Carol decidiu ir contra tudo que ouvia para ser feliz como voluntária em Israel
Engenheira civil, ela deixou Campo Grande para realizar um sonho de infância: conhecer Israel
A engenheira civil Carolinne Kamille Albertoni Macedo, de 28 anos, encontrou no voluntariado uma forma de realizar um sonho de infância: viver em Israel. Apaixonada pela região intitulada Terra Santa para judeus, cristãos e muçulmanos, Carol destaca o lado bom do país do Oriente Médio, longe dos conflitos estampados na mídia e de tudo que já tinha ouvido falar.
Natural de Dourados, ela se lembra que ouviu falar de Israel pela primeira vez aos 11 anos, quando se converteu ao cristianismo ao lado do pais. Na mesma época nasceu o sonho de conhecer o país às margens do Mar Mediterrâneo.
Carolinne anotava os planos para o futuro em agendas e diários, e conhecer Israel sempre ocupou o primeiro lugar. “Meus pais tinham comércio, mas nós nunca tivemos condições de ir, já que ouvíamos que as caravanas eram muito caras", conta.
O tempo passou e, aos 22 anos, Carolinne viveu momentos difíceis com o diagnóstico de depressão. “Eu sempre chorava muito. Eu acordava às 10h, comia, dormia de novo, acordava às 16h, voltava a dormire e tudo se repetia no dia seguinte. Por muitas vezes pensei em tirar minha própria vida para acabar com o sofrimento”, lembra.
Nesse tempo, Carol também perdeu a vontade de trabalhar com a construção civil por causa de uma grande decepção amorosa e se sentia frustrada em todas as áreas. O processo de reencontro com a fé começou aos 25 anos. Carolinne conta que começou a frequentar uma igreja menor e os sonhos de infância foram se recuperando e o desejo de ir à Israel, voltou para o topo de lista.
Pouco tempo depois, Carolinne se deparou com o anúncio de uma caravana a Israel. “Eu voltei a frenquentar a primeira igreja que eu frequenta e vi o anúncio. Como na época estava desempregada e com poucos clientes, recorri aos meus pais. Minha mãe chegou a dizer que talvez era pra eu ir para Israel e não para Bolívia ou Chile como eu já estava planejando”, conta.
A engenheira se recorda que, em março de 2017, uma amiga chegou a sugerir uma viagem juntas, mas Carol acabou indo sozinha seis meses depois. “Ela chegou a dizer que poderíamos encarar o Oriente Médio, e eu respondi que ela estava louca, porque não tinha o dinheiro suficiente. E em seis meses, consegui clientes e fui na caravana de novembro de 2017. Foram 11 dias de caravana”, lembra.
Carolinne garante que uma experiência com o muro das lamentações a fez voltar a Israel como voluntária, no ano seguinte. Por quase um ano, Carolinne pegou firme no inglês e, em um julho de 2018, já tinha até o lugar onde iria ficar. Atualmente, a jovem leva uma vida comunitária em um vilarejo de economia compartilhada - chamado kibbutz.
“No Muro das Lamentações você coloca o bilhete e sai sem dar as costas. Eu pedi a oportunidade de voltar e ficar mais tempo, além disso tinha pedido um emprego em Campo Grande e duas semanas depois fui contratada em uma empresa. Em Campo Grande, não tirei Israel na minha cabeça e comecei a pesquisar programas de voluntariado. Achei no Instagram o KPC (Kibbutz Program Center), me inscrevi em dezembro de 2017 e comecei a preparar a documentação. Em setembro de 2018 eu tinha voltado para Israel”, conta.
A vida por lá – Carol mora em Moshav Yad Hashmona, um lugar habitado por judeu messiânicos, que acreditam que Yeshua é o Messias. “Aqui também trabalham árabes muçulmanos, mas a convivência é muito tranquila”, frisa.
O choque cultural é grande, afinal, a hospitalidade e sorriso típico do brasileiro não se encontra por lá. Apesar dos conflitos evidentes, Carol garante que pressão de guerra se limita à faixa de gaza.
“Já conheci judeu que nasceu no Brasil, judeu que nasceu na Argentina, então, depende muito de onde eles vêm. Mas aqui ele são bem fechados, não são como os brasileiros. Os judeus que trabalham no comércio costumam ser um pouco mais simpáticos. Onde eu estou é tranquilo fica a 13 km e Jerusalém, tenho segurança, caminho nas ruas sem medo, ao contrário de como me sentia quando saís sozinha em Campo Grande”, compara.
Com relação a roupa, Carol não teve problemas, mas a comida é algo que até hoje não se encaixou. "Eu sempre brinco, que quando a gente for pro paraíso tomara que a comida seja brasileira”.
