Guardado a 7 chaves, cartão trouxe a Kárita o que ela mais queria: o nome do pai
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Foram 21 anos de perguntas, dúvidas e de uma procura que nem o lado de cá, nem o de lá, sabiam por onde começar. Kárita nasceu em Rondonópolis, no estado vizinho e veio para Campo Grande ainda bebê, com pouco mais de 1 ano, sem nunca saber quem era o seu pai.
A história contada à ela ficou restrita em dizer que o pai tinha, à época, entre 21 e 22 anos e que o exame de DNA solicitado por ele não foi feito, porque a família se negou a realizar. Com a mudança de bairro dos familiares da menina, o pai, que era leiteiro na região perdeu todo contato.
Por anos, Kárita perguntava quem era o pai, um nome e como encontrá-lo. "Como ele chama? Quem é? O que ele faz? E sempre diziam: não sei, não lembro o nome", repete a estudante Kárita Anábia Rolin Pires, de 21 anos. Decidida em saber suas origens, a jovem pensou em contratar um detetive na cidade onde nasceu. "Chega numa idade que não adianta mais tentar esconder, quando eu viesse para Rondonópolis, eu ia atrás da pessoa".
Ao deixar isso bem claro para a avó, um nome e um sobrenome surgiram do baú: era um cartão guardado por duas décadas, que Ludmar Lima usava para se apresentar como leiteiro. Com nome em mãos, a filha buscou primeiro na internet, mas não aparecia mais que aprovações em concurso.
Até que a filha resolveu entrar num grupo de vendas do Facebook, da cidade de Rondonópolis e tentou a sorte em meio a mais de 70 mil membros. "Publiquei lá as coisas que eu sabia, dizendo que procurava um senhor de 40 a 50 anos de idade, que vendia leite no bairro Jardim Atlântico, e que na época tinha cabelos compridos". A publicação foi feita às 11h da noite e às 7h da manhã do dia seguinte, um inbox da meia-irmã trazia o caminho. "Você está procurando o meu pai, eu sei porque. Você é filha dele", veio a resposta.
Por anos, Ludmar tentou buscar a menina, mas não tinha nem sequer um nome. Dos familiares de lá, chegou a pedir qualquer informação que também lhe foi claramente negado. Antes de se casar e novamente depois de ter os três filhos, o leiteiro que virou professor de Biologia, abriu a história para a família, de que havia uma filha, em algum lugar e que ela um dia poderia voltar.
Por coincidência, na mesma data em que a meia-irmã respondeu, o pai das duas estava a caminho de Campo Grande, para visitar familiares no Estado. Em contato com o pai, a filha de Rondonópolis contou o achado e repassou à filha de Campo Grande um horário e um local de encontro. Às 3h da tarde do dia 5 de janeiro, na praça de alimentação do Shopping Bosque dos Ipês. "Esteja lá que ele vai estar lá", leu Kárita.
"Eu cheguei na praça, olhei e não achei. Pensei, ele não veio ou foi embora. De repente, ele vinha saindo de dentro de uma das lojinhas e veio vindo na minha direção. Quando a gente se olhou, ele se emocionou primeiro, eu fiquei olhando para ver o que ele ia falar.
Me chamou: - Kárita? Não teve jeito, foi espontânea a emoção. O choro e ele me agradeceu por eu ter achado ele".
Do pai ela ouviu toda versão de quantas vezes a procurou e dela, Ludmar escutou que a vontade de encontrá-lo se tornou ainda maior depois que ela foi mãe. "O meu filho tem pai, eu tinha o direito de ter também e chegou a hora", diz.
Olhando pela fotografia, as semelhanças são tantas que não se imagina que os traços demoraram 21 anos para se encaixar. "Quando eu a vi, do outro lado, longe, empurrando um carrinho de bebê... Olhei e confirmei, era minha filha e meu neto. Não sei te explicar, é uma emoção muito forte. Eu mal conseguia respirar", conta o professor de Biologia, Ludmar Lima e Silva, de 43 anos.
O relógio passou voando. Eram 21 anos de vida para se por em dia. Kárita foi para Rondonópolis, fez o exame de DNA e voltou a Campo Grande. Na manhã seguinte à sua chegada, o pai a chamou de novo. O resultado só confirmava o que os dois já tinham sentido no primeiro abraço: eram pai e filha.
A entrevista é feita por telefone, porque os dois estão se conhecendo em Rondonópolis. "21 anos não são 21 dias, então a gente está tentando aproveitar ao máximo", explica a filha.
Kárita agora tem o nome do pai na certidão e também o sobrenome "Lima", acrescentado. A história é narrada com felicidade que se percebe pela voz e também com muita emoção, principalmente na hora de falar: pai.
"Foram 21 anos para sair essa palavra da boca, quando você fala, vem a vontade de chorar. Mas eu sei que agora em diante eu realmente tenho um pai, no sangue, no coração, na mente e nas memórias de tudo o que está acontecendo agora".