José precisou dar muita ‘patada’ para chegar até medalhas e faculdade
Jovem foi diagnosticado com deficiência intelectual ainda criança e preconceito veio desde cedo
Aos 25 anos, José Venâncio Nazário Barbosa acumula mais de 30 medalhas de atletismo e se prepara para finalizar a graduação em Educação Física. Em conjunto com o apoio da família e de professores, o jovem conta que apesar da alegria ser constante, ele precisou aprender a não ser gentil o tempo todo quando o assunto é preconceito sobre sua deficiência.
Diagnosticado antes dos 10 anos de idade com deficiência intelectual, José já chorou com vários episódios e narra que para ele o caminho para viver sua vida se tornou outro, o da defesa própria. Assim, garante que, além do suporte dado pela família e professores da Apae, entender o que ele queria sempre foi importante.
“Preconceito tem até hoje”, resume o atleta de 25 anos sobre o assunto e, completando, justifica que seu jeito de se defender acabou sendo o de dar “patada atrás de patada” em quem insistiu e ainda insiste em o menosprezar.
Hoje, Venâncio, como é chamado pela família, diz que se imagina dando aulas de Educação Física, atuando como personal trainer e não deixando de lado as competições. Tudo isso sem dar atenção para comentários que começaram no ensino infantil e seguem entre quem questiona o motivo de “tanto esforço” para quem não sabe ler e escrever.
Nesta semana, ele e outros colegas que foram premiados nas Olimpíadas Nacionais das Apaes desfilaram com caminhão do Corpo de Bombeiros Militar em Campo Grande. E, claro, o sorriso se manteve durante todo o trajeto porque como ele diz, “a medalha deste ano é meu xodó”.
Depois de competir por anos na equipe de basquete da Apae, o jovem começou a se dedicar ao lançamento de discos. Desde então, as premiações regionais foram aumentando e em 2022 o sonhado ouro nacional chegou.
Mãe de Venâncio, Eliane Nazário Barbosa, de 51 anos, explica que todo o trajeto do filho foi complicado por diversos fatores. Mas hoje os tempos difíceis parecem ter ficado no passado.
“Nós só ficamos sabendo que ele precisava de ajuda quando tinha 5 anos porque a professora comentou que ele não acompanhava o restante da turma. Ela disse que era porque a gente mimava muito ele, porque era sozinho, mas não era nada disso”, explica a mãe.
Na época, ela e o marido, Paulo Cesar Barbosa, de 58 anos, não sabiam da existência da deficiência intelectual e aos poucos, junto com o filho, precisaram aprender sobre assuntos até então desconhecidos.
Além de não saber quais caminhos percorrer logo no início, a mãe narra que o medo em conjunto aos fatores econômicos não facilitaram. Tanto é que, durante vários meses, os três levavam mais de 1 hora andando em uma única bicicleta para chegar até a Apae.
“A gente chegava totalmente suados e ele roxo de tanto calor, todo molhado. Mas a gente ia mesmo assim todos os dias porque no início era mais intenso, eles precisavam fazer de tudo para ver tratamento”, lembra Eliane.
Técnica da equipe da Apae e coordenadora regional das olimpíadas, Michele Caroline Fabian completa os relatos da família e de José dizendo que o jovem é um atleta completo. "Ele é focado, objetivo, dedicado e muito inteligente, pois aproveita cada momento da aula para melhorar seu desempenho. É um atleta que vale ouro, um ser humano incrível que tenho certeza que fará muita diferença e muito sucesso profissional".
Assim como ocorreu durante toda sua vida, Venâncio diz que o companheirismo dos pais e de professores que acreditaram nele é importante até hoje. Isso porque desde decidir fazer faculdade até viajar, tudo é motivo de orgulho geral.
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