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Comportamento

Durante 125 dias na UTI, mãe narra luta de gêmeos para sobreviver

Da gestação difícil ao parto prematuro, Nathalia sempre acreditou que voltaria com Isis e Joaquim para casa

Jéssica Fernandes | 25/07/2022 06:17
Nathalia no hospital segurando a Ísis e o Joaquim. (Foto: Arquivo pessoal)
Nathalia no hospital segurando a Ísis e o Joaquim. (Foto: Arquivo pessoal)

Quando Nathalia Dantas Pelliccioni decidiu ver o motivo pelo qual não conseguia engravidar, ela recebeu uma série de diagnósticos desanimadores. A farmacêutica, de 35 anos, não perdeu as esperanças e após um ano viu os dois ‘milagres’ aparecerem no exame de ultrassom.

Assim como no começo, o caminho percorrido por ela durante a gestação não foi fácil. Às pressas, ela precisou dar à luz as crianças que chegaram ao mundo de forma prematura. Durante 125 dias, os gêmeos bivitelinos ficaram internados na UTI sob o olhar amoroso e vigilante da mãe, que sempre acreditou que voltaria com eles para casa.

No Voz da Experiência de hoje, Nathalia narra as fases dos bebês no hospital, da prematuridade ao diagnóstico de bronquiolite.

O casal Nathalia e Eduardo Pelliccioni com os filhos. (Foto: Chris Balogh)
O casal Nathalia e Eduardo Pelliccioni com os filhos. (Foto: Chris Balogh)

O desejo de ser mãe - "A gente sabe que hoje em dia as mulheres se dedicam muito ao trabalho e quando resolvem ter filhos, às vezes, estão numa idade mais avançada. Quando elas param para tentar engravidar descobrem um monte de diagnóstico, que foi o meu caso. Eu nunca soube que tinha e aí fui descobrir os diagnósticos que são um balde de água fria que jogam em você.

Fiz consulta com três especialistas e um bem renomeado de Goiás. Todos falaram que no meu caso a indicação era fazer fertilização in vitro. Porque eu tenho a síndrome do ovário policístico, endometriose, hipotiroidismo e mais do que tudo isso o diagnóstico fatídico foram as duas trompas completamente obstruídas. 

Em dois meses tive esse monte de diagnóstico. Foi muito difícil, principalmente quando recebi o das trompas obstruídas. Foi muito ruim pra mim.  Na hora que sai do consultório eu lembro que liguei pra minha irmã e fui direto pra casa dela chorando, porque ela também estava com dificuldade de engravidar. Quando recebi esse diagnóstico, falei: ‘Acabou tudo pra mim’.

A fertilização in vitro não é uma certeza, um procedimento caro e aí comecei a pesquisar os preços. Cheguei a fazer os orçamentos e era entre R$ 24 e R$ 25 mil e isso há dois anos atrás.  Eu desanimei por um tempo, mas no fundo nunca desisti, mas deixei de lado por um tempo, porque não tinha condição de fazer fiv. Ao mesmo tempo foquei no meu autoconhecimento e na minha saúde, porque vi que tudo era uma questão de saúde. 

No fundo eu sabia que tinha que passar por toda essa etapa de cura para no fim tentar conseguir de forma natural. Então, foi todo esse processo de seis e sete meses até quando chegou em 2021 e decidi retomar esse assunto da fiv. Eu fui atrás do doutor Antônio que foi um diferencial pra mim. Ele foi o primeiro médico que falou pra mim: ‘Realmente a indicação é fiv, mas tudo é possível. Eu já vi de tudo’. Parece que foi um gás que eu precisava".

Após 1 ano de tentativa, casal celebrou gestação com chá revelação. (Foto: Tati Akemi)
Após 1 ano de tentativa, casal celebrou gestação com chá revelação. (Foto: Tati Akemi)

Isis e Joaquim - Após a última consulta, Nathalia não iniciou o tratamento da fertilização in vitro, porém continuou buscando o próprio bem-estar fazendo a dieta antiflamatória, meditação e terapias alternativas, como o reike. Ao realizar novo exame, ela foi surpreendida.

