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Comportamento

Há 9 meses, advogada deixou tudo em MS para ser feliz em montanha

Amalanti narra como é viver da forma mais natural possível e trocar o calor de MS por frio e neve

Thailla Torres | 03/08/2022 06:59
Inverno intenso na montanha tem longos dias de neve. (Foto: Arquivo Pessoal)
Inverno intenso na montanha tem longos dias de neve. (Foto: Arquivo Pessoal)

Há 9 meses tudo mudou na vida da advogada Amalanti Thais Holosback Rodrigues Martins, de 29 anos. Ela trabalhava na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul como assessora de um deputado quando resolveu largar tudo em Mato Grosso do Sul e se mudar para uma montanha, no Sul do Chile, considerado um lugar sagrado e com natureza abundante em volta.

No Voz da Experiência de hoje ela narra como foi trocar o calor de 30 °C do Mato Grosso do Sul para viver as diferentes estações do ano de um jeito diferente e com um inverno de muita neve e temperaturas abaixo de 0 °C.

Desejo de viver na montanha começou na infância, durante passeios com a avó. (Foto: Arquivo Pessoal)
Desejo de viver na montanha começou na infância, durante passeios com a avó. (Foto: Arquivo Pessoal)

“Minha história com essa montanha começou quando eu era criança na verdade. Eu morava em Chapadão do Sul e minha avó em Campo Grande, então desde sempre fazíamos esse trajeto e no meio do caminho sempre passávamos por Camapuã e eu falava que queria morar lá, no alto de uma montanha. 

Quando já estava na faculdade, estava em uma busca espiritual muito grande por várias religiões e filosofias quando conheci Condor Blanco, um caminho espiritual integral de desenvolvimento pessoal baseado nos 4 elementos da natureza. Fiz uma vivência que é o Kainapi, que tem em toda troca de estação, inclusive agora na primavera vou visitar e aproveitar para ir nela, e me encantei. 

A sede dessa organização e onde mora o fundador e mentor, Suryavan Solar, e sua filha, também mentora de Condor Blanco, Sol Deva Nita, fica no sul do Chile, e adivinha? Em uma montanha. Onde tem os seminários durante o verão. Em janeiro de 2015 foi quando fui pela primeira vez fazer o seminário na montanha de Condor Blanco. 

Quando estava subindo (uma trilha tranquila de uns 2 km) até o acampamento comecei a chorar, fiquei muito emocionada porque me sentia como chegando em casa depois de muitos anos fora. 

Quando decidiu viver na montanha, Amalanti entendeu o verdadeiro significado da palavra renúncia. (Foto: Arquivo Pessoal)
Quando decidiu viver na montanha, Amalanti entendeu o verdadeiro significado da palavra renúncia. (Foto: Arquivo Pessoal)

E naquele momento pensei “um dia vou morar aí” desde então, fui todos os anos para participar dos eventos. Todos os verões, alguns eu ficava uma semana, mas a maioria das vezes ficava quase 2 meses. Mas, a vontade de morar foi ficando de lado por conta do dia a dia e das desculpas comuns que damos para nós mesmo quando temos um sonho e vamos deixando de lado, “um dia, quando eu tiver mais tempo, mais dinheiro” e no Verão de 2021 quando fui senti que o momento de morar ali tinha chegado, mas estava na pior fase para abrir mão da cidade, estava no meio da obra do sonho da minha casa própria e com um bom emprego. Mas, pensei “nunca vai ser a hora certa”, simplesmente precisava seguir meu coração. Voltei, terminei a obra, deixei minha cachorra de 10 anos com minha mãe, meu gato com minha madrinha e minha gata eu doei com muito pesar no coração. E nesse momento descobri o que significava realmente a palavra renúncia.  

Realmente não foi fácil sair do Mato Grosso do Sul, trocar o calorzinho de 38 graus pelo frio e neve, e agora em vez de ver as araras no céu vejo condores voando, e o amado tereré por chá e mate. 

Apesar da saudade da família, meus pais, desde sempre criaram eu e minhas irmãs pra termos uma vida mais livre, sempre nos apoiaram a viajar e a conhecer novos lugares, agradeço muito a eles, por sempre estarem apoiando essas ideias convencionalmente “loucas”. 

