ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
NOVEMBRO, SÁBADO  16    CAMPO GRANDE 32º

Comportamento

Após diagnóstico de esclerose, Bruna realiza o sonho de ser mamãe

Diagnóstico não é destino: frase pode parecer clichê, mas resume a vida de Bruna, que vivenciou parto normal e amamentação

Paula Maciulevicius Brasil | 08/11/2020 08:01
Íris com os pais: Bruna e Marcos (Foto: Arquivo Pessoal)
Íris com os pais: Bruna e Marcos (Foto: Arquivo Pessoal)

Em 2016, ouvi entre lágrimas e medos, a história da então acadêmica de Enfermagem, Bruna Gabriella da Silva Batista, que no último ano da faculdade, descobriu a esclerose múltipla. O maior medo dela ali era a cadeira de rodas. Quatro anos depois, a enfermeira obstetra e ginecológica prova que diagnóstico não é destino. Ela não só ajustou a medicação e o tratamento, como conseguiu realizar o sonho de ser mãe e vivenciar a amamentação sem que a doença atrapalhasse.

Abaixo, o relato de Bruna, hoje com 27 anos e mãe da Íris:

Meu sonho sempre foi ser mãe, vivenciar a gestação, parto e amamentação".

"Em 2016 recebi o diagnóstico de Esclerose Múltipla, iria começar a usar medicações muito fortes para fazer o tratamento. Após alguns meses de início de tratamento, uma enfermeira que prestava serviço pra empresa que fornecia minha medicação, me disse que quando eu engravidasse, o tratamento teria que parar e eu correria o risco de ter um surto da doença assim que ganhasse bebê e por esse motivo eu haveria de reiniciar o tratamento imediatamente após o parto, impossibilitando assim a amamentação.

Eu, enfermeira, me via totalmente impotente, me sentia uma leiga, bem que dizem que quando é com a gente, o conhecimento que adquirimos, se esvaece.

Fiquei totalmente chateada com a informação, saí do consultório chorando 'como eu não iria amamentar meu filho?'. Isso fazia parte do meu sonho de maternidade. O tempo passou, houve uma troca de medicação em 2017, por motivo de falha terapêutica, eu segui minha vida na minha profissão, com a medicação nova e a certeza de que eu não poderia amamentar meu filho.

Final de 2018 eu e meu esposo Marcos decidimos que queríamos engravidar, nesse tempo eu já havia me formado e concluído a pós graduação em Enfermagem em Obstetrícia e Ginecologia, o que fez meu desejo de ser mãe ser mais forte ainda. Parei meu anticoncepcional, fui no médico fazer os exames que antecedem uma gestação, tudo perfeito, comuniquei meu neurologista, que me orientou sobre os cuidados com a interrupção do tratamento assim que tivesse o meu positivo".

Já em trabalho de parto, Bruna saindo de casa para o hospital, no dia 8 de agosto deste ano (Foto: Arquivo Pessoal)
Já em trabalho de parto, Bruna saindo de casa para o hospital, no dia 8 de agosto deste ano (Foto: Arquivo Pessoal)

"Um ano e dois meses depois, no dia 26/12/2019 o positivo chegou, naquele momento eu não lembrava mais da Esclerose, minha profissão sumiu da minha mente e eu só tinha felicidade de ter a minha tão sonhada gestação. Após a euforia, vieram as dúvidas, o medo, eu era somente uma gestante que precisava de ajuda assim como qualquer outra, a profissão não fez muita diferença no meu comportamento. 

A gestação foi passando e eu não tinha sintoma algum da doença, tudo sumiu, eu só sabia curtir minha gravidez, com a mesma insegurança de quem não tem uma formação como a minha, cheguei a contratar uma equipe de Enfermeiras Obstetras, a Dalla Madre, para me auxiliar durante a gestação, exercícios, aulas sobre fases do trabalho de parto, mesmo tendo a formação equivalente a delas, naquele momento eu me via frágil, todo o conhecimento parecia que havia sido deletado, a presença da Suelyn e da Eloína no meu processo de gravidez foi de grande valia e fez total diferença, afinal quem cuida também precisa de cuidados.

