Campeão dos rodeios, Mozart fala da loucura que é pendurar as botinas
Aos 58 anos, hoje ele leva uma vida mais tranquila, mas se emociona ao lembrar dos '8 segundos'
Mozart Rodrigues Monteiro Jr sempre soube que seria peão. Na infância, ele montava em bezerro e foi assim que teve início a trajetória do 1º campeão do ‘Barretos International Rodeo’. A disputa foi realizada durante a Festa do Peão de Barretos em agosto de 1993 quando o sul-mato-grossense desbancou cinco nomes internacionais.
Aos 58 anos, o ex-peão vive uma vida do outro lado dos rodeios que movimentam Campo Grande e municípios no interior do Estado. Mozart deixou para trás a montaria e quando não está trabalhando na chácara atua como avaliador nas disputas.
Trajado de bota e usando chapéu, Mozart conversou com o Lado B e lembrou dos velhos tempos. Os dias de glórias marcados por premiações e intercalados com treinos e idas aos hospitais deixaram de ser rotina em 2006. Naquele ano, o peão participou do ‘Encontro dos Campeões’ em Barretos, levou o 4º lugar e depois disso ‘pendurou’ as botinas.
O que fica é a saudade que faz o peão ‘molhar os olhos’ nos dias mais sensíveis. Mas antes de falar sobre isso, Mozart relembra como era a vida antes de contar a passagem do tempo pelos oito segundos.
“Eu montava em bezerro, fazia essas coisas e falava para meu pai que queria ser peão. Eu tirei o ensino médio e fui pro estradão, fui mexer com boiada na estrada. Dali montava em burro bravo, boi também, só fazendo arte. Surgiu uma boiada perto de Camapuã para gente ir pro rodeio”, recorda.
A boiada pequena com bois de 700 e 800 quilos foi o primeiro desafio de Mozart, que não nunca tinha montado em animais com o mesmo porte. O primeiro rodeio, aos 23 anos, ele não esquece. “Montei no primeiro boi e não sabia se montava igual naqueles mais pequenos. Montei meio bambo, ele me virou para trás e derrubou”, diz.
Depois de pegar o jeito, Mozart seguiu no estradão, mas não demorou para surgir outro rodeio no caminho. Em Rio Verde de MT, o peão fez as contas e percebeu que ganharia mais participando das competições.
“Eles pagavam cinco cruzeiros na época e na estrada a gente ganhava um e cinquenta por dia. Fomos quatro dias e deu vinte. Falei: ‘rapaz essa vida de cá é melhor que aquela lá de andar no burro o mês inteiro para ganhar um dinheiro”, comenta.
No primeiro ano das sete festas que compareceu, Mozart chegou à final de cinco rodeios. Como os eventos terminaram antes de novembro e nova temporada começava em abril, o peão ficava esse período trabalhando na estrada.
A experiência somou com a habilidade do peão que buscou vencer os próprios limites. “Eu fui melhorando, adquirindo meus limites. Quem tem vontade e é perseverante só vai quererendo descobrir o recorde. No primeiro ano montei bem, no segundo também e no terceiro já ganhei nove campeões seguidos e fui embora”, pontua.
O nome de Mozart chegou até Barretos em 1991. Naquele ano, o peão recebeu o primeiro convite para estar no rodeio de São Paulo. Devido a problemas de saúde, o campo-grandense não compareceu. Em 1992 a situação voltou a se repetir.
“Eu tomei um pisão na barriga, quebrou um monte de costelas, furou o pulmão e isso no começo de agosto. Minha mãe em Campo Grande internada e eu não podia falar nada pra ela. O médico falou que eu teria que ficar seis meses sem montar”, fala.
Após a recuperação, o peão voltou, porém desanimado. No começo de 1993 as primeiras 13 semanas foram uma sequência onde Mozart saia machucado de cada montaria. O desempenho trouxe a dúvida se estava na hora de voltar para o estradão e se despedir dos rodeios.
Em Minas Gerais, o peão voltou para o hotel e desabou. “Teve água nesses olhos para chorar”, recorda. Naquele mesmo dia, Mozart se reergueu por acreditar no sonho e na capacidade que tinha. “Passei 13 semanas de aflição e depois Deus mandou a bonança”, frisa.
Em agosto de 1993, Mozart finalmente chegou para o rodeio em Barretos. A primeira passagem coincidiu com a primeira edição do Barretos International Rodeo. A competição atraiu peões do Brasil e outros cinco do exterior, sendo um dos principais nomes o tricampeão mundial Tuff Hedeman.
O campo-grandense desbancou o norte-americano e viu outros rivais caírem do boi. Foi o boi ‘Herdeiro’ que trouxe uma das vitórias mais emblemáticas da carreira de Mozart.
“Eu vi um boi amarelo com uma risca bem mais forte e falei: ‘Meu Deus é aquele boi para eu ganhar isso’. Cheguei lá e o Fabrício falou que peguei o melhor boi. Deu certo que ganhei o rodeio na frente do Adriano, Tuff Hedeman que eram campeões. Nessa época o único peão que não caiu nos setenta e cinco fui eu, sai invicto naquele ano. Tanto que ganhei o rodeio com 49 pontos de vantagem”, relata.
A vitória em Barretos deixou o nome de Mozart em destaque. Além do dinheiro, o competidor ganhou três carros e treze motos nas disputas que conquistou nos anos seguintes. Entre os ganhos e os machucados, o peão garante que nunca perdeu a coragem de montar. “Quem tem afinidade de vencer na vida o medo não persegue”, afirma.
O medo de se machucar ou até mesmo morrer, como viu acontecer com amigos, não tirou Mozart do rodeio. Um problema na perna direita, que é sequela de um dos acidentes de competição, fez Mozart começar a perder a força e firmeza em cima do boi.
Em 2006, ele parou de montar e desde então se dedica à chácara, aos três filhos e às competições onde atua como juiz. Apesar da saudade, Mozart também carrega o sentimento de quem aproveitou e soube encerrar uma fase da vida na hora hora certa. “Tem dias que a gente tá mais frágil, mas aí você vai se fortalecendo porque é um ciclo”, conclui.
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