todo mundo indicava meu nome. Foi assim que eu fui parar na cabeça do diretor Jayme Monjardim”, conta.
Por intermédio de um amigo, Lilique foi apresentado ao diretor da novela que deseja encontrar a locação ideal para as gravações. O piloto então levou Jayme até a famosa Fazenda Rio Negro que, à época, pertencia a sua família.
“Quando ele chegou e se deparou com todas as belezas do Pantanal, a nossa vegetação, o clima, o cheiro, ele não teve dúvidas. Não existiu nem essa coisa de negociar, ele quis fechar na hora o negócio. Assim a fazenda foi escolhida como cenário”.
Na varanda de casa Lilique mostra fotos antigas da fazenda, uma delas, de 1929, exibe fazendeiros da região todos reunidos na porta da sede da propriedade. “Essa foto é uma relíquia, quase ninguém tem. Aqui já víamos toda imponência da fazenda que décadas mais tarde conquistou o coração de todo o Brasil como cenário de novela”, diz orgulhoso.
As gravações iniciaram em 1990, e lá estava Lilique. De piloto profissional virou ator e “produtor” da novela. “Não teve um momento que eu não me meti. Eu ajudava a buscar as coisas, ajudava nas gravações, fazia tudo o que o diretor me pedia, voava levando artistas de um lado para o outro naquele pantanal e ajudava até nas gravações aéreas”.
Além de auxiliar nas filmagens, Lilique deu vida ao aviador que fazia a ligação entre Aquidauana e a fazenda de José Leôncio – vivido pelo ator Claudio Marzo. Ele apareceu poucas vezes, mas estar em cena nem o deixava vaidoso. “Tem gente que acha que só o resultado final é importante. Mas os bastidores são incríveis. Foram uma das experiências mais inesquecíveis da vida, tão emocionante quanto os voos”.
Inimitável – Passados 30 anos da trama, Lilique diz que a novela ainda se mostra única, impossível de ser refeita com a mesma emoção. “Há coisas que não se repetem”, afirma. “Podem trazer dezenas de helicópteros e toda tecnologia do mundo, mas o clima que um dia vivenciamos para as gravações da novela Pantanal não se repetirá. Era uma produção rústica e rude posso assim dizer, com filmagens externas que impressionavam”.
Alguns detalhes ele conta aos risos, como a cena de Juma Marruá dando à luz à beira de uma lagoa. “Durante a gravação ela precisava ficar sentada no chão, mas o capim nativo estava alto e a incomodava, então rocei com um facão e as coisas se ajeitaram par que a cena ficasse confortável para ela”.
Lilique quem também preparou artesanalmente o busto para gravação de uma das cenas épicas entre os personagens Tenório e Alcides. “Eu que também busquei a sucuri para algumas cenas. A gente temia que ela escapasse dentro do avião”, lembra rindo.
A relação com o elenco e direção ultrapassou a fronteira profissional. “Foram muitos meses no mesmo lugar, nos tornamos uma família naquele tempo. Ainda lembro-me dos últimos dias, tive de pedir para que o Jaime organizasse o pessoal para ir embora, porque ninguém queria deixar a fazenda. Mesmo com filhos e família, todo mundo se apaixonou por aquele lugar. Se as gravações durassem mais meses, todo mundo ficaria sem reclamar”.
Na caixa de recordações, Lilique guarda uma carta de Paulo Gorgulho, entregue em fevereiro de 1990, como forma de gratidão aos momentos vividos no Pantanal e à dedicação do piloto pantaneiro com todo elenco.
“Virei muito amigo de todos, principalmente da Crica [Cristiana Oliveira], era como uma filha pra mim”, conta. Emocionado, Lilique abre o celular e mostra a mensagem recebida na manhã de hoje: um áudio emocionado de Cristiana por finalmente conseguir falar com o piloto após tantos anos. A atriz prometeu voltar ao Pantanal e rever o sul-mato-grossense assim que a pandemia der trégua.
Olhando as fotografias antigas, a sinopse original entregue por Jayme Monjardim e o disco da novela Pantanal assinado por quase todo o elenco, Lilique diz que o fica é saudade e gratidão. “Se tivesse a chance de voltar no tempo, viveria as gravações tudo de novo. O que fica é muita saudade. Mas é muito gratificante ver que tantos anos depois o carinho colegas continuam”.
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