Coberto por “amor agarradinho”, Luís passa o dia à espera de cliente
Em um cúbiculo na Rua dos Ferroviários, o vendendor de bem com a vida fica na companhia dos bichos
Na companhia de duas porquinhas da índia, o cachorro Joãozinho e o coelho Catarino, Luís Augusto Santiago, 54 anos, passa os dias trabalhando na lojinha que montou em frente à casa onde mora desde criança. Na Rua dos Ferroviários, a fachada do cubículo que virou comércio foi tomada pelas flores de uma trepadeira que ele chama de “japonesa”, mas é a famosa “amor agarradinho”.
A planta tomou conta do lugar e fez o cantinho parecer uma pequena toca. Quem transita de carro ou moto na rua, dificilmente consegue avistar o Luís, mas é só parar e se aproximar para encontrar ele atrás da porta estreita. Sentado na cadeira de rodas, o homem estava descascando uma manga e vendo televisão, quando o Lado B parou para conhecê-lo.
O cão Joãozinho veio correndo e foi o primeiro a dar as boas-vindas à reportagem. Em seguida, Luís ofereceu um bom dia e começou a contar a história da vendinha improvisada, que foi dominada pela sombra da árvore. “A semente veio dali e tomou conta, ficou bonito né? É bom, é no meio da natureza”, diz.
A casa pertencia aos pais Lázaro Teixeira da Silva e Vandira Santiago, porém ambos faleceram há alguns anos. Agora, Luís vive na companhia do irmão e dos animais de estimação. Os bichinhos também passam as manhãs e tardes próximo ao dono, enquanto o mesmo espera a visita de algum cliente.
Miojo, massa de bolo pronta, farinha, feijão, gelinho, erva-mate, sabão, palito de dente e caixa de fósforo são alguns dos produtos comercializados na lojinha. Além dos itens de alimentação e higiene, Luís coloca crédito para diversas operadoras. “Não é comércio, é só para complementar a renda”, explica.
O homem conta que o pai trabalhava próximo à residência. “Meu pai trabalhou durante 36 anos na Ferrovia da Noroeste”, afirma. Questionado sobre a idade do imóvel, Luís não soube precisar com exatidão o tempo. “Essa casa tem mais de 50 anos”, diz.
Com um jeito tranquilo, ele comenta as adversidades da vida e as situações difíceis que enfrentou. Apesar de falar sobre assuntos sensíveis, Luís não se deixa abater e ser dominado pela tristeza. Em 2018, Dona Vandira faleceu, mas antes disso, o filho a cuidou da melhor forma possível.
Enquanto tomava conta da mãe, ele não conseguiu tratar a doença que levou metade da perna. “Adoeceu e não pude tratar, porque eu cuidava da minha mãe acamada. Quando piorou, tive que amputar, senão eu falecia”, revela. Ao falar brevemente da mãe, Luís ficou um pouco emocionado. “A gente sente saudade, mas é a vida”, comenta.
Na hora de tirar foto, Luís posou com o Joãozinho e fez até sinal de joinha com a mão. Animado, ele disse que veria a matéria depois no jornal. “Vou olhar depois, amanhã que sai?”, perguntou. Por último, fez questão de dizer o motivo pelo qual prefere ficar na lojinha. “Eu gosto de atender as pessoas, porque não dá para ficar fechado dentro de casa”, conclui.
Curta o Lado B no Facebook. Tem uma pauta bacana para sugerir? Mande pelas redes sociais, e-mail: ladob@news.com.br ou no Direto das Ruas através do WhatsApp do Campo Grande News (67) 99669-9563