A coragem de quem abre uma pequena livraria na era da internet
Se fossem levar em conta os índices de leitura no Brasil, as sócias da Leparole, uma livraria no Jardim dos Estados, em Campo Grande, não arriscariam começar o negócio.
Mais do que qualquer sonho, foi preciso coragem para enfrentar os números desanimadores. “Tem que ter amor, não é para ganhar dinheiro”, conta a gerente da empresa, Adriana Reis, de 28 anos.
Localizada na rua Euclides da Cunha, a Leparole chama atenção, primeiro, pela decoração. Para começar, o nome fica no chão. Quem recebe destaque são as réplicas de livros gigantes posicionadas na entrada.
São clássicos da literatura brasileira como Dom Casmurro, de Machado de Assis; da literatura regional, como Memórias Inventadas, de Manoel de Barros; e Best Sellers como “O código da Vince” e “Harry Potter”.
No balcão de atendimento, fitas coloridas que lembram as do senhor do Bonfim. Todas carregam o nome “Leparole”. Além do ambiente, o diferencial, segundo Adriana, está no atendimento.
“Se o cliente liga pedindo um livro e não tem a gente faz de tudo para conseguir”, explica.
É uma “casa livraria”, com cinco ambientes e espaço para leitura, encontros especiais, cursos, aulas, lançamentos de livros, feiras literárias, contação de histórias e até comemoração de aniversário. Tudo em um mesmo local.
Para conquistar o carinho da freguesia, a direção investiu na decoração, aconchego, atendimento diferenciado e um bistrô-café, que funciona como lanchonete e restaurante.
O espaço funciona em uma residência. “Elas transformaram uma casa em uma livraria e em um ponto comercial”, afirma Adriana. O projeto, explica, é ambientalmente sustentável.
Alguns dos móveis são peças que iriam para o lixo. Um carretel de madeira utilizado para enrolar fios foi transformado em uma mesa de centro. Caixotes velhos viraram expositores de livros, assim como madeiras velhas transformaram-se em prateleiras.
Segundo a gerente, o público alvo da livraria - que existe desde 2010 e hoje conta com aproximadamente 15 mil títulos entre obras regionais, nacionais e internacionais - é “variável”.
A carteira de clientes fica próxima de 1 mil. Em apenas dois anos, o sucesso já bate às portas. Tanto que as amigas fundadoras, segundo Adriana, não pretendem investir em publicidade.
Desde a inauguração até agora, o trabalho de divulgação é feito no “boca a boca” e nas mídias sociais como Twitter e Facebook. “É um crescimento sólido”, garante a gerente.
Índice de leitores – Uma pesquisa realizada pelo Instituto Pró-Livro revelou que o brasileiro costuma ler, em média, 4 livros por ano. O índice é inferior ao da primeira pesquisa realizado em 2007. Na ocasião, a média era de 4,7.
A preferência de leitura, no entanto, é por revistas; 48% preferem jornais e 47%, livros. Entre os gêneros que o brasileiro mais costuma ler, a bíblia aparece em primeiro lugar, seguido de livros didáticos, romance, livros religiosos e contos.
No Brasil, segundo o estudo – realizado em 2011, mas divulgado em março de 2012 – o número de leitores fica próximo dos 72 milhões. De acordo com o instituto, considera-se leitor quem leu pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses.
Queda - Se comparado a 2007, houve queda no índice de leitura na literatura infantil e juvenil, poesia e obras voltadas aos temas de história, economia, política e ciências sociais.
Completam a lista histórias em quadrinhos, biografias, enciclopédias e dicionários, obras de artes, esoterismo, culinária, artesanato e assuntos práticos.
Falta de interesse - A pesquisa também revelou que a principal razão para os brasileiros estarem lendo menos é o desinteresse (78%); 15% afirmam que é por conta das dificuldades como limitação física (visão), leitura devagar, falta de concentração e ou de compreensão.
Apenas 4% responderam que a razão principal é por falta de acesso.