"Em dois meses consegui engravidar de forma natural, não tomei nenhum medicamento, foi uma surpresa. Eu suspeitei, porque minha menstruação atrasou, mas para mim não era nada demais. Um dia senti um cheiro de comida que me enjoou, fui fazer o teste e deu positivo. 

Eu contei para esse médico que tinha me dado essa esperança e ele disse que queria acompanhar o meu início. Ele fez a primeira ultrassom e tinha só um embrião. Meu marido foi nessa primeira ultrassom e dali uma semana voltei sozinha ao médico. Falei pro meu marido que não precisava ele ir, porque  não dava para ver nada, era só uma bolinha. Fui sozinha, porque sempre fui muito independente. 

Esse médico é muito sarrista e na hora ele falou: ‘Opa, tem uma surpresinha aqui. São dois’. Achei que era brincadeira, cai no choro. Foi engraçado, porque todo mundo falava que eu tinha que fazer fiv e existe uma grande possibilidade de quem faz ter gêmeos. Muita gente pergunta se fiz fertilização in vitro e eu brinco que fiz uma fertilização espiritual. Eu atribuo isso a um milagre de Deus. 

Eu tive hiperêmese gravídica, vomitava oito vezes por dia e ficava preocupada se as crianças iam evoluir e ter nutrientes. Eu fazia o acompanhamento e eu tava com as vitaminas tudo certo apesar de nada parar no meu estômago. Eu tive muito medo por tudo, por ser um sonho tão desejado. Tive medo sim, principalmente no começo. Com 23 semanas, quase seis meses, comecei a sentir um peso bem grande na barriga, cheguei em casa e fiquei o dia inteiro deitada. 

Nessa noite tive contrações, cedinho fui ao banheiro e saiu o tampão mucoso que é o que fecha o colo do útero. O meu colo do útero abriu e causa disso até hoje não sei. Eu fui correndo para a Maternidade Cândido Mariano e lá fiquei em repouso absoluto e de lá não sai, porque meu colo estava aberto. Eu estava super consciente e foi uma rede de orações, muita gente me mandou mensagem. Eu estava confiante de que iria dar tudo certo, porque eu pensava se Deus me mandou não iria tirar, iria dar certo".

Joaquim e Isis nasceram de forma prematura na 23º semana. (Foto: Arquivo pessoal)
Joaquim e Isis nasceram de forma prematura na 23º semana. (Foto: Arquivo pessoal)

O momento do parto - Após cinco dias em repouso, Nathalia voltou a sentir contrações. Da Maternidade Cândido Mariano, ela foi encaminhada para o hospital El Kadri onde passou por trabalho de parto no dia 27 de agosto de 2021. Dali, os bebês só foram para casa com os pais em 30 de dezembro daquele ano.

"Eu precisava de duas vagas de UTI e estava bem difícil e abri duas no El Kadri. Me transferiram de maca e eu nem me levantei. Cheguei em trabalho de parto, tentaram me dar medicamento para inibir a contração, mas não adiantava mais. 

Era feriado, dia 26 de agosto, mas aí eles nasceram no dia 27, à 1h15. Foi de parto normal e eu não me preparei absolutamente pra nada de parto normal. Para mim era muito óbvio que ia ser cesariana, mas pelo fato da prematuridade o parto normal seria melhor para a saúde deles. Aí foi todo um processo, porque eles ficaram entubados. Eles eram muito pequenininhos, a pele deles chegava a ser gelatinosa de tão não preparados que eles estavam para sair.

Na UTI foi bem difícil para nós, porque a gente se dedicou muito. A gente ficava no hospital todo dia, a visita do pai era dois horários por dia e só a mãe podia ficar o dia inteiro. Eu ia de manhã, almoçava por lá e ficava o dia inteiro até a noite que meu marido conseguia visitar, porque ele trabalhava e só conseguia ir a noite. 

A gente sofreu muito porque queria levar eles para casa, mas eles não estavam preparados. A gente vê eles sendo furados, eles têm marcas pelo corpo inteiro. Eu falo que são as marcas da vida deles, então é bem difícil. 

