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JULHO, QUARTA  17    CAMPO GRANDE 28º

Comportamento

1º julgamento da 'Vila' Campo Grande faz 111 anos e 'assassino' saiu livre

Enquanto o crime aconteceu em 1909, o julgamento ocorreu 1912 e as únicas provas eram o "ouvi falar"

Aletheya Alves | 13/09/2023 07:39
Imagem histórica de Campo Grande em 1912, quando ainda era comarca. (Foto: Arca)
Imagem histórica de Campo Grande em 1912, quando ainda era comarca. (Foto: Arca)

Quando Campo Grande ainda levava Vila no nome, em 1912, o primeiro caso a ir para júri popular acabou com o suspeito de assassinato vendo a liberdade reinar. Na época, os depoimentos foram todos na base do “eu ouvi” e, no fim das contas, um esfaqueamento que acabou em morte entrou para história do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).

Todo escrito à mão, o processo que começou em 1909 tinha como réu um homem chamado João Bernardes de Freitas, que teria matado Francisco Velloso com golpes de faca no dia 6 de junho daquele ano. Se desenvolvendo, Campo Grande era comarca e a “tranquilidade” da cidade permitia que os vizinhos contassem seus depoimentos na base do ouvido.

Conforme o relatório da polícia, o crime aconteceu na “Rua Principal” da cidade, o que indica, na época, a 26 de Agosto. Narrando sobre o que aconteceu, a primeira pessoa a ser ouvida foi a mãe de João, Maria Claudina de Freitas, que contou ter fugido para um “brejo” quando viu que algo complicado estava acontecendo, brejo que hoje é o centro comercial da cidade.

“No dia, seu filho teria comparecido à residência acompanhado de José Rosa Pires e de Francisco Velloso. Maria ouviu Velloso dizer a José Rosa Pires: ‘hoje eu estou por sua ou por minha conta’. Começou então briga entre os três e corri do local”, diz o processo.

Quando a mãe voltou, o corpo já estava no chão de sua casa. Tomando os vizinhos como testemunhas, a polícia recebeu vários “eu ouvi” como provas. Um homem, identificado como Juvenal, disse que estava nos Correios e ouviu um tiro, com o crime sendo repassado como fofoca, outro homem se bastou a dizer “sabe que o João Bernardo fez um serviço?”.

Todo o processo foi escrito à mão e disponibilizado pelo TJMS. (Foto: Reprodução/TJMS)
Todo o processo foi escrito à mão e disponibilizado pelo TJMS. (Foto: Reprodução/TJMS)

Outra testemunha, Antônio Francisco de Almeida, também contou que estava na igreja e que ouviu um tiro. Já Antônio Marcello de Almeida, outro vizinho, explicou à polícia que não só ouviu o tiro, mas uma confissão de João Bernardes, “saíram na porta da casa e viram João Bernardo com uma faca gritando ‘matei Velloso’”.

Em todos os casos, as testemunhas reforçaram que o homem, por vezes chamado de Bernardes e também Bernardo, “era homem de má recomendação”.

Na época, a defesa dele informou que as testemunhas não eram válidas justamente pelas provas de "ouvidos" e que as suspeitas também eram direcionadas para outras pessoas.

Identificando João como um homem pobre, o advogado defendeu que o verdadeiro criminoso seria José Rosa Pires, um “homem rico e protegido”, de família influente e hoje homenageado com nome de rua central em Campo Grande.

Sobre o réu ter assumido o assassinato ao dizer que tinha matado Velloso, o advogado também argumentou que ocorreu uma confusão. Na dinâmica contada pela defesa, Velloso teria disparado um tiro contra José e, enquanto João tentava o desarmar, José esfaqueou o homem. “Quando João Bernardo viu Velloso cambaleando, gritou ‘mataste Velloso’ e não ‘matei’, e este grito foi ouvido a 50 metros de distância.

No fim das contas, o caso foi a júri popular com 8 jurados e, após João negar o crime, a decisão por cinco votos foi pela liberdade do homem. Assim  terminou o grande escândalo e o maior julgamento do início da história de Campo Grande.

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