Mesmo sem ceia, família não desiste de mudar o Natal de desconhecidos
Levando maior "bolo" dos amigos, casal de venezuelanas gastou o que tinha e fez jantar para moradores de rua
Ter um Natal farto era o maior desejo de Francis Luzmar Vivenes Llovera e da esposa Beatriz Adriana Rondon. Mas a dificuldade com a venda de pães não deu outra alternativa. O jantar em casa foi simples, com três frangos assados e massa venezuelana. No entanto, nem as dificuldades impediram a família de dividir a refeição com quem mais precisa.
No momento mais delicado das pessoas que cresceram ouvindo que Natal é um momento em família, o casal de venezuelanas, que há três anos vivem em Campo Grande, abriu mão da própria ceia para transformar a noite de quem elas nem conhecem.
Com o pouco que tinha no bolso, o casal produziu 45 marmitas na noite de Natal e saíram às ruas na companhia dos filhos para entregar aos moradores em situação de rua no Centro de Campo Grande.
O gesto de solidariedade já é uma tradição na vida do casal, que já chegou a produzir 300 marmitas na noite de Natal quando viviam na Venezuela. Ano passado, em Campo Grande, foram mais de 100 jantares. Mas, desta vez, as dificuldades financeiras só permitiram a produção de 45.
Francis diz que muitas pessoas prometeram ajudá-la com doações para que a ceia dos moradores fosse maior, mas ninguém cumpriu a promessa. “O dinheiro que eu tinha comprei o que pude e o pouco que recebi em dinheiro eu consegui comprar os frangos”, conta.
Mesmo assim, o casal preferiu não desistir. Na tarde de ontem (24), o gás de cozinha estava no limite, mas ela também tinha esperança que ele duraria até o final do preparo das receitas. “E deu certo, conseguimos fazer as marmitas”.
A família jantou e, em seguida, saiu às ruas. Além da entrega, o casal e os filhos distribuíram palavras e abraços. “Meus filhos não tiveram nem presente de Natal, mas todos ficaram felizes. A gente sempre gosta de pensar pelos outros”.
Em um dos abraços, Francis diz que o maior presente foi o sorriso de um morador em situação de rua. “Senti que foi um abraço caloroso, ele precisava daquele abraço”.
A família está em Campo Grande há 3 anos. O casal chegou ao Brasil após 40 dias pegando carona e viajando a pé. Foram meses vivendo em um abrigo de Boa Vista (Roraima) até surgir uma oportunidade de trabalho em Campo Grande.
Francis se mudou primeiro, depois veio a esposa com os filhos. No início da pandemia de covid-19, Francis perdeu o emprego, mas usou o dinheiro acertado para comprar um forno e produzir pães e massas venezuelanas, como as halhacas. “Hoje nós vivemos de vender pão e não gostamos de pedir nada para os outros. As vendas não estão fáceis, infelizmente, mas a gente continua lutando e trabalhando”, finaliza.
Quem quiser encomendar os pães ou divulgar o trabalho de Francis e Beatriz, o telefone para contato é (92) 98178-8306.
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