'Dia da beleza' é gesto de carinho com quem sofreu nas mãos de ex
Nas Moreninhas, CAB realizou campanha em alusão ao 'Agosto Lilás' com atendimento gratuito de salão e manicure
Balões roxos, cartazes de ‘Diga não a violência’ e diversas mulheres reunidas. No Bairro Moreninha III, a CAB/ MS (Centro de Apoio aos Bairros) recebeu as moradoras com café da manhã nesta quarta-feira (16). A atividade marca o encerramento das atividades do Agosto Lilás, que é o mês de enfretamento às diversas formas de violência contra as mulheres.
O segundo e último dia de atividade marcou a passagem de 140 mulheres que ganharam um dia de princesa no local. Com apoio de profissionais da área da beleza, a CAB realizou a ação para que elas fizessem cabelo, unhas, sobrancelhas e cílios de forma gratuita.
O presidente da instituição Ronaldo Camargo fala sobre os dois de atividade. “A CAB é uma associação que faz o bem e queremos chegar às mães que sofrem violência doméstica. No Agosto Lilás, a ideia é fazer um dia de beleza com essas meninas que foram vítimas de espancamento dos cônjuges. É uma manhã agradável”, explica.
Além de trabalhar com a autoestima das mulheres, a associação também presta apoio psicológico e as incentiva a romper o ciclo da violência. Atualmente, 10 moradoras realizam sessões gratuitas de terapia com uma psicóloga voluntária.
Violência física, verbal e psicológica marcam a trajetória de algumas das mulheres presentes na ação do Agosto Lilás. Enquanto algumas estão tentando colocar fim às relações abusivas, outras celebram o fim de uma vida permeada de violência.
Bianca Elza Martins de Freitas, de 31 anos, está há três anos separada do marido. Longe do parceiro e rodeada por uma rede de apoio, ela ficou cinco anos na relação que começou perfeita. Após algumas tentativas de pôr fim ao casamento, Bianca conta que ‘deu um passo à frente’ e conseguiu denunciar o ex-marido.
“É muito difícil, primeiro eles começam no psicológico até chegar um ponto que a gente não tá vendo. Ele ficava com ciúmes, ele começou a proibir roupas curtas, ele me colocava pra trabalhar em casa para me prender mais. Ele foi fechando o círculo até um dia que a gente brigou feio, eu saí correndo na rua e não voltei mais”, comenta.
Desde então, Bianca tenta ajudar mulheres que passam pela mesma situação. Ela destaca que teve apoio e, por isso, tenta fazer o que consegue para auxiliar outras vítimas. “Depois que falei não, não voltei mais, tive total apoio graças a Deus. Hoje, onde vejo, não deixo ninguém apanhar. Perto de casa a gente sempre ouve", diz.
Estudante de Assistência Social, Bruna Rebeca faz parte da associação. Hoje, ela estava fazendo o cabelo de algumas moradoras quando tirou alguns minutos para compartilhar a própria história. Há 8 anos separada do ex-companheiro, ela ainda carrega alguns dos traumas da violência psicológica que sofreu.
Mulher trans, ela sempre foi aceita pelo ex até o momento em que ele iniciou as agressões verbais. “Fui casada seis anos e no final do relacionamento ele falava que tinha arranjado outra pessoa. Ele falava: ‘Você é feia, magra, você é um homem’. Ele me pediu em namoro, noivamos, casamos e no final começou a ser assim. Carrego até hoje, ficou um trauma psicológico porque ao meu ver todos os homens que se relacionarem comigo vão falar o que ele falou: ‘Você não é mulher’”, afirma.
A vontade da estudante é desenvolver um projeto que atenda pessoas LGBTQIA+. Sobre a participação na CAB, ela relata que no espaço desenvolve o trabalho que traz visibilidade. “Pra mim é uma oportunidade maravilhosa mostrar que nós temos qualidades, que somos seres humanos como qualquer um e temos nossas qualidades”, fala.
Em alguns casos, diversas mulheres não conseguem fazer a denúncia, pedir ajuda e no final entram para as estatísticas de feminicídio. Em julho, Nataly Gabriele da Silva de Souza, de 18 anos, foi morta a facadas ao tentar fugir do marido. No colo, ela segurava a filha do casal, de 1 ano.
Coordenadora da CAB, Susi Adriana Martins era prima e madrinha da jovem. A tragédia na família deu mais forças para continuar com o trabalho de acolhimento às mulheres. "Ela não falava nada pra ninguém o que ela estava passando. Só ficamos sabendo mesmo quando aconteceu. Ela tinha feito em dezembro 18 anos, é muito triste, abalou muito a nossa família. Nunca tinha acontecido isso. Eu falei que temos que conscientizar muitas mulheres aqui", relata.
Além de atendimento psicológico, a entidade também auxilia os moradores com impressão de currículos, doações e outras ações. O endereço é Rua Oreade, 465, Moreninha III.
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