Curada de câncer, jovem volta à AACC para tocar "sino da vitória" 21 anos depois
Mais de 3 mil pessoas já foram atendidas na associação, que completa 25 anos de existência nesta quarta-feira
Luz no fim do túnel e uma chance para recomeçar. Há 25 anos, esse tem sido o significado da AACC/MS (Associação dos Amigos das Crianças com Câncer de Mato Grosso do Sul) para muitas famílias. Crianças que foram tratadas nos anos 90, hoje, voltam ao local para tocar o “sino da vitória” e comemorar junto à associação a segunda chance. A instituição completa nesta quarta-feira, dia 29 de março, 25 anos de existência.
Aos 3 anos de idade, a estudante Gabriela Guastalla Arruda, hoje com 24 anos, descobriu leucemia. O tratamento durou 2 anos e 6 meses para poder chegar à cura. Depois, continuou por mais 5 anos para manutenção. Há 6 anos, Gabriela faz cursinho para Medicina.
Naquele ano, não existia o “sino da vitória”. Nesta quarta-feira (29), acompanhada da mãe, fizeram questão de tocar o sino, pela primeira vez.
“Eu vejo aqui com muito carinho, cada apoio foi muito importante para mim durante todo o processo. O tratamento é muito pesado, muito difícil e essa casa torna tudo mais alegre e leve. Muito gratificante ter feito parte dela”, comemora.
Antes de ela tocar o sino, a assistente social disse uma frase: “Sino da vitória, a cada cura uma badalada. A cada dia, esperança renovada”.
Desde 2019, as crianças e adolescentes tocam o sino. A cerimônia é reservada aos assistidos que, após anos de tratamento, finalmente recebem alta e encontram a cura. Até o momento, foi tocado por mais de 20 crianças e adolescentes.
Mais conquistas - Jeferson dos Santos Cabral, de 15 anos, é de Fátima do Sul, a 239 km de Campo Grande. Ele faz tratamento na associação há 1 ano. Em fevereiro de 2022 foi identificado com osteosarcoma, tipo de câncer que acomete os ossos. Agora, ele faz fisioterapia uma vez por mês.
“Se não tivesse a AACC, eu não sei onde eu ia ficar. Aqui eu me sinto feliz por ter pessoas que nos apoiam e ajudam a gente. Fiz um ano de quimioterapia, fiz cirurgia no braço direito, tenho uma endoprótese no braço. Aqui nos brincamos, estudamos, fazemos várias atividades”, destaca.
Ele conta que gosta do cantinho do Wi-Fi, onde pode jogar, e a “adoleteca”, onde tem jogos para a idade dele, videogame, aula de violino e violão.
Mesmo com a limitação do braço, Jeferson não abaixou a cabeça e já começou a praticar violão. “Por mim eu já conto que estou curado”, ressalta.
A estudante de Medicina Veterinária, Fernanda Fernandes, de 25 anos, é outro exemplo de quem venceu na vida. A mãe, Maria Fernandes, de 57 anos, conta que a filha foi descoberta com leucemia aos 5 anos de idade, ou seja, há 20 anos.
Na época, Fernanda começou a apresentar palidez, manchas roxas pelo corpo, dores nas pernas e abdômen inchado, o que levou a mãe a buscar ajuda.
Após várias tentativas de pedir exames e ouvir que eram “coisas do crescimento”, finalmente ela conseguiu fazer exame de sangue, e foi assim que a triste confirmação aconteceu: Fernanda estava com leucemia.
No dia 8 de maio de 2003, Fernanda foi internada no Hospital Regional e permaneceu até setembro de 2004, contando com o apoio da associação. Na época, médicos não acreditavam na cura.
É uma sensação que a gente não sabe descrever. O sentimento é o pior possível, sensação de impotência e perda. Hoje, vejo minha filha que está indo para faculdade, é uma vitória muito grande”, diz emocionada a mãe, Maria.
Para Fernanda, a cura representa uma segunda chance de viver. “Me sinto honrada hoje, em ter passado por tudo isso com o suporte do hospital, Cetohi, AACC, família e amigos. É um pouco surreal, agora, adulta, ver pelo o que passei/passamos. Mas todo esse trajeto e a cura representam uma segunda chance de viver, uma vida melhor e mais consciente sobre o assunto câncer”, relembra.
Instituição – A AACC cuida de crianças e adolescentes com câncer de todo o Mato Grosso do Sul e até de outros estados e países vizinhos, como Paraguai, Bolívia e Venezuela.
O projeto começou em 1998, pelas mãos de Mirian Comparim Correa, quando descobriu que o filho estava com linfoma na cavidade nasal, câncer que acomete as narinas. No aniversário de 15 anos do filho, em 1997, Mirian recebeu a notícia do câncer e fez a promessa de cuidar de outras crianças que passavam pelo mesmo problema.
No início, a sede ficava na Rua Sebastião Lima, depois, em 2001, passou para a Avenida Ernesto Geisel, que tem capacidade para receber 52 crianças e adolescentes e suas acompanhantes.
De lá para cá, mais de 3 mil crianças já foram atendidas. Somente no ano passado, a instituição acolheu 277 crianças, sendo que 73 eram casos novos.
Todas elas, junto de uma acompanhante do sexo feminino, recebem cinco refeições diárias, hospedagens, itens de higiene e também acompanhamento com a equipe multidisciplinar, que inclui nutricionista, psicóloga, fisioterapeuta, atividades ludopedagógicas e outros. A AACC/MS também cobre exames e medicamentos não disponibilizados pelo SUS. Ao todo, são 68 funcionários e 300 voluntários trabalhando pela causa.
A coordenadora de assistência ao beneficiário, Rosângela Barros Machado, está há 13 anos trabalhando na instituição.
“O nosso propósito é acolher. A gente acaba tendo todos os momentos de alegria com a família e também todos os momentos de tristeza com elas e quando chega ao final disso tudo, a gente consegue tocar o sino. A gente costuma dizer que somos presenteados em estar aqui, mais aprendemos com as famílias do que ensinamos”, conclui.