As estações do ano funcionam certinho, mas com intensidade, garante a jovem. “No frio é bem intenso e o no verão é sol de rachar. Em Jerusalém, já quase desmaiei de calor, mas também já vi chuva com neve”, conta.
Imprevisto – Caroline chegou a voltar ao Brasil, em fevereiro de 2019, e correu o risco de não conseguir o visto de voluntária novamente. Porém, retornou em junho e, desta vez, acompanhada dos pais. “Depois que eles conheceram sentiram paz. Mas por aqui, desde que cheguei, nunca ouvi a sirene tocar”, conta.
O serviço – O trabalho prestado no voluntariado muda a cada Kibbutz. Caroline trabalha como camareira em um hotel, mas também tem as funções de garçonete, limpeza de áreas públicas do hotel, jardinagem e cozinha. “Tem kibbutz que você trabalha na área da pesca, lavanderia, entre outros”, explica.
No tempo que está em Israel, Carolinne já conheceu gente do mundo inteiro, inclusive fortaleceu a amizade com uma coreana. As amigas se comunicam em inglês. “Já conheci gente da Suécia, EUA, Canadá, África do Sul, Índia, Coreia, China, Áustria, Equador, Colômbia e Argentina. Tem um mundo dentro de Israel”, diz.
A comunidade onde Caroline mora fica Telavive e Jerusalém, mas também é próxima de Abu Ghoshi, uma cidade formada praticamente por árabes e perto de Quiriate-Jearim, cidade de judeus religiosos, citada na bíblia por ter abrigado a Arca da Aliança.
Carolinne conta que apesar da tranquilidade da região, todas as construções judias, tem o Bomb Shelter, que é um abrigo antiaéreo projetado para fornecer proteção contra os efeitos de uma bomba. "Não é um local construído de qualquer jeito, tem de ter projeto”, frisa.
Israel (judeus) x Palestina (Árabes) – Todos os voluntários aprendem sobre o conflito entre os dois povos. “Por aqui não há explosões, mas é comum ver árabes atacar judeu e não o contrário. O governo da palestina absorve 50% dos salários do povo, para investir em bombas e atacar Israel. O povo palestino sofre muito com o governo dele. Inclusive quando entramos em território palestino passamos por uma revista. É um conflito é histórico, mas aqui encontramos muitos palestino querendo trabalhar em território Israilense, por ser mais justo”, conta.
A engenheira destaca que a questão da guerra se concentra na faixa de gaza e eu a rixa entre judeus e árabes se concentra entre eles. "Se veem que você é turista, eles não se importam, porque eles sabem identificar. Normalmente, eles atacam judeus religiosos e soldados", conta.
Obstáculos - O maior obstáculo dos brasileiros em Israel é o idioma. Para fixar moradia definitivamente, Caroline teria de ser fluente em Hebraico ou se casar com um judeu. A jovem garante que será praticamente forçada a voltar para o Brasil. "Eu sei poucas coisas da língua. Tenho que voltar, mas não porque queria”, conta.
Visto - O visto para voluntariado é mais fácil. Basicamente é necessário um laudo médico sobre o estado de saúde e uma ficha limpa de antecedentes criminais. “O meu visto inclusive não libera que eu trabalhe, só permite que eu ajude. A passagem eu paguei em real, depois cerca de R$ 1,5 mil para seguro saúde de um ano, mais R$ 120 da inscrição no site do programa. Eles pedem para você trazer dinheiro, porque como é serviço voluntário, eles não pagam o salário, apenas 200 shekels por mês, cerca de R$ 200”, explica.
Alto custo de vida – Caroline é voluntária e tem hospedagem e comida pelo serviço prestado. Mas de acordo com relatos de nativos sobreviver com o salário mínimo cerca de cinco mil reais, é bem difícil. “Aluguel e comida são realmente caros. O salário mínimo é quase 5 mil shekels, mas o aluguel de uma casa pequena é de 2,5 mil a 3.000 shekels”, finaliza.
Um sonho – Feliz com a experiência, Carol não se cansa de dizer que está vivendo um sonho.
“Às vezes tenho crise de ansiedade só de pensar no que vou fazer quando o voluntariado acabar, mas desperto e vejo que estou realizando um sonho. É claro, que não estou isenta de aflições, cansaço, tristeza, mas olho tudo que venho vivendo e às vezes me recordo de quando estava atrás do balcão do comercio dos meus pais sonhando com o que estaria vivendo hoje. Hoje, aprendi a me cobrar menos, porque tudo na vida são fases e Israel trouxe sonhos de volta. Hoje eu tenho saudade da Engenharia e o desejo de voltar a trabalhar com a construção”, diz.
A jovem pontua que Israel precisa de voluntários e reitera que o lugar foi erguido por voluntários cristãos.