ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
JULHO, SÁBADO  27    CAMPO GRANDE 22º

Comportamento

Curada de câncer, jovem volta à AACC para tocar "sino da vitória" 21 anos depois

Mais de 3 mil pessoas já foram atendidas na associação, que completa 25 anos de existência nesta quarta-feira

Izabela Cavalcanti e Bruna Marques | 29/03/2023 10:41


Luz no fim do túnel e uma chance para recomeçar. Há 25 anos, esse tem sido o significado da AACC/MS (Associação dos Amigos das Crianças com Câncer de Mato Grosso do Sul) para muitas famílias. Crianças que foram tratadas nos anos 90, hoje, voltam ao local para tocar o “sino da vitória” e comemorar junto à associação a segunda chance. A instituição completa nesta quarta-feira, dia 29 de março, 25 anos de existência.

Aos 3 anos de idade, a estudante Gabriela Guastalla Arruda, hoje com 24 anos, descobriu leucemia. O tratamento durou 2 anos e 6 meses para poder chegar à cura. Depois, continuou por mais 5 anos para manutenção. Há 6 anos, Gabriela faz cursinho para Medicina.

Naquele ano, não existia o “sino da vitória”. Nesta quarta-feira (29), acompanhada da mãe, fizeram questão de tocar o sino, pela primeira vez.

“Eu vejo aqui com muito carinho, cada apoio foi muito importante para mim durante todo o processo. O tratamento é muito pesado, muito difícil e essa casa torna tudo mais alegre e leve. Muito gratificante ter feito parte dela”, comemora.

Antes de ela tocar o sino, a assistente social disse uma frase: “Sino da vitória, a cada cura uma badalada. A cada dia, esperança renovada”.

Desde 2019, as crianças e adolescentes tocam o sino. A cerimônia é reservada aos assistidos que, após anos de tratamento, finalmente recebem alta e encontram a cura. Até o momento, foi tocado por mais de 20 crianças e adolescentes.

Mais conquistas - Jeferson dos Santos Cabral, de 15 anos, é de Fátima do Sul, a 239 km de Campo Grande. Ele faz tratamento na associação há 1 ano. Em fevereiro de 2022 foi identificado com osteosarcoma, tipo de câncer que acomete os ossos. Agora, ele faz fisioterapia uma vez por mês.

“Se não tivesse a AACC, eu não sei onde eu ia ficar. Aqui eu me sinto feliz por ter pessoas que nos apoiam e ajudam a gente. Fiz um ano de quimioterapia, fiz cirurgia no braço direito, tenho uma endoprótese no braço. Aqui nos brincamos, estudamos, fazemos várias atividades”, destaca.

Jeferson, que faz tratamento contra o câncer na AACC, jogando quebra-cabeça (Foto: Marcos Maluf)
Jeferson, que faz tratamento contra o câncer na AACC, jogando quebra-cabeça (Foto: Marcos Maluf)

Ele conta que gosta do cantinho do Wi-Fi, onde pode jogar, e a “adoleteca”, onde tem jogos para a idade dele, videogame, aula de violino e violão.

Mesmo com a limitação do braço, Jeferson não abaixou a cabeça e já começou a praticar violão. “Por mim eu já conto que estou curado”, ressalta.

A estudante de Medicina Veterinária, Fernanda Fernandes, de 25 anos, é outro exemplo de quem venceu na vida. A mãe, Maria Fernandes, de 57 anos, conta que a filha foi descoberta com leucemia aos 5 anos de idade, ou seja, há 20 anos.

Na época, Fernanda começou a apresentar palidez, manchas roxas pelo corpo, dores nas pernas e abdômen inchado, o que levou a mãe a buscar ajuda.

Mãe guarda fotos de Fernanda da época em que fazia tratamento contra câncer (Foto: Henrique Kawaminami)
Mãe guarda fotos de Fernanda da época em que fazia tratamento contra câncer (Foto: Henrique Kawaminami)

Após várias tentativas de pedir exames e ouvir que eram “coisas do crescimento”, finalmente ela conseguiu fazer exame de sangue, e foi assim que a triste confirmação aconteceu: Fernanda estava com leucemia.

No dia 8 de maio de 2003, Fernanda foi internada no Hospital Regional e permaneceu até setembro de 2004, contando com o apoio da associação. Na época, médicos não acreditavam na cura.

É uma sensação que a gente não sabe descrever. O sentimento é o pior possível, sensação de impotência e perda. Hoje, vejo minha filha que está indo para faculdade, é uma vitória muito grande”, diz emocionada a mãe, Maria.

Para Fernanda, a cura representa uma segunda chance de viver. “Me sinto honrada hoje, em ter passado por tudo isso com o suporte do hospital, Cetohi, AACC, família e amigos. É um pouco surreal, agora, adulta, ver pelo o que passei/passamos. Mas todo esse trajeto e a cura representam uma segunda chance de viver, uma vida melhor e mais consciente sobre o assunto câncer”, relembra.

Fernanda bateu o sino da vitória, junto com a mãe, Maria (Foto: Arquivo pessoal)
Fernanda bateu o sino da vitória, junto com a mãe, Maria (Foto: Arquivo pessoal)

Instituição – A AACC cuida de crianças e adolescentes com câncer de todo o Mato Grosso do Sul e até de outros estados e países vizinhos, como Paraguai, Bolívia e Venezuela.

O projeto começou em 1998, pelas mãos de Mirian Comparim Correa, quando descobriu que o filho estava com linfoma na cavidade nasal, câncer que acomete as narinas. No aniversário de 15 anos do filho, em 1997, Mirian recebeu a notícia do câncer e fez a promessa de cuidar de outras crianças que passavam pelo mesmo problema.

No início, a sede ficava na Rua Sebastião Lima, depois, em 2001, passou para a Avenida Ernesto Geisel, que tem capacidade para receber 52 crianças e adolescentes e suas acompanhantes.

De lá para cá, mais de 3 mil crianças já foram atendidas. Somente no ano passado, a instituição acolheu 277 crianças, sendo que 73 eram casos novos.

Todas elas, junto de uma acompanhante do sexo feminino, recebem cinco refeições diárias, hospedagens, itens de higiene e também acompanhamento com a equipe multidisciplinar, que inclui nutricionista, psicóloga, fisioterapeuta, atividades ludopedagógicas e outros. A AACC/MS também cobre exames e medicamentos não disponibilizados pelo SUS. Ao todo, são 68 funcionários e 300 voluntários trabalhando pela causa.

A coordenadora de assistência ao beneficiário, Rosângela Barros Machado, está há 13 anos trabalhando na instituição.

“O nosso propósito é acolher. A gente acaba tendo todos os momentos de alegria com a família e também todos os momentos de tristeza com elas e quando chega ao final disso tudo, a gente consegue tocar o sino. A gente costuma dizer que somos presenteados em estar aqui, mais aprendemos com as famílias do que ensinamos”, conclui.

Fachada da AACC/MS, na Avenida Ernesto Geisel, em Campo Grande (Foto: Divulgação)
Fachada da AACC/MS, na Avenida Ernesto Geisel, em Campo Grande (Foto: Divulgação)


Nos siga no Google Notícias