Lidar com a infertilidade leva casais à ansiedade e rombo no orçamento
No mês da Conscientização da Infertilidade mulheres contam sobre a jornada do sonho de conceber
A infertilidade é um problema na vida de casais que sonham em ser pais de maneira natural há mais de um ano. De acordo com dados fornecidos pela clínica de fertilização Fertiliv, em média 20% dos casais em idade reprodutiva apresentam dificuldades para engravidar, o que equivale a aproximadamente 8 milhões de pessoas no Brasil.
E não é um problema exclusivo feminino: ainda de acordo com a clínica, estimativas apontam que as chances de infertilidade feminina são as mesmas que as masculinas, pois em 40% dos casos o diagnóstico é da mulher, outros 40% nos homens e em 20% dos casos o fator de infertilidade pode estar nos dois.
Além da frustração de não conseguir gerar um filho naturalmente, casais passam por esse processo ainda tendo que desembolsar por vezes mais de R$ 15 mil. O valor inclui gastos envolvidos com consultas médicas particulares, medicamentos importados, procedimentos da fertilização in vitro e ainda tentativas que não dão certo.
No caso da advogada Patrícia de Barros Aragão, de 35 anos, que mora em Coxim, a 260 quilômetros da Capital, o orçamento quase duplicou o valor esperado. “Meu sonho já me custou um carro. Mas teve muito mais coisa, eu nem coloco no lápis pra não chorar”, brinca.
Patrícia e o marido tentaram por 10 anos conceber de maneira natural e após muitos exames, ambos não têm um diagnóstico do que pode causar o problema. Assim, surgiu a sugestão da fertilização in vitro e começou a jornada de consultas, exames e medicamentos.
“Eu comparo tudo isso à uma obra. Você começa com um orçamento X, mas sempre aparece mais coisas. O médico tinha me dito que eu iria gastar entre R$ 15 e 20 mil, mas foi muito mais, o tratamento é muito individual, depende muito de cada pessoa. E eu não sou abastada, então eu tive que me desdobrar. No caso, vendemos o único carro que a gente tinha. Mas sonho não tem preço”, expressa.
Patrícia fez o tratamento a princípio em São Paulo e ainda passou pela tristeza de não ter dado certo de primeira. “Depois que os embriões são fecundados, eles são implantados no seu útero. É como uma consulta ginecológica, dá pra ver tudo ali com a câmera, é muito engraçado. Depois vem os doze dias mais longos da sua vida, que é quando tem que esperar para ver se a implantação deu certo. No meu caso, deu certo, porém o embrião infelizmente não se desenvolveu”, detalha.
Agora os outros embriões estão congelados em São Paulo e Patrícia se organiza para trazê-los para Campo Grande e fazer mais uma implantação na Capital. “Eu imaginava que ia dar tudo certo de primeira, mas infelizmente não foi isso o que aconteceu. E a gente fica bem fragilizado, cria muita expectativa. Mas a gente mergulhou de cabeça, é nosso sonho”, comenta.
E há quem passe por tudo isso também por falta de diálogo a respeito da infertilidade. Foi o que aconteceu no caso da pastora Gisele Vilava, de 38 anos, que mora em Maracaju, a 160 quilômetros de Campo Grande.
“Foi só depois de 15 anos de tentativas que um ginecologista mencionou ajuda com um especialista de fertilidade. Até então, eu só achava que bastava eu tomar uma medicação, ou talvez fazer uma cirurgia, que eu conseguiria eventualmente conceber de forma natural”, detalha.
Gisele foi diagnosticada na adolescência com Síndrome do Ovário Policístico. “Quando eu casei, eu já sabia que isso iria influenciar, que eu teria dificuldade de ter filhos. Mas até então, nas minhas consultas, ninguém mencionava infertilidade. Só aos 35 anos que eu ouvi pela primeira vez de um médico que deveria buscar um especialista”, detalha.
Com a ajuda do especialista se descobriu então que Gisele não tinha apenas a Síndrome do Ovário Policístico, como também endometriose e que o marido dela ainda tinha problemas com a mobilidade e a qualidade dos espermatozoides. ““Foi um choque. É muito difícil, porque a cada exame que você vai fazendo, dá aquele medo. O medo ronda muito. E todo esse processo de 15 anos não foi fácil”, expressa.
De acordo com o ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana, Vitor Hugo Kussumoto, mulheres com menos de 35 anos devem procurar ajuda de um especialista após um ano de tentativas sem sucesso. “Quando a mulher tem mais de 35 anos ou alguma comorbidade diagnosticada que pode trazer dificuldades, a avaliação do especialista deve ser realizada após 6 meses”, detalha.
Gisele chegou a gastar todo dinheiro que tinha em exames e consultas particulares. E relata que, quando conseguiu o diagnóstico e afirmou-se que a fertilização in vitro seria a solução, já não tinha mais recursos. Foi quando ela conheceu o projeto da Fertiliv, “Gerando Sonhos”, que existe para que casais, frustrados com a infertilidade e sem condições de custear um tratamento, não desistam do sonho de ter um filho.
O projeto funciona assim: um casal de baixa renda fornece doações de óvulos para outros que não conseguem fazer a fertilização com óvulos próprios. Com o valor pago por esses casais que receberam as doações, é possível reduzir o custo do procedimento de quem trouxe as doações, tudo de maneira anônima.
“Quando eu contei minha histórias, minhas amigas se sensibilizaram, foi incrível. Agora estou só na fase de preparar meu útero para a implementação. Temos muita fé de que vai dar certo”, expressa Gisele.
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