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Comportamento

“Cortaram parte da minha vida”, diz homem que plantou árvore em praça

José diz que foi ele quem plantou árvore que será retirada na Afonso Pena e sua história derruba o título de centenária

Thailla Torres | 10/09/2020 15:14
José tentando representar o tamanho do árvore que viu crescer ao longo dos anos. (Foto: Marcos Maluf)
José tentando representar o tamanho do árvore que viu crescer ao longo dos anos. (Foto: Marcos Maluf)

“Meu coração doeu”, lamentou o José Leopoldino Amorim, morador antigo do bairro Santa Fé, depois de passar de carro, na manhã de hoje (10), em frente à falsa-seringueira recém-podada na Avenida Afonso Pena. Ele jura que plantou a árvore em 1966 e há anos ama contar essa história para a família e amigos. A história dele, inclusive, derruba o título de árvore centenária como é conhecida.

“Senti que cortaram uma parte da minha vida. Eu não queria que cortasse. A vida inteira eu contei minha história com essa árvore, ela era importante pra mim”, diz. O paulista que chegou a Campo Grande em 1947 soube na tarde de ontem da poda radical e da promessa de retirada da árvore, ato que ele considera desnecessário diante da beleza do que os 25 metros de altura representam para ele. “Uma árvore bonita, vistosa, que fazia uma sombra gostosa. É uma pena”, lamenta.

Ano passado, no Dia da Árvore, seu José passeou com a equipe do Lado B na Praça do Rádio para contar a ligação com o lugar. Hoje, aos 91 anos, a boa memória o faz recontar o porquê é fascinado pela árvore, que ele prefere chamar de “figueira”.

José durante visita à árvore no ano passado. (Foto: Arquivo/Alana Portela)
José durante visita à árvore no ano passado. (Foto: Arquivo/Alana Portela)

Ele afirma tê-la plantado no dia 23 de agosto de 1966. Na época, trabalhava próximo ao local, e conta que ganhou uma muda de um português chamado Fernandes. “Era um galho fino e resolvi plantar porque ali não tinha sombra”.

Com um facão ele cavou um buraco e plantou a muda. Naquele tempo era conhecido na região como “Zé Minhoca”, pelo ato de plantar e também por vários trabalhadores chamarem José. “Então cada um tinha de ter um apelido”.

Com o crescimento da árvore, José diz que nunca deixou de ir ao local e nem de contar a história para quem visse pela frente. “Muita gente me conhece pelo apelido e por essa árvore. Tem gente que não acredita, mas é verdade, fui eu quem plantou”, garante.

José é natural de Araçatuba (SP), mas cresceu no interior do Piauí. Chegou aqui em 1947 com a família. “Eu já tinha uma penca de filho”, brinca. Pai de 12 filhos, diz que não sabe ao certo quantos netos e bisnetos têm, mas resume que é um homem feliz. “Quero chegar aos 92 anos bem e feliz como sou hoje, sem deixar de contar sobre a minha árvore.

Caso - De acordo com a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), a falsa-seringueira, com 25 metros de altura, está em “péssimo estado fitossanitário” e, por isso, será retirada.

Em julho, segundo o órgão, foi feita vistoria preventiva nas árvores do espaço público. “No parecer técnico foi constatado o péssimo estado fitossanitário, ausência de vitalidade, risco de queda de parte dela, diversos pontos de necrose no fuste e nos ramos”, informa a nota divulgada à imprensa sobre o espécie em questão.

Além disso, diz o texto, a falsa-seringueira  apresenta infestação de cupim e fungos, o que é considerado sistêmica. Os ramos mais altos e mais espessos da árvore são os mais afetados.

A análise da fiscalização é de que há risco de queda e “consequentes danos à integridade física de pessoas que circulam no local”. Também há ameaça para a rede elétrica.

Árvore antes da poda. (Foto: Arquivo/Kísie Ainoã)
Árvore antes da poda. (Foto: Arquivo/Kísie Ainoã)
Árvore na manhã de hoje (10). (Foto: Kísie Ainoã)
Árvore na manhã de hoje (10). (Foto: Kísie Ainoã)


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