Uma campo-grandense assina o elenco do filme ‘Ainda Estou Aqui’
Letícia Naveira: a campo-grandense por trás do filme que conquistou bilheterias e mira o Oscar
Quando as luzes do cinema se apagam e os créditos de Ainda Estou Aqui começam a rolar, algo especial acontece: entre lágrimas que o filme desperta, um nome aparece na tela, Letícia Naveira. Nascida em Campo Grande, Letícia é a responsável pelo casting do longa que não apenas lidera as bilheterias nacionais, mas também disputa uma vaga no Oscar e já superou Central do Brasil como o filme mais assistido de Walter Salles nos cinemas.
Apesar do sucesso, com sessões lotadas pelo Brasil, filmes como Ainda Estou Aqui enfrentam a mesma barreira em cidades como Campo Grande: a limitação de espaço para produções que não sejam blockbusters. E basta ir ao cinema para ver. Mesmo assim, o longa arrecadou R$ 8,9 milhões superando até estreias de peso como Wicked e levou mais de 1,8 milhões de pessoas ao cinema.
Por trás desse impacto, há a dedicação de uma campo-grandense, Letícia, uma figura respeitada nos bastidores do cinema, embora pouco conhecida fora do circuito. Em entrevista ao Lado B, ela compartilhou detalhes sobre a jornada que a levou a integrar a equipe de uma obra tão relevante.
A trajetória de Letícia no cinema começou ainda na adolescência, quando o pai, ao perceber seu fascínio por câmeras e filmes de Almodóvar, inscreveu-a em um curso de cinema produzido pelo extinto Cine Cultura. “Ali, com nomes como Hilton Lacerda e Joel Pizzini, me apaixonei completamente”, relembra. Essa paixão a levou a São Paulo, onde estudou cinema. No entanto, a produção de elenco – área que viria a se tornar sua especialidade – só foi descoberta na prática, durante um estágio.
Esse amor pela pesquisa, que se traduz em uma obsessão por detalhes, foi determinante para sua indicação ao casting de Ainda Estou Aqui. “Uma parceira que fiz em A Vida Invisível [filme de Karim Aïnouz vencedor em Cannes] estava trabalhando na pesquisa do roteiro e me indicou ao Walter Salles. Ele queria alguém que buscasse com afinco a família Paiva. Quando recebi o convite, fiquei muito emocionada. Sempre fui fã do trabalho dele e do cinema brasileiro.”
O desafio de construir uma família no cinema
O processo de seleção de elenco foi rigoroso e delicado, como exige uma obra de carga emocional e temática histórica tão marcantes. Letícia e sua equipe mergulharam em arquivos, buscando pessoas reais e histórias verdadeiras. “Sabíamos onde as crianças haviam estudado e buscamos em escolas semelhantes, mas expandimos também para grupos de futebol, balé e teatro. Buscamos crianças sensíveis, conectadas com as propostas.”
A seleção passou por várias etapas, incluindo oficinas com Amanda Gabriel, preparadora de elenco, nas quais o contexto histórico do filme, a ditadura militar, era apresentado aos jovens atores. “O maior desafio foi encontrar a família. A semelhança física e a passagem de tempo exigiam que o público identificasse a mesma personagem em fases diferentes. Além disso, era essencial que a família soasse entrosada e natural.”
Essa busca pela verossimilhança e verdade se estendeu ao elenco de apoio. Letícia destaca que, mesmo para papeis menores, como os militares ou a empregada Maria José, a dedicação dos atores era essencial para contar a história de maneira autêntica.
O reconhecimento de um trabalho invisível
Para Letícia, participar de Ainda Estou Aqui é uma conquista não apenas pessoal, mas também para sua área de atuação, muitas vezes negligenciada. “A direção de elenco é pouco valorizada. É uma profissão que cria oportunidades e pontes e deveria ser mais exaltada. Espero que esse reconhecimento ajude a iluminar o trabalho de outros profissionais da área.”
Ela também reflete sobre o impacto do filme no cenário nacional: “É tão oportuno e importante. Este filme veio lembrar o que ainda nos ronda, o que ainda está aqui. Pedir a volta da ditadura é não saber a própria história. Felizmente, uma obra como essa será sempre um marco no cinema brasileiro.”
Um convite ao campo-grandense
Ao final da conversa, Letícia compartilhou uma mensagem para sua cidade natal: “Vá ao cinema! Ao teatro! Cursos como o que fiz em Campo Grande me deram um norte, desejo que existam mais oportunidades assim, para que outros conterrâneos conheçam esse mundo tão encantador que é o cinema.”
Sinopse de Ainda Estou Aqui
No início da década de 1970, o Brasil enfrenta o endurecimento da ditadura militar. No Rio de Janeiro, a família Paiva - Rubens, Eunice e seus cinco filhos - vive à beira da praia em uma casa de portas abertas para os amigos. Um dia, Rubens Paiva é levado por militares à paisana e desaparece. Eunice - cuja busca pela verdade sobre o destino de seu marido se estenderia por décadas - é obrigada a se reinventar e traçar um novo futuro para si e seus filhos.
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