Delegado com ‘cassino’ e servidor corrupto viraram exemplo no TJ
Processo com tenente e telegrafista foi usado para falar sobre “fraqueza humana” e “influência corruptora"
Imagine um delegado que proíbe jogos de cartas envolvendo dinheiro em todos os cantos da cidade para ganhar todos os valores dentro da sua casa. Somado a isso, um telegrafista que gasta (e perde) muito frequenta esse espaço e, ao mesmo tempo, começa a retirar dinheiro do cofre público com a justificativa de que precisava cuidar da saúde de sua esposa. Essa situação foi registrada em um processo jurídico em Paranaíba e, décadas depois, virou exemplo para o povo aos olhos do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).
“A história de Otacílio Alves Dias e do Tenente Antônio Valentim de Brito revela um enredo marcado pela fraqueza humana e pela influência corruptora. Otacílio, um telegrafista respeitado, sucumbiu à tentação dos jogos de cartas a dinheiro na residência do Tenente Brito, delegado de polícia da cidade”, descreve o setor de Memória do TJMS sobre o processo que entrou na lista de documentos históricos.
Datado da década de 1940, o processo ocorreu enquanto o Brasil ainda era “República dos Estados Unidos” e Paranaíba integrava o então Mato Grosso. E, contextualizando, a denúncia era contra o telegrafista Otacílio, sem a divulgação de outro processo sobre Brito, apresentado apenas como parte da trama.
Narrada inicialmente através da acusação feita pelo Ministério Público, a história era de que Otacílio havia desviado dinheiro enquanto era agente postal e confessou o crime. A narrativa vai ganhando elementos no decorrer do processo, isso porque é na sequência que aparecem os relatos sobre o delegado.
Antecipando o final do processo, Otacílio foi condenado, já que confessou ter desviado dinheiro, mas a motivação é que varia. As testemunhas contam que o telegrafista frequentava espaços na cidade para apostar dinheiro em jogos de azar como em cartas.
O diferencial é que, segundo o processo, Brito, apresentado nos depoimentos como já “ex-delegado”, havia proibido outros espaços de sediarem os jogos por um tempo. Nesse período, transformou sua casa em um “cassino” para receber os moradores, tendo até sido acusado de embebedar parte das pessoas.
Segundo as testemunhas, depois do delegado conseguir o dinheiro que queria, liberou os jogos para outros espaços com a condição de que pagassem uma “cota” para ele. E foi nesse cenário que parte das justificativas do desvio de dinheiro feito por Otacílio se situam.
A acusação era de que o servidor usou parte do dinheiro para apostar, além de investir em tratamento de saúde para sua esposa que estava doente. No processo, são apresentados relatos de que a mulher precisou sair da cidade, vindo para Campo Grande e para fora do Estado já que o atendimento, assim, seria melhor.
Apenas com os valores recebidos com a profissão, não seria possível que o funcionário pagasse o tratamento da esposa e, por isso, sua justificativa foi de que ele retirou dinheiro dos cofres públicos para pagar os médicos e viagens que integraram o roteiro.
É olhando todo esse contexto e acusações que o TJMS decidiu fazer uma reflexão sobre ética e moral, sem citar autores, sobre a narrativa.
“A história de Otacílio e do Tenente Brito serve como um alerta sobre os perigos da tentação e da corrupção. Ela ressalta a importância de resistir à influência negativa e de manter-se firme em princípios éticos, mesmo diante das adversidades. Além disso, destaca a necessidade de responsabilidade e integridade por parte daqueles em posições de autoridade, incentivando uma busca contínua pela justiça e pela retidão de caráter”, completa descrição atual do TJMS feita como síntese do processo.
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