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Comportamento

Juiz que não durou 2 meses e árvores de 100 anos, qual é a ligação?

Depois até de mandado ser preso, o então advogado de 27 anos pediu demissão do cargo

Aletheya Alves | 29/08/2023 07:03
Árvores localizadas no canteiro da Avenida Afonso Pena se ligam com outras histórias de Campo Grande. (Foto: Paulo Francis)
Árvores localizadas no canteiro da Avenida Afonso Pena se ligam com outras histórias de Campo Grande. (Foto: Paulo Francis)

Olhar as árvores centenárias da Avenida Afonso Pena pode nos levar a uma viagem que vai para mais longe do que sua plantação ao fazer pensar em qual é a relação entre o primeiro juiz de Campo Grande e as figueiras. Sem ter durado nem dois meses no cargo, o então advogado de 27 anos, Arlindo de Andrade Gomes, foi mandado ser preso e decidiu que a função não seria para ele.

Integrando as histórias de Campo Grande, o responsável pela plantação das árvores da Afonso Pena, Arlindo de Andrade Gomes chegou à cidade em 1911 não como prefeito, cargo que ainda conquistaria, mas sim como o primeiro juiz da então Comarca de Campo Grande.

Nascido em Pernambuco, o jovem advogado decidiu se mudar para o então Mato Grosso, levando um mês para chegar em Cuiabá. Lá, recebeu uma nomeação para ser fiscal de um concurso, mas, em 1910, se tornou juiz de Direito em Nioaque.

Nessa época, Campo Grande ainda lutava para ser comarca e, tendo conseguido o feito em 1911, também precisava de um juiz. Aceitando a transferência, foi aí que a história de Arlindo se uniu à da nova cidade.

Tempos após pedir demissão do cargo como juiz, Arlindo se tornou prefeito da Capital. (Foto: Arca)
Tempos após pedir demissão do cargo como juiz, Arlindo se tornou prefeito da Capital. (Foto: Arca)

Sem ter passado nem um ano de sua chegada a Campo Grande, Arlindo precisou lidar com as consequências de uma invasão de 300 homens na nova comarca. Diz a história narrada por Paulo Coelho Machado de que 50 dias após a instalação do novo título de comarca, o caudilho Bento Xavier, um militar com exército próprio, ocupou a Vila de Campo Grande.

Na época, o presidente da Câmara de Vereadores, Armando de Oliveira, investiu na retirada dos homens. Mas, ao invés da ação ter sido apenas positiva, acabou iniciando a desistência de Arlindo pela jurisdição da vila, conforme contou Paulo Coelho Machado.

De acordo com os arquivos históricos que narram a constituição de Campo Grande, o responsável pelas forças policiais da vila, tenente Constantino de Souza, decidiu que havia se sentido desrespeitado por Armando de Oliveira.

Escola estadual, localizada na Avenida Júlio de Castilho, leva o nome do jurista. (Foto: Paulo Francis)
Escola estadual, localizada na Avenida Júlio de Castilho, leva o nome do jurista. (Foto: Paulo Francis)

Em uma ação que revoltou os moradores, no dia 27 de junho, cinco dias após a invasão, o tenente mandou prender o presidente da Câmara. Sem concorda com a ação, Arlindo, enquanto juiz, emitiu um habeas-corpus para Armando e, como resultado, ganhou seu próprio mandado de prisão vindo do militar.

Devido à revolta popular, a decisão do tenente foi de liberar tanto o vereador quanto o novo juiz. Para historiadores da narrativa regional, Arlindo se sentiu revoltado ao perceber que não seria tão tranquilo o exercício de suas funções.

E, em menos de dois meses de nomeação, se demitiu do cargo de primeiro juiz da Vila de Campo Grande. Na época, foi substituído por Vicente Miguel da Silva Abreu, também vindo de Nioaque.

Após renunciar, Arlindo passou a se dedicar como advogado e, em 1921, tomou posse como intendente, hoje o equivalente ao cargo de prefeito da cidade.

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