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Comportamento

Empatia virou boneca para agradecer quem atende dona Bete

Costurar bonequinhas de pano foi jeito sensível que Bete encontrou para agradecer quem continua trabalhando em plena pandemia

Paula Maciulevicius Brasil | 14/05/2020 08:26
A bonequinha que dona Bete fez em agradecimento.
A bonequinha que dona Bete fez em agradecimento.

Se colocar no lugar do outro. Era este o sentimento que dona Bete tinha todas as vezes em que ia até o mercado perto de casa. Moradora há décadas da Vila Sobrinho, a bancária aposentada saía com medo de ser contaminada para fazer compras ou ir à farmácia, sempre pensando que quem lhe atendia, no caixa, também tinha os mesmos receios e preocupações.

São poucos os metros de distância que separam a casa de Bete, na Rua Luiz de Albuquerque do Comper da Avenida Tamandaré. O marido quem sempre ia às compras, mas por recomendação médica em tempos de coronavírus, apesar dele não ter nenhuma comorbidade, dona Bete ocupou seu lugar.

"Aí eu passei a ir mais, toda semana eu vou e faço as compras ali. Naquele começo de pandemia, eu ia morrendo de medo. Uma ansiedade para sair de casa, eu não ia para lugar nenhum. Só quando precisava ir no Comper ou na farmácia", diz Elizabete Pancini, de 60 anos.

Dona Bete, no dia da entrega da boneca para a encarregada dos operadores de caixa.
Dona Bete, no dia da entrega da boneca para a encarregada dos operadores de caixa.

Diante das primeiras notícias de casos de covid-19 em Mato Grosso do Sul, dona Bete se lembra da ligação que recebeu de uma amiga. "Ela me ligou dizendo que estava acabando o papel higiênico. E eu fiquei preocupada, pensando: será que a gente vai ter que estocar as coisas? Depois fui vendo aquelas meninas trabalhando, e eu olhava com gratidão mesmo, agradecia algumas por estarem ali, porque não deve ser fácil, a preocupação que eu tinha, elas deviam ter também", narra.

Foi depois de ter feito uma boneca enfermeira, a outra "heroína" que veio à cabeça da artesã foi operadora de caixa. "Minha ideia foi para os operadores, mas aí quis homenagear todo mundo que trabalha ali, desde quem fatia presunto e queijo e até no açougue", conta.

A penúltima ida ao mercado foi com muita atenção para observar todos os detalhes do uniforme: camisa bege clarinha, coque no cabelo com redinha, bolso e a logomarca do supermercado.

Na semana passada, dona Bete entrou no mercado com uma caixinha e um bilhete em mãos, e perguntou ao primeiro funcionário que encontrou se poderia falar com o gerente. "Ele disse que era ele mesmo, aí entreguei. Ele chamou a encarregada dos caixas para tirar foto comigo e disse que iria sortear".

Bilhetinho dizia: “Aos trabalhadores do Supermercado Comper da avenida Tamandaré, da Vila Sobrinho, minha gratidão pelo atendimento com toda biossegurança e manutenção do estoque, nos trazendo tranquilidade neste momento de pandemia. Que Deus lhes abençoe juntamente com seus familiares”.
Bilhetinho dizia: “Aos trabalhadores do Supermercado Comper da avenida Tamandaré, da Vila Sobrinho, minha gratidão pelo atendimento com toda biossegurança e manutenção do estoque, nos trazendo tranquilidade neste momento de pandemia. Que Deus lhes abençoe juntamente com seus familiares”.

Aos olhos dos funcionários, a atitude significa reconhecimento. A sorteada foi a funcionária Franciny Fernandes Andrade Ojeda, de 20 anos, também operadora de caixa há cinco meses.

“Fiquei mais maravilhada com a atitude da Bete que, nessa época de pandemia da covid-19, que estamos enfrentando, não poupou tempo e generosidade para mostrar sua gratidão conosco. A sociedade está aflita com tantos acontecimentos e nós que estamos na linha de frente, não paramos nenhum minuto. Assim como todo mundo, tenho temor, mas faço a minha parte para combater o contágio, sempre usando máscara e álcool gel”, disse a ganhadora.

É um gesto pequeno, mas de enorme significado. "Fiz para demonstrar gratidão. Dos meus 31 anos de trabalho, parte deles foi com o público, tem gente que só exige, mas quando você está trabalhando ali você é uma pessoa com sentimentos, preocupação com a família. Eu quis mostrar gratidão pelo trabalho que elas estão fazendo", descreve.

Dona Bete é bancária aposentada da Caixa Econômica. Foram três décadas de atividade, até se aposentar oito anos atrás. Depois que encontrou ocupação e terapia no artesanato, também passou a fazer bonecas de pano.

O ateliê é simples, na garagem de casa, os clientes são os amigos. "Nem pela internet eu vendo", brinca. Quem quiser, por acaso, o contato de dona Bete, o telefone é: 9-8119-2288.

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