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Comportamento

Mistura faz do Carnaval de Campo Grande a folia de muitas tribos

Mesmo com tantos sons diferentes, o respeito reinou entre os amantes do dub reggae, dos roqueiros mais alternativos e até entre os funkeiros

Thaís Pimenta | 12/02/2018 06:20
A cada 500 metros uma identidade diferente, com um som característico, esse é o Carnaval de Campo Grande. (Foto: Paulo Francis)
A cada 500 metros uma identidade diferente, com um som característico, esse é o Carnaval de Campo Grande. (Foto: Paulo Francis)

Desde que os bloquinhos fizeram a cabeça da galera, a região central de Campo Grande ganha novos ares quando entra o Carnaval. A mistura de gente de todos os tipos, estilos e idades fica evidente, especialmente na rua Calógeras, que nos primeiros dois dias de festa foi palco para o Cordão Valu, o Tropicanapa e o Rockers. Isso sem contar as duas esquinas fixas para o underground na Antônio Maria Coelho.

Bastava andar um pouco pra ver como o Carnaval campo-grandense mudava de característica a cada 500 metros. Depois do cortejo, da Mato Grosso pra lá, os mais jovens faziam a festa. Pra cá, a esquina com a segunda principal avenida da cidade era palco para o reggae sound system, enquanto que um pouco mais pra frente, a galera mais diferentona curtia um rock'n roll no Holandês Voador. Depois da meia noite essa mesma rua foi tomada por carros de som com funk no volume máximo. O respeito imperou em quase 100% dos momentos.

Para o músico Magno Abreu, que estava curtindo o baile do Rockers na esquina da Orla Ferroviária, o reggae tem espaço garantido a qualquer momento do ano e, em sua opinião, o sound system substitui muito bem o antigo  Carnaval das marchinhas. "Meu Carnaval é isso aí. Eu não vim pra curtir a festa pra lá, vim pra ficar aqui e dançar o sound que tá sendo feito aí pelo Manciba e pelo Daniel. Estamos com poucos espaços para a nossa música então estamos ocupando a rua", diz.

O casal Felipe Barreto e Bruna Alencar também estavam ali pela música. "Além dessa região aqui estar mais calma pra curtir, é o estilo de música de todas as que estão por aí que a gente mais gosta. E o reggae tem isso, essa vibe diferente mesmo, tanto é que tá atraindo tanta gente que podia estar lá curtindo outra coisa. É legal ver que tem espaço pra todo mundo e que essa divisão é natural", comentam.

Para o acadêmico de jornalismo Junior Fernando, de 21 anos, o bloquinho do Rockers carrega uma história de resistência então é natural que as mesmas pessoas que curtiam o dub reggae dentro do antigo bar agora esteja tomando as ruas. "É importante que a gente note que Campo Grande ficou grande e tem todo um potencial imenso pra fomentar todos os tipos de cultura. Carnaval combina sim com reggae e, mais do que isso, a cidade combina com tudo. E a gente está aqui, valorizando esse cenário tão histórico que é a Esplanada". 

Galera do reggae estava ali pra curtir a música. (Foto: paulo Francis)
Galera do reggae estava ali pra curtir a música. (Foto: paulo Francis)

Uma esquina a frente, dava pra ouvir um som rock'n roll, com ares mais punks, vindo de dentro do bar Holândes Voador. Em frente, o Resista estava com as portas abertas mas sem funcionamento na parte interna, só vendia cerveja para a galera que estava por ali. 

Quem é de Campo Grande e já teve a oportunidade de visitar essas mesmas esquina em outros momentos observava as mesmas pessoas curtindo o rolê na rua, conversando entre si. Se não fosse a galera fantasiada, não daria pra saber que estávamos ali justamente no Carnaval, parecia mais um dia normal. Isso ficou explícito para a professora Patrícia Souza, de 25 anos, que estava encostada em frente ao Resista. "Acho que essa divisão é uma questão de afinidade mesmo. Você sempre vai querer ficar perto de seus amigos, que vão estar perto de outros, e acho que é, no fim das contas, é uma questão de tribos".

Para a drag queen Marineusa Joana, esse processo de separação é natural e faz parte da cena que a Capital vive. "Por mais que essas duas esquinas aqui comportem pessoas de necessidades e estilos diferentes, essas pessoas não interagem entre si, elas ficam em seus locos de conforto, isso não só no Carnaval. A gente não sai da nossa zona de conforto sabe, isso é ruim em certo ponto", comenta.

O dono do Holandês Voador, George Van Der Vem, de 31 anos, a mistura têm sido muita até em dias normais no bar e isso é uma característica do underground, que vai se moldando conforme as necessidades de quem consome o estilo. "E isso é muito bom pra gente, pro músico, e pessoalmente também. Rola um intercâmbio positivo, um intercâmbio cultural", finaliza.

Marineusa Joana e Patrícia. (foto: Paulo Francis)
Marineusa Joana e Patrícia. (foto: Paulo Francis)
Dentro do Holândes, o estilo que comandava o bar era outro. (Foto: Paulo Francis)
Dentro do Holândes, o estilo que comandava o bar era outro. (Foto: Paulo Francis)

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