Amigo pedalou 4 horas para dar adeus a Gaúcho, que brilhava na Jacy
Dono de um dos botecos mais animados na Vila Jacy, Gaúcho morreu na semana passada
Há sete dias, a porta do Bar do Gaúcho, na Vila Jacy, se abre de um jeito diferente. No lugar da risada solta, uma voz embargada pelo choro se faz presente nas mesas. Tudo reflexo da saudade, desde que Osmar Ferreira da Luz, famoso como Gaúcho, se despediu da vida, após complicações em cirurgia cardíaca.
Natural de Lagoa Vermelha (RS), Gaúcho vivia em Campo Grande há décadas. Construiu com a esposa Marilene um pequeno comércio e ficou famoso pelo Bar do Gaúcho, espaço que durante anos serviu de palco para diversos artistas, especialmente às sextas-feiras.
“Foi um comerciante que tinha clientes e amigos como a sua família. Cativante e prestativo, ele estava sempre pronto para ajudar, não importava a necessidade. Tirava dele para dar ao próximo, não tinha maldade no coração”, lembra a filha, a jornalista Daiane Luz.
Era rotina os clientes darem a famosa “palhinha” na sombra refrescante do pé de manga, uma das maiores paixões de Gaúcho. Com o passar do tempo, ele foi juntando cada vez mais amigos, que chamavam outros amigos, até que local ficou famoso pelo encontro que tinha até lema: “Não basta ter cachaça, tem que ter modão”, dizia.
“Centenas de músicos passaram pelo local, de aspirante a cantor a cantores profissionais, nacionalmente conhecidos. Ivo de Souza é um exemplo, fez do Bar do Gaúcho sua segunda casa. Wanderley dos Prazeres era quem iniciava a cantoria todas as sextas-feiras, além de ser um grande amigo”, lembra a filha.
Por lá, a cantoria tinha hora para começar e terminar, em respeito aos vizinhos. “Não gostava de incomodar. Toda vez que chegava no horário de acabar a cantoria, ele fazia seu agradecimento aos clientes e amigos que ali estavam e aos vizinhos que o aguentavam até mesmo horário de sempre”.
Antes da pandemia, Gaúcho realizava duas grandes festas que fechavam a rua. A Festa Junina e Festa da Primavera, que reuniam centenas de pessoas e era muito aguardada durante o ano todo. “Vinha gente dos quatro cantos da cidade para prestigiar o local e principalmente, o Gaúcho”.
Ele tocava o bar junto com a família, esposa e filhas. De tão querido, reuniu inúmeros amigos até mesmo na sua despedida.
“Muito emocionado, Tom Carreiro pedalou por quase quatro horas para se despedir do grande incentivador”, diz Daiane. “Não tenho palavras para agradecer o senhor Osmar, foi ele quem me ajudou a gravar um CD. Se não fosse ele, não tinha tido a oportunidade”, disse Tom à filha.
A despedida na semana passada teve choro, mas nenhuma tristeza foi maior do que a gratidão e as boas lembranças de Gaúcho. “Foi uma despedida linda, digna de todo o carinho que transmitiu, ao som das vozes embargadas da família e dos amigos, cantarolando as musicas que ele mais gostava, Gaúcho recebeu uma salva de palmas antes da partida final e mereceu”, finaliza a filha.
Osmar deixou esposa, três filhas, um filho e quatro netos. “Em legado de bondade que jamais será esquecido”, acrescenta Daiane.
A Missa de Sétimo Dia será hoje, às 19 horas, na Paróquia Cristo Luz dos Povos. O bar está funcionando, mas a tradicional sexta-feira, por enquanto, segue suspensa.
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