Internet ferve com mais uma polêmica envolvendo filme gay em escola pública
Mesmo tendo classificação indicativa de 14 anos, pai achou absurda exibição de filme na Escola Maria Constança
Em post no Facebook, com quase 2 mil compartilhamentos, uma crítica se espalhou por Campo Grande depois da exibição do filme "Crime Barato", na Escola Estadual Maria Constança de Barros Machado. É mais uma daquelas polêmicas em que uma pessoa fala o que quer e a galera reproduz sem ouvir os dois lados.
Na postagem com o enunciado "Denúncia Gravíssima", um homem que se apresenta como pai de aluno fala sobre "um filme de sexo explícito de cunho homossexual onde os alunos não foram avisados de seu conteúdo sexual". Ainda de acordo com ele, além de não ser informada, após entrar no auditório, a turma teria sido proibida de sair durante a apresentação e ameaçada pelo responsável caso alguém filmasse ou fotografasse as cenas do "repugnante filme".
O homem não para por aí e ataca depois de ver duas cenas, aparentemente, registradas pelo filho durante a exibição. Em uma, homem aparece pelado, na outra, ele surge na cama, com um transsexual atrás, simulando sexo.
"Esse lixo de filme é intitulado O Crime Barato, foi rodado em Campo Grande e pasmem, financiado com verba pública". Os usuários da rede social reagem como normalmente tem ocorrido. Os seguidores concordam com a publicação comentando coisas como "nojo" e "tem que a podar a graça desse vagabundo", dispara.
O filme foi sim rodado na cidade pelo diretor Mhiguel Horta, para falar da marginalização que muitos da comunidade LGBT+ vivem. Mas o diretor diz que não há nenhuma cena de sexo explícito. Admite as imagens de nudez masculina e outra que insinua sexo envolvendo um trans, mas nada que adolescentes de 14 anos nunca tenham visto em novelas ou seriados de internet. (veja vídeo no final e tire suas conclusões).
"Até porque a classificação do filme é 14 anos. Caso contrário, teriam censurado para idade superior", explica. "O que está pegando de fato, é que a coisa tem viés político e religioso radical", rebate.
A escola resolveu exibir o material para discutir diversidade e respeito. Mhiguel cedeu uma entrevista para o Lado B no mês passado em que explica todo a sinopse do longa-metragem.
Em uma de suas falas ele parece prever a situação pela qual passaria. "Meu filme só quer falar de respeito, é sobre mostrar para as pessoas o quanto elas podem aceitar e ter um ganho com isso. Indico meu filme principalmente, para pais com filhos homossexuais e que não conseguem lidar com essa situação", explicava ele, em entrevista cedida no dia 12 de setembro.
Em contato com a assessoria da SED (Secretaria de Educação do Estado de Mato Grosso do Sul), o Lado B soube que a história não é como a contada na publicação. "Os alunos foram informados que o filme tinha algumas imagens mais fortes. Eles concordaram em assistir e as portas ficaram abertas o tempo todo. Se eles quisessem sair caso ficassem incomodados podiam, inclusive cerca de 6 alunos chegaram a se retirar, conversaram lá fora sobre o filme, e dois voltaram a seus lugares", explicou a SED por meio de nota.
A classificação indicativa do filme é de 14 anos e a diretoria e o professor responsável fizeram questão de não colocar nenhum aluno com menos de 14 anos na sala da exibição, garante a Secretaria. "As turmas tinham de 14 a 18 anos", completa a Secretaria, que diz ainda fazer parte da proposta das escolas de tempo integral ter acesso a esse tipo de informação.
Crime Barato, a trama - Crime Barato é sobre pessoas que precisam se reapresentar ao mundo todos os dias para serem vistas como realmente são.
Os protagonistas são interpretados pelos atores João Pedro Xavier, na pele de Michael, e Diogo Adriani que interpreta Elias, um casal que ao longo da trama vê os conflitos pessoais interferirem no relacionamento, falando também das relações familiares, amigos e cotidiano. Tudo pensado para trazer luz ao tema, que, a contar pela reação extremista nas redes sociais, em pleno 2018 ainda precisa de discussão e representatividade.
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