Aqui são mais ou menos 30 pessoas que moram atualmente de diversos países, apesar da maioria serem brasileiros. Sem dúvida tenho uma vida mais natural aqui, tomo “banho de bosque” todos os dias e temos uma alimentação vegetariana por aqui, tem o rio de degelo e por isso podemos tomar água direto dele que é limpo e cristalino e também ótimo pra tomar banho e se sentir vivo. O ar é mais puro sem dúvidas alguma por não ter tanta poluição tanto do ar como sonora. E a conexão comigo mesma e de viver constantemente me desenvolvendo como pessoa é voltar ao natural do ser.  

A experiência tem sido enriquecedora, diz a advogada. (Foto: Arquivo Pessoal)
A experiência tem sido enriquecedora, diz a advogada. (Foto: Arquivo Pessoal)

Logo que cheguei também, já comecei a dar aula de Muay Thai pra comunidade, também temos aulas de yoga e dança, cada um aporta também com aquilo que tem habilidades. 

E aqui também temos oportunidade de se aprofundar em alguns temas, eu estou recebendo mentoria da Sol Deva Nita sobre o elemento fogo, que está vinculado ao nosso mundo interno com o propósito que temos na vida, magnetismo e paixão pela vida. 

Prezamos muito por viver uma vida mais natural, mas aqui é um caminho de desenvolvimento integral, ou seja, temos internet, nossos mentores fazem lives semanalmente sobre diversos temas, usamos a tecnologia a nosso favor, porque a comunidade aqui é muito organizada, somos divididos em equipes e cada dia uma equipe faz café da manhã e almoço, e temos horário de fazer trabalhos em prol da comunidade e depois do almoço a maioria de nós trabalham online em suas diversas áreas. 

Nós moramos em barraca aqui durante o final da primavera, verão e começo de outono, então temos com certeza uma vida minimalista. Durante o inverno cada um vai para algum domo, porque realmente faz frio e como agora, que está nevando.  

Existem muitos desafios de morar em uma montanha, ainda mais seguindo um caminho espiritual, em outro país, são desafios físicos, emocionais, mentais e espirituais, mas todos eles vão ajudando o meu crescimento como pessoa, com certeza me transformo todos os dias. 

O clima frio exige um pouco mais, por exemplo a bateria do celular acaba do nada, se não deixar a torneira aberta de noite a água congela, o gás pode congelar tb, as compras são feitas para a comunidade uma vez por semana na cidade, então tem que encomendar com antecedência se quiser algo do mercado, não dá pra comer pizza, hambúrguer ou sushi a hora que quiser. Em contrapartida, acaba saindo do egoísmo do que eu quero e tendo uma visão mais comunitária.  

Minha programação era passar um ano e meio, mas confesso que não sinto a menor vontade de ir embora daqui. A maioria das pessoas que vem pra cá ficam de 1 a 4 anos, algumas exceções estão há 10, 15 e 20 anos. 

Amalanti durante um dos rituais do Kainapi. (Foto: Arquivo Pessoal)
Amalanti durante um dos rituais do Kainapi. (Foto: Arquivo Pessoal)

Vivenciar as 4 estações sem dúvidas é uma das coisas mais incríveis que eu passei aqui, eu cheguei na primavera então estava tudo muito florido, tem muitas cerejeiras aqui, imagina. No outono, tudo vai ficando vermelho e amarelo e quando bate um vento forte parece uma chuva de folhas, é algo incrível, eu realmente achei que o outono teria sido minha estação preferida, porque é muito encantador. Mas, quando caiu o primeiro floco de neve, aquela imensidão branca, a paisagem, os lugares, mudam completamente, é tão lindo que os perrengues que vem com a neve se tornam tão pequenos.  

E com as estações também tem as frutas, pegar do pé cada uma no seu momento certo, cereja, framboesa, amora, maçã, maqui, etc. Não tem preço. 

Acredito que essa vida mais selvagem prepara para qualquer desafio da vida, se formos pensar em um animal selvagem, ele é auto suficiente. Não que morar em uma montanha nos deixa totalmente auto suficiente, mas algo muito próximo, vamos aprendendo a “se virar” desde o mais básico. Quero acender a estufa, vou lá pegar o machado e picar lenha, acabou a água quente, vou dar uma olhada no que pode ter acontecido com o calefon, quero comer, vou lá fazer minha própria comida, não tem delivery.  

Morar na Montanha de Condor Blanco é abrir mão do conforto da cidade, mas também se abrir para uma descoberta sobre si própria de uma forma muito profunda.

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