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Comportamento

Casebre de madeira revela religião criada por nordestina nos anos 50

Já ouviu falar no Vale do Amanhecer? A religião criada por uma sergipana atrai fiéis na Capital

Bárbara Cavalcanti | 23/12/2021 08:13
Jefferson Ravedutti, presidente do Templo Ganulo, em frente à imagem do espírito Pai Seta Branca. (Foto: Paulo Francis)
Jefferson Ravedutti, presidente do Templo Ganulo, em frente à imagem do espírito Pai Seta Branca. (Foto: Paulo Francis)

Na Vila Piratininga, um portão com símbolos de lua e sol marca onde fica o templo do grupo religioso Vale do Amanhecer. A primeira coisa que aparece no terreno é uma cruz com um pano branco, que indica ao cristianismo. Mas a doutrina, como é chamada, inclui inúmeros elementos do espiritismo, além de civilizações antigas, como os maias e egípcios. Em encontros ao longo da semana, os médiuns, como são chamados os fiéis, estão disponíveis para fazer trabalhos espirituais para a população.

Cada templo tem um presidente e, em Campo Grande, quem ocupa a função é o barbeiro e fotógrafo Jefferson Ravedutti, de 51 anos. “A doutrina fala muito em amor ao próximo, amor à vida, perdão”, explica. Conforme a estimativa, existem aproximadamente 400 adeptos ao grupo. Em Mato Grosso do Sul, são 3 templos. O da Piratininga é intitulado “Templo Ganulo”.

Fachada do templo do Vale do Amanhecer, no Bairro Vila Piratininga. (Foto: Paulo Francis)
Fachada do templo do Vale do Amanhecer, no Bairro Vila Piratininga. (Foto: Paulo Francis)
Entrada do templo, com símbolos de lua, sol e seta branca. (Foto: Paulo Francis)
Entrada do templo, com símbolos de lua, sol e seta branca. (Foto: Paulo Francis)

A construção é toda feita em madeira reciclada, com fortes cores vibrantes. A entrada e circulação lá dentro devem ser feitas em sentido horário. É tudo simples, mas cheio de detalhes: várias representações de espíritos estão por toda a parte, além de mais cruzes, em vários espaços designados para diferentes funções dos trabalhos que ali acontecem. Cada pedaço e cor tem um simbolismo específico.

O Vale do Amanhecer foi fundado na década de 50, em Brasília, no Distrito Federal. Neiva Chaves Zelaya, conhecida como Tia Neiva, trabalhava como motorista de caminhão na construção da capital do Brasil. Sergipana, era a única mulher caminhoneira na obra.

Imagem de Tia Neiva. (Foto: Paulo Francis)
Imagem de Tia Neiva. (Foto: Paulo Francis)

“Ela teve várias visões, chegou até de achar que estava ficando louca. Assim, ela descobriu que, na verdade, eram espíritos que conversavam com ela e que ela tinha uma grande missão, que era registrar a doutrina milenar atualizada”, explica Ravedutti.

De maneira simplificada, a doutrina ensina que seres de outras dimensões vieram à terra há 32 mil anos para desenvolver as civilizações. Ao passar do tempo, eles habitam o planeta em diferentes reencarnações, passando pelas diferentes culturas e épocas humanas. O guia principal do mundo espiritual é o Pai Seta Branca, que nas representações, se assemelha a um líder indígena.

“Registrar e passar adiante essa doutrina foi a grande missão de Tia Neiva. Os espíritos a levaram em diversas viagens ao redor do mundo, lhe mostrando as civilizações. Ela mesma foi aprendendo aos poucos, entendendo os ritos”, acrescenta Ravedutti.

O próprio presidente conheceu a doutrina em Brasília. “Fui lá em 1996 e logo na primeira visita, já fiquei. Senti o chamado”, relembra. E é assim que as pessoas entram para o grupo: precisam sentir o chamado dos espíritos, para então entrar em um longo processo de estudos, até se tornarem médiuns. Quem lida com o trabalho espiritual não pode beber, nem fazer uso de drogas.

O traje indumentário é colorido e brilhoso. Os próprios médiuns quem o fabricam. Ainda de acordo com o presidente, cada cor tem um significado: nas roupas masculinas, a calça marrom representa Francisco de Assis, que na doutrina, é uma das reencarnações do espírito Pai Seta Branca; a blusa preta representa o ocultismo, o branco, a iluminação espiritual, o roxo é a cura e o amarelo a ciência e a sabedoria.

O templo visto por dentro. (Foto: Paulo Francis)
O templo visto por dentro. (Foto: Paulo Francis)

Quem procura o templo nos dias de trabalho, encontra rituais que lembram o que se conhece em terreiros ou centros espíritas, apesar de serem distintos. De acordo com a descrição de Ravedutti, os médiuns trabalham em duplas, um que fica responsável por encarnar o espírito, enquanto o outro serve como uma espécie de doutrinador.

O sincretismo é presente, pois a religião também envolve Jesus. No centro do templo, fica, inclusive, uma cruz branca com um desenho de Jesus. "Aqui rezamos também o Pai Nosso,  Jesus foi um espírito único", comenta o presidente.

Um dos espaços onde é feito tratamento de cura espiritual, com imagem de Jesus ao fundo. (Foto: Paulo Francis)
Um dos espaços onde é feito tratamento de cura espiritual, com imagem de Jesus ao fundo. (Foto: Paulo Francis)
Mesa triangular com cruz e imagem de Jesus. Ali, médiuns sentam para encarnar espíritos. (Foto: Paulo Francis)
Mesa triangular com cruz e imagem de Jesus. Ali, médiuns sentam para encarnar espíritos. (Foto: Paulo Francis)

Durante a pandemia, os trabalhos, que envolvem a proximidade física, ficaram suspensos. Mas agora, o funcionamento já voltou ao normal, até porque são poucos fiéis. De acordo com Ravedutti, são apenas 9 adeptos naquele templo. Mas a nível Brasil, a doutrina cresce e já se expandiu até o exterior, com missionários que se deslocam para outros países europeus e da América Latina.

“Tudo é voltado à cura espiritual. Problemas espirituais se manifestam, às vezes, de maneira física. Então, as pessoas que nos procuram lidam, às vezes, com depressão, que é o principal motivo que as trazem aqui. Se respeita a medicina, mas a parte espiritual também precisa ser tratada”, ressalta.

O templo fica na Rua Anhanguera, 637, no Bairro Piratininga.

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