Exame lido errado fez Maria dirigir pela cidade com “a vida por um fio”
Com dose humor e emoção, servidora pública conta sobre reviravolta que viveu em dezembro e o medo da morte
Quem vê o sorriso da servidora pública Maria Tereza da Costa, de 47 anos, nem imagina o perrengue que ela enfrentou em dezembro. Na verdade, o maior sentimento dela foi o medo da morte, em um mês de festividades que ela jurava que estava tudo bem com a saúde, até a experiência de uma médica que correu contra o tempo e salvou sua vida para que passasse Natal e Ano-Novo com a família.
Servidora pública há 25 anos, mulher engajada em movimentos sociais e LGBTQIA+ em Mato Grosso do Sul, não é preciso nem dizer que a cabeça e o corpo de Maria não param nunca. Ela vive trabalhando pra lá e pra cá e, nos últimos meses, passou a sentir dores no peito e fadiga em determinadas atividades, como uma simples subida de escada.
Foi então que procurou um cardiologista e fez uma série de exames. Em um deles, conhecido como teste ergométrico, um exame feito uma esteira, Maria passou mal. Após se recuperar em minutos, voltou ao médico com todos os exames em mãos.
O especialista olhou os exames e disse à Maria que ela estava com angina, nome dado para a dor no peito causada pela diminuição do fluxo de sangue no coração. Ela não é uma doença, mas está relacionada a outras condições que provocam obstrução nas artérias coronárias, responsáveis por levar sangue ao coração. E dependendo da gravidade, pode ser tratada com mudanças no estilo de vida ao invés de cirurgia. E foi essa a indicação dada à servidora.
Nesse contexto, Maria conta que, há anos, faz tratamento contra ansiedade e depressão, com acompanhamento psiquiátrico e também terapia com psicólogo. Por saber da própria ansiedade, ela suspeitou que as dores recorrentes no peito pudessem ser fruto deste sentimento ligado à preocupação.
“O médico me disse que se eu diminuísse o sobrepeso, mudasse os hábitos alimentares e tivesse uma vida mais ativa, eu melhoraria”, conta. “Então, saí dirigindo pela cidade, achando que estava tudo bem, sem sequer saber que minha vida estava por um fio, literalmente”.
Foi uma ida ao psiquiatra que a reviravolta começou. Ao relatar as dores, que não cessavam, a especialista pediu uma segunda opinião médica e recomendou à Maria outro profissional para realização de novos exames.
Lá foi Maria fazer tudo de novo e voltar com a papelada ao médico. “Isso foi no dia 16 de dezembro, o dia que entrei em choque e levei o maior susto”.
Havia alteração tanto no exame anterior quanto no segundo exame. “E foi naquele momento que ela me entregou uma cartinha e disse para minha esposa me levar direto para o hospital, para nem passar em casa”.
A caminho do hospital, Maria ainda lembrou-se de ligar para sua advogada e deu todas coordenadas caso ela morresse. “Meus pais não estão mais aqui, então, eu pedi para que ela organizasse tudo e não deixasse minha esposa desamparada”.
Confusa e sem saber o que viria pela frente, a ansiedade bateu forte, mas Maria ainda tentou ser confiante. Ao chegar ao Hospital da Cassems, foi encaminhada direto para o pronto-socorro.
No dia seguinte, foi feito um cateterismo – procedimento que pode ser utilizado para diagnosticar ou tratar doenças cardíacas – “95% da artéria principal do meu coração estava comprometida/entupida, ou seja, minha vida estava por um fio mesmo. O menor esforço que fizesse poderia ser fatal. Em 18 de dezembro, entrei às pressas no centro cirúrgico para uma cirurgia de aproximadamente 8h de duração”, lembra.
Da emoção para o humor, Maria conta rindo dos minutos que antecederam a cirurgia. “Eu não parava de falar, pedia por tudo que é mais sagrado para que a anestesista me trouxesse de volta. De repente, comecei a escutar um saxofone tocando. Naquele momento, eu achei que já tinha morrido e estava escutando música. Mas era só um músico tocando no hospital para relaxar a equipe médica”, conta rindo.
Quando acordou da cirurgia, numa situação nada confortável, já que precisou ficar na UTI e com fios pelo corpo, Maria só conseguiu agradecer. “Agradeci pela minha vida, por ter tido a sorte de não ter morrido na rua, enquanto dirigia com a minha vida por fio”.
“Lembrei muito da minha mãe, mulher simples, mas forte, que dizia nunca ter visto num cortejo fúnebre os bens serem enterrados com a pessoa, por isso, a gente deveria viver a vida de maneira mais simples, espiritualizada, feliz”.
Maria saiu do hospital absorvendo tudo que havia vivido e agora, pretende ser uma nova mulher. “Eu estou nesse período de repensar a vida e de compreender como ela é frágil. Quando recebi alta, senti um alívio e uma emoção gigantesca pela sensação de ter encontrado anjos na vida”, diz, se referindo à equipe médica e de especialistas que salvaram a sua vida, além do amor da sua vida, Christianna Batista, com quem é casada há 4 anos e foi uma de suas maiores forças.
Após entrevista e relato de felicidade em sobreviver, Maria fez um pedido, o de deixar um agradecimento aos seguintes especialistas: psiquiatra Karina Cestari, cardiologista Carolina Figuerôa, cirurgião cardiovascular Carlos Barbosa, psicóloga Lika Rodrigues e fisioterapeuta Matteo Burgo. “Todos vocês foram anjos na minha vida”, finaliza.
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