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Comportamento

Meninas vão para rua protestar contra o assédio dentro das escolas

Cerca de 50 estudantes, a maioria meninas, saíram da Praça dos Imigrantes com destino ao Centro da cidade em passeata

Thaís Pimenta | 13/09/2018 08:07
Segunda fase do encontro foi sair às ruas com dizeres sobre feminismo e contra o assédio. (foto: Thaís  Pimenta)
Segunda fase do encontro foi sair às ruas com dizeres sobre feminismo e contra o assédio. (foto: Thaís Pimenta)

"Eu estava na sala de aula, encostada na parede, e ele passou a mão da minha bunda", disse Jéssica* aluna do colégio particular Mace, de 17 anos, a respeito de um dos monitores do andar em que estuda no 3º ano do Ensino Médio. Foi este relato que motivou tantas outras estudantes, entre menores e maiores de 18 anos, à saírem às ruas do Centro de Campo Grande na tarde desta terça-feira (12), pedindo o fim do assédio dentro das escolas. 

O protesto foi entitulado como "Não me Kahlo", uma referência à pintora Frida Kahlo, que possui uma história de resistência dentro do feminismo. Organizado por Ingrid, uma adolescente, também menor de idade e estudante da Mace, sensibilizada com a história de Jéssica* e de tantas outras meninas que relatam casos semelhantes. "Essa história me motivou a criar um perfil no Twitter, o @Assediomace, em que relatei essas situações. Lá também pude criar um perfil no Curios Cat, uma rede social de perguntas e confissões, em que outras meninas relataram anonimamente os fatos que aconteceram com elas", conta.

Da internet elas foram para as ruas e se reuniram na Praça dos Imigrantes. A cada hora que passava, mais gente chegava, e até mesmo alguns meninos marcaram presença dizendo que as colegas poderiam contar com eles. Ao todo, eram cerca de 50 jovens, relatando de casos mais brandos, como um professor que pára a aula apenas para "olhar a bunda" da aluna, como os casos mais absurdos de violência infantil.

Todos os presentes minutos antes de irem para as ruas com seus cartazes em mãos. (Foto: Thaís Pimenta)
Todos os presentes minutos antes de irem para as ruas com seus cartazes em mãos. (Foto: Thaís Pimenta)

"Eu usava um uniforme, era um short saia, e eu era ainda muito pequena. Na aula de informática, quando eu tinha dúvida, ele sentava do meu lado, colocava a mão direita em cima da minha no mouse e a outra mão ele colocava dentro do meu uniforme, dentro da minha calcinha, e ficava mexendo com as minhas partes íntimas", disse aos prantos uma das meninas, que introduziu seu relato explicando que, na época, ela devia estar no ensino básico ainda, e que esta situação se arratou por pelo menos 4 anos.

Além da Mace, alunos da Funlec, Bionatus, Classe A e Nota 10 estavam ali, dividindo as angústias, e sofrendo um pouco mais a cada relato. "Os professores estão incomodados, os antieticos. Tem professor que pede 'nude' de aluna em troca de nota, que namora aluna mesmo sendo casado. Se já não fosse errado pelo fato de ele ter uma família, é ainda mais errado porque a namorada é menor de idade. E a cada ano que passa as histórias se repetem, é sempre a mesma coisa, e por isso essa reunião, esse momento, é importante. A gente tem voz. Eu estou aqui por elas, porque meu caso já foi resolvido, mas e o tanto de menina que não coragem de relatar? Ou que relatou e não foi defendida?", continua Jéssica*.

Cartazes foram colados na praça com reflexões.
Cartazes foram colados na praça com reflexões.

Gabriel é maior de idade mas, quando mais novo, também vivenciou abusos de um professor que passava a mão em seu corpo, na costas e até mesmo no bumbum. "Eu sou gay e, na época, achava que aquilo era normal,acho que essa sensação de saber que algo está errado mas pensa que é coisa da nossa cabeça é comum a todos que sofrem assédio dentro das escolas. Ainda é muito naturalizado, mas a partir do momento que ganhamos voz o movimento começa", diz.

A certeza da denúncia foi consentimento entre todos os presentes. "Vocês precisam falar sobre, expor o cara, seja na internet, no colégio, ir até a direção, ligar para o 180 caso seja mais grave, mas ficar calada não dá mais", sugere Ingrid.

Para encerrar a Não me Kahlo, as meninas levaram cartazes para as ruas e rodaram pelo centro da cidade até voltar para a Praça dos Imigrantes. Pintadas com frases empoderadas, símbolos do feminismo, entoavam juntas as frases: "Fundamental, ensino médio, na escola também tem assédio" e "A nossa luta é por rreséito mulher não é só bunda e peito".

Para os próximos encontros a intenção é reunir alunos de outras escolas, inclusive do sistema público da Capital. "Queremos que professores venham, que isso seja exposto, para que a gente derrube esses homens nojentos que continuam lá ganhando seus salários, ao lado de suas famílias", finaliza Jéssica*.

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*Jéssica é um nome ficctício da aluna que não quis se identificar.

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