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Comportamento

Aos 111 anos, Antônio brinca com segredo para viver

Tendo criado 9 filhos e netos, o benzedeiro faz questão de manter o humor e memória ativa

Aletheya Alves | 19/06/2023 06:41
Antônio completou 111 anos no dia 13 de junho. (Foto: Juliano Almeida)
Antônio completou 111 anos no dia 13 de junho. (Foto: Juliano Almeida)

“O que eu já vi de melhor nessa vida? Não posso contar, é melhor. E o que de mais ruim? A maldade, mas essa eu tirava das pessoas”. Em seus 111 anos, Antônio José de Jesus foi e continua sendo de tudo um pouco, desde observador da avó que curava com “mato” em Sergipe até ele mesmo se tornar benzedeiro em Mato Grosso do Sul e se transformar na história viva favorita da família.

Tendo completado 111 anos no dia 13 de junho, dia do santo que garantiu seu nome, Antônio aproveitou a festa de aniversário no meio da família. Com cigarro na mão, achou estranho quando a neta explicou que a “reportagem” estava por ali para fazer com que sua história chegasse até o Interior do Estado e, quem sabe, até Sergipe.

Brincando com a própria timidez, resolveu fazer graça durante os primeiros cinco minutos de entrevista para se apresentar. “Mas por que estão fazendo tanta foto? Vão mandar para o Rio, para Paris?” e, aos poucos, decidiu que também queria mostrar mais do que o senso de humor.

Enquanto parte da família dançava, Antônio contou que já havia aproveitado muitas músicas durante a vida, mas acabou aposentando os ritmos. E o mesmo aconteceu com as décadas de benzeção, “passei isso para outras pessoa já”.

Família se reuniu para prestigiar o patriarca mais uma vez. (Foto: Juliano Almeida)
Família se reuniu para prestigiar o patriarca mais uma vez. (Foto: Juliano Almeida)
Rindo da idade, Antônio faz questão de brincar com a "velhice". (Foto: Juliano Almeida)
Rindo da idade, Antônio faz questão de brincar com a "velhice". (Foto: Juliano Almeida)

Mas, voltando para o início da própria história, explica que tudo começou com a curiosidade de criança. “Se tinha alguma amarração, minha avó colocava a mão e já resolvia. Eu ficava vendo ela fazendo aquilo com as crianças, ajudando, e aprendi”.

Antes de se mudar para Mato Grosso do Sul, precisou trabalhar em um engenho de cana-de-açúcar ainda muito novo e, se orgulhando de dizer, conta que tudo era mais fácil para ele. “Às vezes, se tinha alguma coisa que parava de funcionar, já me chamavam. Eu dava uma olhada e sabia na hora como arrumar mesmo sendo mais novo que todo mundo”, narra.

Depois de receber os conhecimentos ancestrais e trabalhar em Sergipe, veio a chance de se mudar para Mato Grosso do Sul e cuidar de fazendas de gado. Apenas com coragem e necessidade de trabalhar, perdeu as contas de quanta madeira já precisou carregar na área rural.

Outra coisa que também desistiu de contar foi a quantidade de casas em que acompanhou os partos feitos por sua esposa, além do número de benzeções. E, nesse contexto, é que construiu a família com, de certa forma, nove filhos.

“Tive dois filhos homens e duas filhas mulheres de sangue, mas que criei já foram vários outros”, resume. Integrando a família, Wania Catielli de Jesus é uma das netas que se transformaram em filhas.

Criada por Antônio, ela narra que o avô sempre foi um bom contador de histórias e conseguia manter a família atenta. “Ele é o nosso herói mesmo, sempre foi. Trabalhador e depois que minha avó faleceu, foi ele quem continuou cuidando da gente, nunca deixou faltar nada”.

Explicando sobre como continua ativo, a neta detalha que a vida garantiu um envelhecimento saudável para o homem que tanto batalhou. “Não toma remédio para nada, continua fazendo as coisas dele, saindo com a gente. É engraçado porque olho para ele e não consigo pensar que tem a idade mesmo”.

Também filha de criação, Iasmin de Jesus Fernandes conta que o pai a adotou quando ainda era recém-nascida. “Ele já tinha mais de 80 anos, é até difícil de pensar nisso. Minha mãe adotiva foi a parteira da minha mãe biológica. Quando não me quis, foi essa família que me acolheu e ele me criou. Não consigo nem explicar o quanto ele significa para mim”.

E, respondendo à pergunta mais óbvia a um dos convidados, que em algum momento iria surgir, deu risada para explicar sobre como chegar aos 111. “Amor pela vida e parar de beber cachaça, esse que é o segredo. Parei fazem uns dez anos, mas é o segredo”.

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