Tudo a gente ia acompanhando cada grama que ganhava era uma comemoração, mas teve algumas intercorrências nesse período de internação. A Isis teve uma parada cardiorrespiratória, mas foi bem rápida".

Farmacêutica passava o dia todo no hospital com os filhos. (Foto: Arquivo pessoal)
Farmacêutica passava o dia todo no hospital com os filhos. (Foto: Arquivo pessoal)

Da alta para a UTI novamente - No dia 120 tudo estava pronto para que os bebês finalmente fossem para casa. Em meio ao alívio, alegria e comemoração dos familiares, os gêmeos precisaram superar mais uma etapa delicada.

"Eles estavam de alta, foi aquela festa, minha mãe foi me acompanhar no hospital com as malas pronta. Eles deixam a gente uns dias na internação, eles ganharam peso e a médica deu alta de manhã. Não fomos embora aquele dia, porque tinha que fazer o teste da orelhinha e ficamos esperando a fonoaudióloga que só poderia fazer a tarde. 

Logo depois do almoço, a Isis começou a fazer uns barulhos estranhos, eu levantei da cama para ver ela e estava tudo ok. Na hora que olhei para o lado, o Joaquim tava azul, não estava respirando. Sai correndo com ele e gritando. Fizeram massagem para ele voltar a respirar. 

Suspeitaram de doença viral e fizeram o painel. Quando deu de manhã, a Isis começou a tossir e levaram ela para a UTI. Aí voltaram os dois para a UTI. Eles tiveram uma condição de bronquiolite.  

Os dois tiveram e foram os piores dias da minha vida com certeza, acho que nunca mais vou viver aquilo de novo. É uma doença muito grave, é muita secreção, tiveram que entubar eles novamente. Então, o bebe que já estava mamando no peito teve que voltar a se alimentar por sonda. Foi um retrocesso tudo voltou para o começo e muito pior. 

Essa doença foi terrível, eles tomaram muitos antibióticos e ficaram com uma sequela na audição. Por enquanto, eles não escutam direito, mas a gente está acompanhando com o otorrino para ver se vai voltar ou não. 

Para mim, foi muito angustiante porque nessa época por conta de vírus proibiram os pais de entrarem e só as mães podiam. O Eduardo ficou sem ir, então eu chegava e via os dois entubados super mal. Eu comecei a dormir lá, porque eu fiquei com tanto medo de acontecer alguma coisa. Como a saturação deles despencava tão rápido eu comecei a dormir nas cadeiras. Todo mundo ficou abalado com o que aconteceu, porque eles evoluíram tão bem, então toda essa situação foi muito complicada".

O casal no dia 30 de dezembro de 2021, que é a data de alta dos gêmeos. (Foto: Arquivo pessoal)
O casal no dia 30 de dezembro de 2021, que é a data de alta dos gêmeos. (Foto: Arquivo pessoal)

A ida para a casa - No dia 30 de dezembro de 2021, Joaquim e Isis saíram do hospital e finalmente conheceram o lar e o quarto decorado pelos pais. Para Nathalia e Eduardo foi emocionante o momento no qual os filhos saíram da UTI.

"Depois de tudo isso que a gente passou foi muito maravilhoso ter eles em casa. Fiquei quatro meses com a minha mãe de tanto medo que tive de vir pra casa. Minha família foi uma rede de apoio sempre ajudando.

É um sentimento de gratidão a Deus por a gente ter conseguido tudo isso. No fim das contas deu tudo certo. A gente sai forte, fortalecida na fé e hoje eu creio em milagres. Foi milagre eu ter conseguido engravidar de forma natural, eles terem nascido com vida e sobrevivido a bronquiolite para hoje estarem super bem. Então, é um milagre.

Uma coisa que a gente gravou é que na hora que eles nasceram, o médico falou assim: ‘Olha, eles tem muita vontade de viver’. Isso ficou marcado pra mim, é bem isso, eles já nasceram lutando e são muito fortes. Essas marcas no corpo deles é só para contar história", conclui a mãe.

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