Meu esposo esteve muito empenhado para adquirir conhecimentos, para estar preparado para ser o acompanhante no dia tão esperado, o parto. Sonhamos a gravidez toda com esse dia, como iríamos nos comportar, eu e as meninas preparamos ele pro pior, trabalho de parto longo, muita dor, muitos gritos, muito 'tira a mão de mim', no meu subconsciente eu também me preparava pro pior, eu não tinha medo, sabia que precisava passar pelo processo da dor".

Minutos antes de Íris nascer, Bruna com a enfermeira e doula Suelyn (Foto: Arquivo Pessoal)
Minutos antes de Íris nascer, Bruna com a enfermeira e doula Suelyn (Foto: Arquivo Pessoal)

"Sábado, dia 08/08/2020, eu estava de 37 semanas e 6 dias, eu e Marcos havíamos combinado de ir ao Centro da cidade comprar as últimas coisas pra mim e pra bebê, mas não deu tempo. Às 05h57 da manhã minha bolsa estourou, pensamos 'é hoje', ele terminava de ajeitar a minha mala que não estava pronta e eu comecei entrar em trabalho de parto ativo, muita dor, muitos gritos, a equipe monitorava minhas contrações de longe e pra surpresa de todos, eu já estava muito avançada, me recordo que durante as contrações eu de cócoras na beira da cama pensava:

Será que essa dor toda é só do começo mesmo? Tem como piorar?

Quando a equipe chegou na minha casa eu já estava com dilatação total e a minha filha já se encontrava no canal vaginal, às 08:50h da manhã, menos de 3h após a bolsa estourar, quando elas me passaram essa informação em termos técnicos, eu mesmo sem responder muito pelos meu atos só pensava “graças a Deus, foi tudo rápido, já vai nascer”. Corremos pro hospital e tive a infelicidade de me deparar com uma plantonista intervencionista, que cometeu diversas violências obstétricas comigo, logo eu, enfermeira obstetra, que havia me preparado a gestação toda, tinha conhecimento científico o suficiente pra saber que aquilo estava errado, meu esposo, minha doula e eu ali com dores, já sentia o cabelinho da minha filha e vendo acontecer todas aquelas atrocidades comigo. Até que eu decidi me impor, neguei um dos procedimentos que ela estava fazendo em mim sem necessidade, ela muito contrariada, respeitou. Fui informada que haveria troca de médico e pra minha surpresa seria minha médica do pré-natal, doutora Mariana Lobato, aliviei.

Após a chegada da médica todo o cenário mudou e minha filha nasceu em menos de 30 min, às 13:11h, com uma assistência maravilhosa".

A hora de ouro: bebê pele a pele com a mãe e já no peito. Ao redor, pai e avó (Foto: Arquivo Pessoal)
A hora de ouro: bebê pele a pele com a mãe e já no peito. Ao redor, pai e avó (Foto: Arquivo Pessoal)

"A amamentação foi e tem sido viável até o momento, 4 meses de nascida, a Esclerose Múltipla está em remissão, mesmo sem medicação, meus conhecimentos de Enfermagem ainda desaparecem quando eu preciso aplicar comigo ou minha filha, mas estamos bem.

Depois de toda a experiência vivida, a má assistência com o parto por parte da primeira profissional, depois de vivenciar um pós parto doloroso, de estar vivenciando a amamentação, tenho certeza que ao retornar aos meus atendimentos com as gestantes, puérperas e seus bebês, eu terei uma visão muito diferente de tudo, irei retornar com uma bagagem recheada de informações com vivências reais e que ninguém te conta antes de ser mãe, com mais empatia com as queixas das pacientes, com muito mais carinho e aconchego".

Tem uma sugestão de tema ou relato de parto que queira ver no Mãe também reclama? Envie para: paulamaciulevicius@gmail.com.

Nos siga no Google Notícias