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Comportamento

“Ninguém solta o guidão de ninguém”: é pela bike que elas querem mudar o mundo

Grupo de mulheres se reuniu em Campo Grande para incentivar outras mulheres a andar de bike

Lucas Mamédio | 08/03/2020 07:23
"Ninguém solta o quidão de ninguém", diz a mulherada (Foto: Kísie Ainoã)
"Ninguém solta o quidão de ninguém", diz a mulherada (Foto: Kísie Ainoã)

A primeira dica de Cintia é sobre a mochila. Essa é a primeira de várias sugestões que Cintia Possas, professora, dá durante a “Cicletada de Las Niñas”. Para ela, usar mochila nas costas é roubada quando se anda de bicicleta. Pesada demais, pode te desequilibrar, deixa as costas suada, “um horror”. Para resolver o problema, ela sugere que as meninas usem uma cestinha guarda-volumes na frente da bike, de modo que tudo que elas precisam carregar seja colocado lá dentro. O encontro com mulheres cisgênero e trans, que visa promover a utilização da bicicleta pelas mulheres como meio de locomoção, foi realizado na Praça do Rádio, em Campo Grande.

“Não somos exatamente um grupo de pedal, usamos a bicicleta como meio de locomoção realmente”, explica Cintia, que também é uma das organizadoras.

Três grupos organizaram a “Cicletada de Las Ninãs”: o Elas nos Planos, GT do Bici nos Planos, e Bike Anjo Campão. O evento faz parte de um calendário internacional promovido pelas “Ciclistas Sueltas”, grupo chileno de mulheres ciclistas, e é em alusão ao Dia Internacional da Mulher celebrado neste domingo (8).

Cintia explicando a utilização de alguns instrumentos (Foto: Kísie Ainoã)
Cintia explicando a utilização de alguns instrumentos (Foto: Kísie Ainoã)
Tays aprendendo como começar no mundo da bike (Foto: Kísie Ainoã)
Tays aprendendo como começar no mundo da bike (Foto: Kísie Ainoã)

A ideia segundo Cintia é, por meio do exemplo, mostrar como a mulher pode começar a usar a bicicletas. “Muitas meninas não andam de bike porque não sabem por onde começar, o que é necessário”.

Esse é o caso da jovem estudante Tays Miriam. Depois de uma experiência andando de bicicleta no litoral de São Paulo, ela voltou para Campo Grande com a certeza de iria comprar uma bike pra andar, mas aí vieram as dúvidas: o que comprar? Onde comprar? Como? E principalmente, existe alguma especificidade pra mim mulher?

Imbuída de seu caderninho e sem bike ainda, ela anotava todas as orientações passadas pelas organizadoras. “Pra além do exemplo, aqui elas estão me ensinando, estão falando por onde devo começar, que cuidados tenho que tomar, estou recebendo dicas para quando tiver minha bicicleta”, diz Tays.

Uma oficina de conforto e segurança também foi dada, até remendar pneu foi ensinado. “Muitas mulheres dependem dos homens pra manutenção da bicicleta mesmo, e esse é outro fator que inibe elas de começarem, então aqui mostramos como se faz pra isso não ser mais um fator que as afasta”, explica Cintia.

Roda de conversa sobre a experiência de cada uma com bicicleta (Foto: Kísie Ainoã)
Roda de conversa sobre a experiência de cada uma com bicicleta (Foto: Kísie Ainoã)

Para a advogada Michele de Andrade, ciclista desde 2015, existe um viés político importante no ato de uma mulher usar a bicicleta, principalmente em se tratando de assédio.

“Nós mulheres somos assediadas muitas vezes a pé ou onde estivermos, mas já ouvi relatos de mulheres que preferem andar de bike porque a velocidade proporcionada por ela, evita, de alguma forma, o assédio.

Cintia também atenta para o papel da mulher na conscientização da necessidade da universalização do uso das bicicletas. “É importante que todos usem a bicicleta, homens, mulheres, trans, quem for, mas também é importante que as mulheres puxem essa mudança de comportamento, e é o que estamos tentando fazer aqui.

Depois, claro, elas deram um rolê de bike pela Afonso Pena.

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