Assassino levou Danilo e memorial lembra o quanto ele cultivava o afeto
Grupo de amigos do mestrando assassinado se reuniu na biblioteca da UFMS na noite de sexta-feira
A biblioteca da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul foi preenchida pelo silêncio da perda e saudade que amigos sentem de Danilo Cezar de Jesus Santos. No dia 5 de março, o mestrando de Antropologia Social pela UFMS foi assassonado aos 29 anos.
Na área externa da biblioteca, um grupo composto por cerca de 35 pessoas se reuniu para participar de homenagem ao estudante. Na sexta-feira (17), às 18h40, as luzes do local foram apagadas e os acadêmicos se sentaram no chão. Ali, eles contaram uns aos outros as experiências compartilhadas com o ‘Dan’.
O momento simbólico contou com a participação do sacerdote Yan Kitalanguange. No discurso, o sacerdote declarou que o estudante pregou o amor nos lugares que passou. “Ele teve fé em acreditar em cada um que estava do seu lado, ele pregou o amor em lutar por aqueles que mais precisava e fez a caridade para aqueles que o procuravam”, diz.
O sacerdote também falou sobre a dor de perder alguém, mas que a memória dele não pode ser apagada. “É difícil dar a Deus uma pessoa, mas são coisas que nos fazem crescer e pensar no que realmente somos, o que estamos fazendo pelo nosso próximo. Não vamos deixar a memória dele ser apagada”, afirma.
Carinho, afeto e amor - Para quem não chegou a conhecer Danilo, os relatos de amigos fornecem uma boa descrição sobre o pesquisador que esbanjava afeto, lutava por causas sociais e estava sempre disposto a fornecer um abraço. O memorial foi carregado de pesar, lágrimas e breves risos, pois Dan também representava alegria.
Amiga próxima do mestrando, Thays Oliveira relata que ele a inspirou. Durante uma breve fala, ela conta a segurança que representava. “Não tinha um lugar onde o Danilo não ia, não conversava, não era bem recebido. O Danilo pra mim foi e é ainda uma pessoa que me inspirou muito. A gente fez muitas trocas que fez que eu me sentisse segura em vários lugares que eu e ele não nos sentíamos seguros. Ele fazia com que a gente acreditasse que éramos nós contra o mundo, que a gente ia permanecer e existir nos espaços do nosso jeito de existir e discutir as coisas”, destaca.
Gabriel Morais relata o quanto Danilo sempre foi cuidadoso com ele. “Toda vez que a gente se encontrava, Danilo fazia questão de me abraçar, dizer que me amava. Afeto pra mim é uma palavra que define o legado dele”, ressalta.
O jovem também lembrou que a crueldade do crime não pode ser maior que o legado do mestrando. “O amor que o Danilo e que a gente carregava através dos atos de afeto dele não sobreviveu à crueldade que ele foi acometido. Mas isso aqui, a gente só está aqui, porque o amor que ele espalhou uniu todos nós. Isso é muito grande”, comenta.
Para Paulo Vitor Rosa Mota, que durante um tempo foi vizinho de porta no mesmo prédio, ficam as lembranças de almoços compartilhados e a primeira viagem juntos. “Eu lembro que uma das primeiras viagens que fizemos juntos foi pro Festival de Inverno de Bonito. A gente tinha 50 reais e um sonho”, expõe.
Em outro momento da fala, Paulo falou sobre um dos trabalhos de pesquisa que Danilo realizou. “Esse trabalho é especial pra mim, porque no processo de fazer o Danilo me chamou para que eu corrigisse o texto. Antes dele sair eu tive acesso à forma que ele escreve e eu gostaria que a gente tirasse um tempo pra ler. É uma experiência cuidadosa, delicada, respeitosa como ele”, explica.
Os amigos dele fizeram um chaveiro com a foto de Danilo e inseriram um QR Code para o acesso à pesquisa ‘As singularidades do banho de São João em Ladário/MS'. Após a conclusão do mestrado, Dan pretendia continuar a carreira acadêmica e fazer doutorado.
Danilo deixa a mãe Maria Lucia, irmão, sobrinho e uma legião de amigos.
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