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Comportamento

Burnout pode chegar cedo e Gabriela quase ‘enlouqueceu’ aos 22 anos

Psiquiatra explica o que pode levar uma pessoa a um estado de ‘colapso mental’ e quando buscar ajuda

Por Idaicy Solano | 18/07/2024 06:31
Gabriela compartilha sua experiência ao sofrer um burnout (Foto: Paulo Francis)
Gabriela compartilha sua experiência ao sofrer um burnout (Foto: Paulo Francis)

“Comecei a sentir pesos de responsabilidades grandes, e várias ao mesmo tempo. Chegou a um ponto que não via fim. A faculdade ia entrar de greve, ia continuar estagiária e estava me sentindo sobrecarregada”. O relato é da estudante universitária Gabriela Manzano, 22, que ao encarar dois estágios ao mesmo tempo, a incerteza de concluir a graduação e a sobrecarga de tarefas, acabou sofrendo um burnout.

Gabriela relata que o que a levou a sofrer um burnout foram diversos fatores de estresse em sua vida, tanto profissional quanto acadêmica, que foram se acumulando no decorrer de longos e intermináveis meses. O principal fator que a fez entrar em estado de completo colapso mental, foi a ameaça de seu curso entrar em greve na faculdade. Isso porque Gabriela, além de estar com a  graduação atrasada em alguns semestres, está na reta final, faltando apenas uma matéria para concluir a graduação.

Outro fator, é que Gabriela estava em dois estágios ao mesmo tempo, ambos de meio período, o que a fazia mais da metade do seu dia girar em função do trabalho. Ela desempenhava funções de grande responsabilidade e confiança, o que fazia sentir o ‘peso’ de uma equipe inteira contando com o bom desempenho dela.

A jovem relata que com o tempo, o peso de suas responsabilidades, atrelado ao sentimento de atraso, medo do curso parar, e não conseguir a sonhada efetivação e promoção de cargo, por falta de um diploma, a fizeram entrar em um estado pesado de sobrecarga e exaustão.

“Era pra ter me formado ano passado, comecei a me desesperar, com medo do meu curso aderir a greve e eu atrasar mais um ano. Além disso, estava fazendo meu TCC e não poderia parar na metade. Nos estágios eu comecei a sentir frustração muito grande por não estar formada e continuar como estagiária”, conta.

Gabriela conta que chegou a um ponto em que seu corpo passou a apresentar sintomas físicos, resultado de todas as emoções que estava sentindo. Tudo começou com uma tremedeira no olho. Um tempo depois, ela relata que precisava cumprir com uma tarefa específica, que lhe causa uma pressão interna muito grande, então ela teve uma crise de ansiedade, começou a chorar, e precisou ir embora para casa.

Depois disso, Gabriela conta que buscou ajuda psiquiátrica, e precisou ser afastada dos dois estágios por 20 dias.

“Minha relação com o trabalho depois de tudo isso mudou um pouco no sentido de entender meus limites. Eu troquei meus dois estágios, por quais carrego enorme gratidão, por um outro que sempre tive sonho de fazer. Com isso, ganhei meio período do dia pra cuidar da minha saúde. Hoje procuro entender e comunicar meus limites. Hoje em dia espero não me render mais a pressa de conquistar tudo muito rápido, respeitar meus limites, aprender a falar não e, dessa forma, fazer o trabalho que tanto amo com a mesma qualidade, mas com respeito por mim mesma”, declara a jovem.

Mas afinal, o que é a Síndrome do Burnout? 

Segundo explicações do médico psiquiatra Guilherme Arthur Fatini Moreira, a Síndrome do Burnout, também conhecida por esgotamento profissional ou exaustão emocional, é causada quando as condições associadas ao trabalho, como a sobrecarga de responsabilidades, jornadas longas e exaustivas e até o mesmo o próprio ambiente, acaba adoecendo psicológicamente um indivíduo.

“[Pode ocorrer] com gestão de pessoas inadequada e a pressão por resultados, o que acaba gerando uma ‘perda de relação’ com o trabalho, acarretando um trabalho que adoece o indivíduo e o indivíduo adoecido a cada dia se torna mais insatisfeito e menos produtivo no trabalho”.

De acordo com o psiquiatra, no dia a dia é observado uma maior incidência de casos em profissionais de saúde, professores e bancários, que trabalham com metas altas e podem sofrer pressões por resultados.

Quando procurar um profissional? 

O indicador é procurar profissionais da saúde, psicólogo ou psiquiatra, ao apresentar sintomas  físicos de fadiga excessiva e persistente, insônia, dores de cabeça e problemas gastrointestinais; além dos sintomas emocionais, como sentimentos de fracasso, falta de motivação, irritabilidade, dificuldade de concentração e perda de memória.

Guilherme diz que o tratamento da síndrome de burnout é complexo e envolve um conjunto de profissionais, como psicólogos e psiquiatras. O profissional orienta que o ideal é fazer o tratamento de psicoterapia, e se necessário, usar medicação, porém o mais importante, é buscar novos hábitos e estilos de vida mais saudáveis, que respeitem os limites do corpo e da mente. Alguns exemplos são prática regular de atividade física, alimentação saudável e boas noites de sono.

Pode rescindir? 

A resposta é sim! Conforme explica o psiquiatra, uma pessoa que já teve qualquer quadro psiquiátrico prévio,  tem uma suscetibilidade maior a ter a Síndrome de Burnout, além do risco de desenvolver ansiedade e depressão.

Em grande parte, os casos reincidentes são de pessoas que tem essa exaustão relacionada ao trabalho, dá um tempo, faz o tratamento, melhora, mas não muda o ambiente de trabalho ou os hábitos, que é o que Guilherme chama de “fator estressor desencadeante”.

“O segundo ponto é que todas doenças mentais, apesar das pessoas acharem que são coisas da cabeça, na verdade elas são doenças químicas, então tem uma função de pequenos hormônios dentro do nosso cérebro. Então nem sempre elas recuperam totalmente, às vezes a pessoa melhorou a clínica mais ainda sobra um “fiozinho desencanado” e em algum momento a doença pode surgir. Quem não buscar tratamento, pode ser que cronifica a síndrome. Ela deixa o indivíduo vulnerável a outras condições psiquiátricas e elas podem ser recorrentes e até crônicas”, finaliza.

Índice de transtornos mentais sofridos por trabalhadores em MS

Nos últimos cinco anos, a saúde mental de servidores estaduais de Mato Grosso do Sul piorou. É o que mostra o último boletim do Cerest-MS (Centro de Referência em Saúde do Trabalhador) publicado em junho de 2024 e referente ao período de 2019 a 2023.

O índice de transtornos mentais notificados ao Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação) saltou de 121 para 151 casos no estado, aumento de 26%.

O estudo, pontua que a pandemia de covid-19 foi determinante para o aumento dos registros. Os agentes comunitários de saúde foram os mais afetados com aumento de transtornos relacionados à saúde mental no período analisado.

Em seguida aparecem os assistentes administrativos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, agentes de saúde públicos e médicos veterinários.

No setor de comércio, a função que aparece em destaque são os operadores de caixa e faxineiros. Enquanto no setor da educação, os auxiliares de desenvolvimento infantil.

Arte: Lennon Almeida
Arte: Lennon Almeida

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