Mãe viu arquitetura transformar rotina e sorriso do filho autista
A mãe e arquiteta Vanessa Costa, uniu profissão e vida pessoal para melhorar a qualidade de vida do filho
Mais do que uma formação, o diploma que Vanessa Costa, de 29 anos, tem tanto orgulho se transformou em projeto de vida: usar a arquitetura para ver o filho feliz. Nas redes sociais, compartilhamentos com textos sensíveis, mostram que os projetos da vida profissional também são dentro de casa.
As necessidades e os pedidos que Pedro, de 7 anos, embora nem sempre verbalize, ela como mãe sabe que a organização é uma delas. Por isso, tudo o que aprendeu nos estudos, na profissão, ela acaba empregando dentro do lar. Como a banheira, como a própria organização dos ambientes, a funcionalidade dos espaços.
Foi a maneira que ela encontrou de caminhar com o desenvolvimento do filho de maneira mais leve, desde que o diagnóstico veio aos 4 anos de vida. Por isso, a relação com a profissão dentro de casa se fez tão presente. “Como as pesquisas para o TCC (Trabalho de Conclusão de curso) eram intensas eu acabei me aprofundando em tudo que relacionava autismo em crianças e foi aí que me deparei com arquitetura inclusiva, respeitando cada indivíduo”.
De forma genérica, os autistas possuem uma percepção diferenciada dos espaços ao seu redor e, por este motivo, qualquer fator de desordem, pode levar a uma confusão mental ou regressão em tratamentos. Pensar nisso ainda é complexo porque não há apenas um tipo de autismo, mas várias nuances, o que leva Vanessa a estudar e entender o que cabe melhor para cada indivíduo e o filho.
Foi assim que encontrou um novo sentido para o uso da banheira em casa, não só para os momentos de relaxamento. “Quando eu vi um post do arquiteto Mauricio Arruda falando do ofurô, ele logo se conectou com o meu filho. Alguns autistas não conseguem tomar banho sozinho, mas conseguem entrar em piscinas e nadar bem, logo o problema não está na água, mas sim com a forma que é recebida na hora do banho. Quando o colocamos na banheira, ele consegue desenvolver os comandos e se lavar sozinho”.
Essa é uma das situações e medidas tomadas dentro de casa que a arquiteta compartilha com outras famílias. “O ponto mais importante que eu aplico aqui em casa é a organização, pelo menos nós tentamos, claro nem tudo sai como planejado todos os dias, mas essa rotina vem dando certo há algum tempo”.
O quadro de rotina exposto em casa para que ele consiga visualizar o que vem pela frente, por exemplo, é algo que tem ajudado muito Pedro a lidar com qualquer acontecimento. “Além disso a casa precisa estar organizada, para que ele consiga ficar organizado também”, explica a mãe.
Com o novo cenário, de famílias e filhos em casa, por conta da pandemia, Vanessa busca manter a rotina da escola e até mesmo do sono para que Pedro não se desorganize. “Claro que cada família tem a sua rotina, mas quando falamos de autistas, se quisermos ter algum progresso temos que abdicar de algumas coisas”. Ela acrescenta que reduzir o tempo que o filho fica conectado aos aparelhos eletrônicos o tornou mais conectado a família. “O comportamento dele muda quando fica muito em eletrônicos, ele fica mais nervoso, consequentemente mais ansioso também”.
A rotina de aulas também foi mantida, dentro de casa, mas Pedro optou por estudar através do “faz de conta que estamos em uma sala”, por isso, Vanessa organizou uma verdadeira sala de aula com mesas adequadas na varanda de casa e ela é a professora. “E incorporamos mesmo. Depois que começamos a fazer isso, na terceira semana da quarentena ele começou a fazer as atividades da escola. Ele dizia que a casa não era sala de aula. Com ele isso ele voltou à rotina”.
Há mais de um ano, Vanessa tem estudado uma forma de envolver a arquitetura com o autismo e com isso aplicar tudo o que aprende em casa. “Eu penso que não podemos seguir receitas prontas quando falamos de arquitetura em geral. Pois nós arquitetos projetamos para pessoas, por isso, eu acredito e estudos mostram o quanto é importante estudar a fundo para quem você está projetando, ouvir mais e se conectar mesmo com o cliente principalmente se tiver alguma necessidade especifica como o autismo. Pois ele não tem manual, cada autista é único, o que serve para influenciar e ajudar na evolução do meu autista em casa pode não servir para o outro. Acredito que a arquitetura deve ser pensada com mais sensibilidade por todos os profissionais”, finaliza.
Quem quiser acompanhar Vanessa e suas experiência com o filho, basta seguir a arquiteta no Instagram (clique aqui).
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